Simões de Almeida (Marsh) “O trabalho remoto vai ser cada vez mais bem aceite pela sociedade”

Rodrigo Simões de Almeida, CEO da corretora Marsh, acredita que o trabalho remoto vai agora ser bem aceite no meio dos negócios e que a crise melhorou a comunicação na sua multinacional em 130 países.

Com vida profissional no setor financeiro na Suíça e em Espanha, durante vinte anos, poderia dizer-se que Rodrigo Simões de Almeida, CEO da corretora Marsh em Portugal desde 2015, já tinha vivido situações difíceis, mas nunca – como quase todos – uma pandemia que parou o mundo. “Vivi situações de forte crise com enorme incerteza, em todas elas aprendi muito e acabei com maior capacidade para enfrentar os próximos desafios”, diz. Pensa que desta vez, será semelhante.

A Marsh é a maior corretora de seguros do mundo e a terceira maior em Portugal, e, apesar de consultora de risco, confrontou-se com este coronavírus que ninguém previa, pelo menos a esta escala. No entanto, já tinham recebido o impacto da Covid-19 em várias geografias, “havia avisos internos suficientes”, refere Simões de Almeida, que está a trabalhar a partir de casa. A Marsh Portugal pertence ao Grupo Marsh & McLennan Companies que se define como “global em serviços profissionais nas áreas de risco, estratégia e capital humano” e que também inclui a Guy Carpenter, a Mercer e a Oliver Wyman. No total são mais de 130 países e mais de 76 mil pessoas.

Por ser global, já a Marsh Portugal tinha um plano de contingência que incluía qualquer situação que pudesse provocar uma interrupção do negócio, reduzindo os imprevistos à “enorme dificuldade de acesso a álcool gel, muito importante para diminuir o risco de contaminação no escritório”. Por outro lado, todos os colaboradores da Marsh já tinham computador portátil, permitindo uma transição suave para o trabalho remoto.

A Marsh iniciou o trabalho a partir de casa, para toda a equipa, logo no dia 13 de março, mas antes disso, “já tínhamos em alerta e funcionamento os comités de crise e instalado todas as medidas possíveis de proteção aos nossos colaboradores”, afirma o CEO. Se a situação piorar, “teremos de manter o trabalho remoto para toda a equipa. Não será exequível qualquer outra decisão”. Tem uma ideia concreta quanto ao futuro do modelo: “Julgo que o trabalho remoto vai aumentar e a capacidade de comunicar com o exterior da organização nesse modelo vai ser cada vez melhor aceite pela sociedade”, conclui.

Neste momento, está expectante em relação ao desenvolvimento da contaminação, bem como em relação ao estado de calamidade. Considera que Portugal compara bem com a maioria dos países europeus, nomeadamente com Espanha. “A reação do Estado foi relativamente rápida e a reação dos diferentes agentes económicos ainda foi mais rápida, a tomar medidas de prevenção à contaminação”, considera Simões de Almeida, “julgo que a enorme maioria das empresas que tinha a possibilidade de passar a trabalho remoto, fê-lo antes de ser declarado o estado de emergência nacional”.

Estando, pelo seu negócio, ligado a empresas suas clientes, assistiu à preocupação destas com as condições de higiene e segurança no trabalho para protegerem os seus colaboradores. Mas diz: “Outro aspeto é se empresas e Estado em Portugal estavam ou não suficientemente preparados para uma pandemia. Aí, julgo que haviam suficientes avisos dos perigos da pandemia e poder-se-iam ter preparado melhor”.

Internacionalmente o grupo emitiu diretivas para que as diferentes unidades do grupo soubessem enfrentar o coronavírus. “Eram sempre sujeitas às condições e recomendações das autoridades de saúde de cada país. Não nos disseram quando é que tínhamos de atuar e também não nos impediram de tomar decisões. Julgo que o nosso caso foi muito equilibrado nesse aspeto”, refere o CEO.

Segundo conta, as medidas foram muito semelhantes em todos os países, com diferenças no tempo e na forma, em alguns casos. O fundamental era proteger a saúde dos colaboradores e manter o serviço aos clientes, mas também era fundamental fazer o melhor possível para atingir os objetivos de negócio. Ativou-se a comunicação internacional entre os líderes e entre as várias áreas de negócio, permitindo replicar as melhores práticas em diferentes geografias em simultâneo”, conta Simões de Almeida, acrescentando que “este reforço de comunicação internacional foi muito positivo e julgo que veio para ficar. Apesar de sermos uma multinacional, onde este tema sempre foi uma grande vantagem, ficou demonstrado que se podia fazer ainda melhor. Fantástico!”, diz.

Acidentes em Teletrabalho: Mais uma novidade no mundo novo

Todos os players no setor dos seguros foram bastante contactados por clientes nos primeiros dias da crise. Na Marsh “os clientes, em geral, tiveram um comportamento normal, recorrendo aos nossos accounts executives, para saber qual a resposta dos seus programas de seguros”, comenta o CEO.

Após algumas semanas de confinamento houve um abrandamento de sinistros de frequência, como sejam acidentes de trabalho ou automóvel. No entanto, Rodrigo Simões de Almeida avisa que “já apareceram também os primeiros casos de sinistros de Acidentes de Trabalho em trabalho remoto” que considera “uma área polémica, que temos tratado com o maior cuidado para proteção dos nossos clientes e dos seus colaboradores”, garante.

O CEO da Marsh vaticina que “voltar à normalidade que tínhamos antes da COVID-19, com uma economia que cresce e com uma previsão de superavit no orçamento de Estado, vai certamente demorar”. E vê o negócio com ameaças, mas, também com muitas oportunidades que pode explorar. “Vamos ter um impacto provocado pelos lay-offs, paralisação de frotas, redução de volumes de negócios” – afirma “mas também temos a possibilidade de assessorar os nossos clientes neste caminho, onde existem muitas oportunidades de manter o negócio ativo”, acrescenta. Simões de Almeida sabe que após o fim do estado de emergência, as empresas vão iniciar o seu regresso à “normalidade”, mas, “o que ainda não sabemos, é qual o impacto desta crise na economia e na vida das empresas”.

Destes tempos já guarda os benefícios do teletrabalho. “Foi uma surpresa muito positiva”, diz, peremtório. Para si próprio não distingue: “O gestor e pessoa são o mesmo. Não vou mudar, mas sim adaptar-me para lidar ainda melhor com a distância física das equipas, estando ainda mais atento à necessidade de estar próximo de todos”, conclui.

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