Gonçalo Baptista(Innovarisk):Segurar riscos onde outras seguradoras não se metem

Representando a Hiscox e procurando na Lloyd's cobertura para riscos originais, a Innovarisk cresceu 24% no primeiro semestre deste ano. O diretor geral explica o que é e o que faz esta MGA.

O primeiro semestre deste ano foi muito positivo para Innovarisk. A empresa teve um crescimento dos negócios de 23,9% atingindo 5,7 milhões de euros revelou Gonçalo Baptista, sócio e diretor geral da empresa, em entrevista. O gestor e investidor é licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE e começou a trabalhar em seguros há 20 anos, primeiro como gestor de contas na Tranquilidade em 1998, depois no Grupo Villas-Boas, onde se iniciou a actividade da Hiscox em Portugal. Em 2006 abriu o escritório da Hiscox onde foi director geral até 2013. Nesse mesmo ano abriu a Innovarisk, uma Agência de Subscrição que representa a Hiscox em Portugal e que desenvolve também a atividade para seguradoras participantes em Lloyd’s. A empresa é conhecida no mercado por aceitar riscos especiais e também riscos originais sugeridos por clientes de patrimónios elevados.

Gonçalo Baptista: “Ao fim de quase 17 anos em Portugal, tanto na Hiscox como agora na Innovarisk, nunca perdemos um processo em tribunal, o que ilustra bem a justeza das nossas decisões”

A Innovarisk afirma-se como uma MGA (Managing General Agent). O que faz concretamente?

A MGA é, em termos jurídicos e na generalidade dos países, um mediador de seguros com funções diferentes do mediador tradicional. Ao contrário do mediador tradicional, as MGA’s ajudam uma (ou mais) seguradoras a desenvolver a sua atividade, enquanto o mediador tradicional é uma figura independente que aconselha os clientes e vende-lhe a solução que julga ser a mais apropriada.

As MGA permitem que seguradoras se possam estabelecer em Portugal sem necessidade de presença física e custos fixos?

As MGA’s têm diversas vantagens face às Seguradoras e essas duas são importantes: a inexistência de Custos Fixos para a Seguradora, permitindo maior agilidade nas decisões estratégicas ou o facto de não necessitar de se preocupar com a abertura de um escritório próprio, usando a MGA e respetivo escritório para desenvolver a sua atividade.

"a possibilidade que oferecemos às seguradoras estrangeiras é terem uma entrada fácil no nosso mercado e com elevados padrões de profissionalismo”

É uma aposta na agilidade?

A MGA é também uma estrutura bastante mais pequena e por isso mais ágil, e mais focada no consumidor e na qualidade do serviço, enquanto numa grande empresa, como são as seguradoras, há uma estrutura pesada e com ela muitas questões de governance, compliance interno, hierarquias, entre outras. A solução MGA é bastante usada por seguradoras quando, por exemplo, querem testar a atividade em novos países ou testar novos produtos ou experimentar novas plataformas tecnológicas, que estão cada vez mais a revolucionar o setor segurador. É essa a possibilidade que oferecemos às seguradoras estrangeiras: Terem uma entrada fácil no nosso mercado e com elevados padrões de profissionalismo.

A Innovarisk assume diferentes papéis na cadeia de valor. É subscritor em nome da Hiscox e também pode subscrever da Lloyd’s?

A Innovarisk, como agência de Subscrição ou MGA, pode atuar com diferentes níveis de autonomia das Seguradoras. No nosso caso, consoante a Seguradora (Hiscox ou alguns dos Seguradores no mercado de Lloyd’s com quem trabalhamos) existem diferentes níveis de autonomia. Ainda assim em todas elas fazemos praticamente toda a cadeia da relação entre a seguradora e o mediador ou cliente final. Fazemos a definição das apólices e respetiva cobertura e preço, a regularização de sinistros, a cobrança dos prémios, os esforços de venda e marketing. Variam depois alguns tipos de serviços, como a própria relação com regulador português, a possibilidade de representação em concursos públicos, o desenvolvimento da atividade total ou apenas em alguns ramos de seguro e a possibilidade de aceitar valores seguros muito elevados sem consultar as Seguradoras.

Na generalidade, fazemos a grande maioria do trabalho das seguradoras, funcionando na prática como se fôssemos o escritório deles em Portugal, sendo que no caso da Hiscox somos mesmo.

A regularização de sinistros também é parte das funções. Em que termos e de que modo? As indemnizações são pagas pelas seguradoras ou pela Innovarisk?

Varia de Seguradora para Seguradora. Temos autonomia total para decidir e regularizar mais de 80% dos sinistros que temos em carteira. Isto é crucial porque o serviço local de sinistros é uma bandeira nossa. É quando os segurados mais necessitam de uma resposta simultaneamente conhecedora do mercado local e ágil, que temos de estar empossados da capacidade de agir e decidir. Se houver um problema com uma peça de arte portuguesa ou se for necessária uma rápida contenção de um desastre ambiental, só para citar dois exemplos bastante distintos, é necessária uma equipa local de especialistas e nós temos esse know-how e ligação a prestadores nacionais de excelência. Na Innovarisk medimos a satisfação de todos os nossos sinistrados e a média de satisfação ronda os 9,5 numa escala de 0 a 10 e, ao fim de quase 17 anos em Portugal, tanto na Hiscox como agora na Innovarisk, nunca perdemos um processo em tribunal, o que ilustra bem a justeza das nossas decisões.

