Em entrevista ao ECO, a líder do CDS rejeita que o Bloco Central seja uma alternativa. Cristas diz que CDS e PSD convergem no essencial, mas não deixa de mandar recados para o partido de Rui Rio.
Na semana do frente-a-frente televisivo com Rui Rio, a líder do CDS defende, em entrevista ao ECO, que o Bloco Central não é a alternativa de que o país precisa e vinca as diferenças face ao PSD no que toca ao posicionamento político. Assunção Cristas admite que parece haver uma tendência para o país “tombar” à esquerda.
Quais são as principais diferenças entre os programas do PSD e do CDS?
Não fiz essa análise. A minha preocupação é contrastar o programa eleitoral do CDS com o do Partido Socialista e das esquerdas. Porque nós estamos aqui para ser alternativa ao Partido Socialista, a uma lógica de esquerda e a um país que aparentemente parece estar tombado para a esquerda.
As sondagens dizem isso…
Sabem qual é a nossa leitura sobre as sondagens. Não as subscrevemos. Na aparência parece que há uma tendência de tombar à esquerda. Fala-se da maioria absoluta, sim ou não, até se fala de dois terços. Sendo que uma coisa e outra andarão de mãos dadas. Se houver um reforço do PS e os outros [partidos da esquerda] também, isso favorece uma maioria mais robusta à esquerda. Não me parece que isso vá acontecer.
Isso é um perigo?
Acho mesmo que é um perigo para a democracia. Porque uma democracia madura não tem esta radicalização, este extremismo ou esta inclinação tão forte para um lado. É preciso reequilibrar e mostrar que há alternativas, outras formas de governar e outras prioridades. É essa a preocupação do CDS. O que nós queremos construir é uma maioria de centro direita. A minha preocupação é fazer o contraste com o outro lado que é o das esquerdas.
O país não estava desequilibrado quando tombou para a direita?
Não, porque continuámos a ter uma diversidade à esquerda. O que temos agora é esquerda muito radical a influenciar a governação de uma forma significativa. Aquilo que considero relevante é haver uma alternativa de centro direita que possa com equilíbrio fazer o que não foi feito nestes anos. Obviamente que há temas que para o CDS são muito importantes e que se calhar para o PSD são menos e vice-versa. Por exemplo a regionalização. Nós somos pela descentralização e o PSD é pela regionalização.
O CDS é oposição ao Governo, mas não é ao PSD que vai buscar votos? Pensa que o CDS pode ir buscar votos ao Bloco de Esquerda, ao PS ou ao PCP?
A minha preocupação é precisamente dizer a todas as pessoas – eu não sei de onde elas vêm, não sei de onde vem o voto, o importante é que o voto venha e vem pelas ideias. Em democracia é assim. É por isso que este é um tempo tão importante – em que nós explicamos ideias, prioridades. No fundo, estabelecemos através do programa eleitoral um compromisso com as pessoas e o que dizemos é que quanto mais força tivermos mais capacidade temos para apresentar as ideias.
O país está a virar à esquerda, como diz. O que isso diz dos líderes do CDS e do PSD?
No meu caso diz que ainda não fomos capazes de explicar decisivamente por que é que faz sentido votar no CDS e é isso que tenho de me empenhar a fazer nestas cinco semanas que nos levam até às eleições. Durante quatro anos tivemos um trabalho de oposição muito dura e forte e acho que era essencial fazer. Muitas vezes sentimos que estávamos sozinhos a fazer um trabalho de oposição dentro e fora do Parlamento.
Mas o que se discute é a viragem à esquerda…
Estar a assumir resultados – eu sei que vêm das sondagens, algumas feitas em agosto que me permite duvidar ainda mais – sem nós podermos explicar as nossas prioridades é antecipado. Este é o tempo de trazer as propostas. Acredito que para muita gente faz sentido termos a consulta de especialidade a tempo e horas, independentemente de quem é o prestador concreto, se é público, se é social, se é privado. Faz sentido termos uma ADSE aberta a todas as pessoas. Faz sentido um IRC na linha da Irlanda e um IRS a reduzir em 15%. Faz sentido olharmos para a justiça como um tema muito importante em vários domínios nomeadamente na parte que nos permite libertar a economia, mas também numa parte muito importante que é a corrupção, para a qual temos uma verdadeira estratégia nacional de combate à corrupção.
