Formação em Seguros na era da Inteligência Artificial

  • António Augusto Fernandes
  • 8 Outubro 2019

António Augusto Fernandes analisa a nova vaga de formação que, por imperativos legais, se tornou agora necessária para todos os profissionais de seguros, para os novos e para os antigos.

No princípio era o Verbo (João 1:1). Estas sábias palavras do livro dos livros remetem-me para uma reflexão com base na minha experiência de 45 anos, como ator e especialista na Formação Profissional e colocam-me perante dois axiomas essenciais ao mundo do saber, do trabalho e da segurança das pessoas:

1. A formação profissional inicial devia ser obrigatória em todas as profissões, bem como a formação contínua de atualização, por períodos que, no máximo poderão ir até cinco anos. Estas deviam ser exigidas a todos os que trabalham, especialmente, nas profissões que colocam em risco os outros, sabendo-se que o perigo não será só o da integridade física e psicológica, mas também no que concerne aos bens, à estabilidade emocional e ao bem- estar;

2. A Formação Profissional, só será digna desse nome, se durante e no fim da mesma existirem meios de prova que confirmem que os conhecimentos e as competências foram adquiridos; chamemos-lhes testes, exames ou processo de observação.

Estes dois postulados têm sido sempre a “trave mestra” da minha atuação como formador, investigador e professor universitário, ou seja, colocar totalmente em dúvida sistemas onde a formação seja deixada ao livre arbítrio do trabalhador ou da organização e processos onde se diz: frequência da ação de formação. Será o mesmo que dizer: “aprendizagem” sem avaliação ou sem a comprovação dos conhecimentos ou das competências alcançadas.

Formação Profissional Obrigatória

Esta reflexão vem a propósito dos Estados, mesmo os da UE, não exigirem aos profissionais, formação inicial e contínua obrigatória na maioria das profissões. Podem contar-se pelos dedos das duas mãos, aquelas onde tal exercício será obrigatório: seguros, farmácias, contabilidade, técnicos de segurança, motoristas profissionais, centros de inspeção, treinadores e poucas mais, muito embora a União Europeia tenha vindo a promulgar Diretivas para acabar com este caos, que coloca em perigos todas as pessoas, a começar pelos próprios profissionais.

Desde 2007, com base no Decreto-Lei 144/2006, de 31 de julho, que o setor dos Seguros foi obrigado a realizar a formação inicial de mediadores e agentes, com ações obrigatórias, presenciais ou de eLearning, mas com um processo final que lhes dá a credibilidade máxima: exame presencial. Ao longo destes 12 anos, a entidade reguladora (Instituto de Seguros de Portugal), atualmente, ASF, sempre teve uma atuação pautada pela qualidade, rigor e fiscalização, o que deu a esta área total credibilidade, principalmente, quando comparada com a outra parte do Setor Financeiro, a Banca, e com quem tem a missão de a regular, em especial, após o subprime. Todos sabemos o que aconteceu.

Com a Diretiva (EU) 2016/97, que veio dar lugar à Lei 7/2019, de 16 de janeiro, a União Europeia veio colmatar a falha que existia no sistema, consubstanciada na ausência de Formação Profissional Contínua, obrigando que os mediadores, agentes e empregados das empresas que trabalham com seguros, passem a ter 15 horas anuais de formação e aperfeiçoamento profissional contínuo, o que vem colmatar o erro da anterior Diretiva 2002/92/CE, que só exigia a formação inicial.

Está de parabéns a União Europeia, o Estado português e a ASF por, finalmente, colocarem aquilo que a Pedagogia ensina há muitas dezenas de anos, mas não há bela sem senão, pois além da formação inicial que já vem de 2007, passou a ser obrigatório que, anualmente, todos os que trabalham com Seguros, tenham de realizar formação contínua, todavia, o legislador abriu um procedente grave, ao permitir que estas ações obrigatórias sejam validadas apenas atestando a frequência das mesmas, pois o profissional pode estar a dormir ou com o cérebro noutro lado e, implicitamente, está-lhe a ser outorgado conhecimento.

Compreendo que o legislador, nesta fase de mudanças significativas, devido aos largos milhares de pessoas que têm de realizar esta formação, tenha tido o “bom senso” de abolir a avaliação, pois constatou que tal medida seria muito difícil ou até não exequível; quer dizer, seguiu o velho princípio do mal menor: a entidade formadora atesta que o formando possui o conhecimento, logo, este deve possuir mesmo, no entanto, quando passar esta vaga de formação, na minha opinião de pedagogo experiente, a ASF deverá alterar a Norma Regulamentar 6/2019-R, de 3 de setembro, de modo a exigir avaliação para a formação contínua de 15 horas por ano, senão, esta não terá nenhuma validade.

A Formação Profissional em Seguros na era da Inteligência Artificial

Estamos quase a terminar o 1º quartel do século XXI e a formação profissional nos Seguros, como nas restantes áreas, pouco difere da formação realizada na Academia de Platão ou no Liceu de Aristóteles, há mais de 2.500 anos, onde pontuava o triângulo: Formador – Formandos – Quadro, podendo ser este último em ardósia, cerâmico, eletrónico, LCD ou um projetor de PowerPoint. O mundo mudou, mas a aprendizagem teve pouca evolução; mesmo naquelas entidades que dizem possuir hodiernos sistemas de formação, denominados de eLearning: usam a Moodle (LMS), onde colocam sem interação, sem estimulação sensorial, o que é um sério aborrecimento para quem tem de aprender os conteúdos, que mais não são do que textos, PowerPoint com algumas voz-off e diversos testes de escolha múltipla. Pode parecer evolução, mas de todo não é.

A Plataforma NetForma, que criámos há 20 anos, está em constante mudança. Não será um LMS (Learning Management System), mas uma Escola Virtual, que mede os Estilos de Aprendizagem e Inteligência Emocional, quiçá, Inteligências Múltiplas e Personalidade, bem como avalia através de um algoritmo matemático estatístico; do âmbito da Inteligência Artificial, aferindo e validando as perguntas, de modo a que elas sejam instrumentos fiáveis para medir o conhecimento, bem como, recorrendo a Aulas Práticas, treinarmos e avaliarmos as competências.

Já passaram pela Plataforma NetForma uns largos milhares de formandos do setor dos Seguros, e com eles, através de múltiplos modelos de avaliação desta ferramenta eletrónica, fomos aprendendo como conseguir desenvolver sistemas periciais, que ajudam o formando a aprender a aprender. Fomos conhecendo os seus percursos de pensamento e de aprendizagem, de modo a oferecer-lhes as aulas práticas adequadas à sua forma de agir e de pensar. Em resumo, nenhuma entidade formadora em Portugal e poucas no mundo conseguem obter os nossos resultados, sejam eles quantitativos ou qualitativos, com graus de satisfação de mais de 90% e índices de reprovação e de desistência baixíssimos.

  • António Augusto Fernandes
  • Partner e CEO da DLC – Distance Learning Consulting, Professor universitário na UCP - Universidade Católica Portuguesa, no Instituto Superior de Gestão Bancária e na EBS – Extremadura Business School

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