Qualquer mediador ou corretor pode recorrer à Innovarisk?

Sim, desde que nos ofereça garantias de solidez financeira e de que cumpra os requisitos para a atividade de mediação. Durante muitos anos trabalhámos com uma rede muito restrita porque, ao sermos uma unidade de especialistas, necessitamos que os nossos distribuidores sejam também especialistas, para que esse conhecimento chegue ao consumidor final.

Em 2018 criámos com bastante sucesso o projeto Innova-Go, onde qualquer mediador pode aceder a diversos materiais e às acções de formação que damos (todos os meses realizamos uma ação em Lisboa e outra no Porto, o que valoriza bastante a nossa rede). Assim viabilizamos que outros possam distribuir também os nossos produtos, não nos limitando a uma rede tão restrita.

A rede está ainda a ser construída?

Precisámos de tentar primeiro com uma pequena rede de 50 corretores e mediadores para agora conseguir dar um passo de formar mais. Temos já nos nossos planos também fazermos formações através de webminars, para que possamos chegar a um auditório ainda mais vasto. Num mercado com um fraco nível de especialização, devido essencialmente a problemas de dimensão, estamos numa posição privilegiada de passar conhecimento e esse e um desígnio que temos de levar a sério. Queremos contribuir para uma melhor cultura de gestão de risco no nosso país.

"A nossa experiência diz-nos para pensarmos mais em quem estamos a segurar do que o que estamos a segurar. Isto para dizer que estamos confortáveis com quase qualquer risco desde que o cliente seja uma pessoa ou empresa que nos ofereça a máxima confiança”

Aceitam todos os riscos, mesmo os muito específicos?

Gostamos de ser pioneiros em Portugal e segurar áreas onde as outras Seguradoras não se metem. A nossa experiência diz-nos para pensarmos mais em quem estamos a segurar do que o que estamos a segurar. Isto para dizer que estamos confortáveis com quase qualquer risco desde que o cliente seja uma pessoa ou empresa que nos ofereça a máxima confiança. Essa é uma das chaves da inovação quando se vende risco: confiar nos clientes. Fomos os primeiros em Portugal a segurar habitações e obras de arte numa estrutura todos os riscos, a segurar o incumprimento contratual na Responsabilidade Civil Profissional, a garantia de alguns produtos industriais ou o sucesso da Seleção Nacional de Futebol, só para dar alguns exemplos.

Não há limites para os riscos a segurar?

Nunca é possível segurar todos os riscos, porque há restrições do mercado ressegurador e porque há riscos morais que não queremos segurar, mas somos a unidade Seguradora em Portugal com mais apetência para riscos fora do standard.

Quais as seguradoras a quem apresentam esses riscos?

Em mais de 99% dos casos, trabalhamos com a Hiscox ou com seguradoras do mercado de Lloyd’s, porque são as que nos oferecem maiores garantias de prestarmos um serviço de excelência, têm um rating financeiro bastante sólido e partilham do nosso ADN da inovação. São também seguradoras que nos ensinam bastante e isso é importante para nós.

Quantas pessoas trabalham na Innovarisk? Quais as competências que têm “em casa” e quais as que têm em outsourcing?

A equipa atual tem 19 pessoas que exercem toda a atividade seguradora. Subcontratamos a generalidade dos serviços que as outras seguradoras também subcontratam, como sendo os advogados, peritos, analistas de risco, seguradoras de assistência, gabinetes de comunicação, especialistas em cyber segurança, no fundo as áreas não core, mas necessárias à prestação do serviço. Na maioria desses casos com a preocupação acrescida de escolher ou formar subcontratados especialistas, visto trabalharmos fundamentalmente com nichos de mercado que têm necessidades específicas. Não colocamos um perito de seguros convencional a avaliar uma obra de arte porque isso não faz qualquer sentido.

"As Seguradoras britânicas já todas fizeram o Brexit porque não podiam ficar à espera das indefinições dos políticos. Todas elas deslocalizaram a sua atividade Europeia para um país da UE, naturalmente em prejuízo do Reino Unido, que perdeu assim uma importante fonte de receitas”

O Brexit é uma preocupação?

As Seguradoras britânicas já todas fizeram o Brexit porque não podiam ficar à espera das indefinições dos políticos. Todas elas deslocalizaram a sua atividade Europeia para um país da UE, naturalmente em prejuízo do Reino Unido, que perdeu assim uma importante fonte de receitas. Isto trouxe muito trabalho acrescido e alguns custos adicionais, que inevitavelmente impactaram também a Innovarisk embora, também aqui, muito menos do que impactaria as seguradoras se as mesmas estivessem a operar em Portugal através de escritórios próprios.

No que concerne à normal atividade seguradora não é uma preocupação, julgo que as pessoas percebem que isto foi fundamentalmente um movimento político e popular. Como resultado deste processo, os clientes lidam agora com seguradoras registadas em territórios dentro da União Europeia, aumentando de alguma forma a proximidade com os nossos clientes em vez de afastar, que poderia ser um dos receios do Brexit.

Pergunta inevitável: Que seguro foi feito relativamente ao sucesso da seleção nacional de futebol? Qual o desfecho?

Não podemos divulgar nomes de clientes nem os seguros que fazemos, pelo que não posso dar grande detalhe. Fizemos um seguro para um cliente que nos pediu para segurar a performance da seleção portuguesa no último Campeonato do Mundo de Futebol, porque tinha uma campanha comercial que dependia desse sucesso. Não posso revelar mais que isto.

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