Subscreve a ideia do PSD de alterar a composição do Conselho Superior de Magistratura?
Deve haver um conselho superior do poder judicial, o que implica uma revisão da Constituição para fundir o Conselho Superior de Magistratura e os tribunais administrativos e fiscais. Entendemos que deve haver membros designados pelo Presidente da República para reforçar a independência do órgão, mas deve haver uma maioria de magistrados porque isso é o que corresponde às melhores recomendações internacionais para garantir que a justiça é independente. No combate à corrupção há afinamentos legislativos que é preciso fazer. Como, por exemplo, no estatuto do arrependido que tem ser reforçado ou na criação da figura de denunciante só para dar dois exemplos e, já agora mais um que esteve quase para ser criado nesta legislatura e que foi iniciativa do CDS, mas que não passou no final por causa do PSD, que tem a ver com o lobby. Entendemos que é absolutamente central para dar transparência a todos os processos, que se saiba com toda a legitimidade que entidades reuniram, com quem, em cada momento do processo legislativo.
Está sempre implícito no discurso do CDS que o PS é um partido mais atreito à corrupção?
Não é isso que está subjacente. Todos os partidos têm de contribuir para este combate à corrupção. Agora há casos públicos judiciais que se arrastam e que não vou detalhar. É importante que tenhamos uma justiça com eficácia que não arraste mega processos.
Percebe por que é que o caso BES se arrasta sem acusação há cinco anos?
Não conheço, nem posso conhecer os detalhes do processo. É muito tempo para termos uma decisão, porventura devido à complexidade do processo. Por ventura, mais vale partir processos.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) depois de capitalizada está a cumprir o seu papel como banco público?
O CDS é defensor de uma Caixa pública, porque é relevante para estabilização do sistema e sendo um banco público tem uma obrigação de puxar pela nossa economia.
Nesse ponto não se difere dos outros partidos….
Tenho ideia que o PSD defendia uma CGD privada. Foi um ponto de negociação entre o PSD e o CDS. Entendemos que deve haver uma missão clara da CGD de apoio ao tecido empresarial, de proximidade às empresas, de fomento da nossa economia.
Mas faz uma avaliação positiva hoje?
A Caixa pode trabalhar melhor. Neste momento, o negócio da banca é difícil, com taxas muito baixas. Mas a Caixa tem de fazer mais pela nossa economia e pelas nossas empresas, sobretudo numa altura em que cada vez temos menos bancos a operar.
Como seria feito?
Esse é um trabalho que tem de ser o Governo a fazer. O escrutínio seria feito pelo Governo e pelo Parlamento. É trabalho do Governo definir a missão da CGD.
Tem falado com Rui Rio?
Não temos falado. Vamos falar agora na quinta-feira.
Aí vão debater…
Vamos conversar. Vamos ter um frente-a-frente. Mas nós convergimos no essencial. O essencial é saber que estamos a trabalhar para uma alternativa de centro direita em Portugal. Do lado do CDS, o posicionamento é claro e inequívoco. O CDS vê-se como parte dessa alternativa e quer contribuir o mais possível para essa alternativa. Acabando o voto útil em 2015, o que nós temos de explicar é quais são as nossas propostas e por que é que faz sentido votar no CDS. Pelas propostas e por aquilo que nós faremos com essas propostas. Estamos aqui para uma política alternativa de centro direita a não para apoiar qualquer solução de esquerda.
Vai ser uma espécie de pré-preparação para a possibilidade de um entendimento pós-eleitoral?
Um entendimento pós-eleitoral não é difícil entre dois partidos como o PSD e o CDS que têm uma história em comum e um futuro que podemos construir em comum. No caso do CDS é particularmente claro, porque não nos vemos a fazer entendimentos com o PS.
No caso do PSD não é assim tão claro…
Terão de lhes perguntar. Publicamente, já foi assumido, mais que uma vez, que se fosse necessário – não era o primeiro cenário – podiam dar esse apoio. Não é o caso do CDS. Portanto, o CDS está particularmente confortável e claro neste posicionamento. Queremos mesmo uma alternativa para o país e achamos que também não passa por um Bloco Central.
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“Queremos uma alternativa para o país. Achamos que não passa por um Bloco Central”
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