Os parceiros no crime do Facebook

A rede social de Mark Zuckerberg acaba de nomear os juízes do seu Supremo Tribunal. São figuras decorativas que venderam a sua credibilidade para que o Facebook continue a abusar do poder que tem.

O grupo é composto por gente com pergaminhos impecáveis na liberdade de expressão, na prática democrática, no exercício governamental e na atuação jornalística. É impressionante que haja tanta gente tão credível disposta a entregar-se nas mãos de uma entidade que demonstra diariamente que a sua única preocupação é o lucro. Não lhes vai ficar bem na biografia. São o Conselho de Segurança do Facebook, criado à imagem do que existe nas Nações Unidas.

Este grupo de pessoas foi contratada única e exclusivamente para dar credibilidade às práticas criminosas da rede social. Vai funcionar simbolicamente durante algum tempo, mas não vai durar. Em seis meses as demissões vão começar, as críticas vão acumular-se e a irrelevância dos que ficarem vai ser óbvia. Até lá, vão servir como base legitimadora de Mark Zuckerberg, o eterno e inamovível secretário-geral destas Nações Unidas do Facebook.

Os poderes deste Board foram desenhados para se limitarem a decisões sobre conteúdos que foram retirados, não sobre os que se mantêm online. Também não vão tocar em nada que se relacione com liberdade de expressão nos vários países. Muito menos tocar na forma como a empresa gere os dados privados dos utilizadores e expõe ou esconde conteúdos em função de outros.

Concretizando: Este grupo não vai fazer nada quando o Facebook voltar a participar ativamente num genocídio como fez em Myanmar. O grupo também não vai fazer nada se por acaso o Facebook decidir que, para respeitar as novas leis discriminatórias na Índia, precisa de silenciar populações inteiras de muçulmanos. Quando Trump decidir um fazer novo vídeo cheio de mentiras, este também estará protegido pelo direito de expressão dos políticos. Quando a Rússia usar a rede para promover conteúdos que destabilizam democracias, este grupo também não se vai poder pronunciar. E quando a tribo dos anti-vacinas e anti-crise ambiental continuar a usar o Facebook como ferramenta de promoção, este Board também não vai dizer nada. Mas vai continuar a ser usado para validar toda e qualquer atividade dúbia do Facebook.

E é obviamente questionável que este órgão deva sequer funcionar. Ideologicamente, isto é um enorme perigo: aceitar este processo é ceder aos mecanismos monopolistas do modelo capitalista anti-liberal. Quem não acredita na democracia, fica bem servido. Mas quem acredita que as pessoas que tomam decisões importantes devem ser responsabilizadas por aqueles a quem essas decisões afetam fica a perder. A forma de limitar o poder e o alcance das redes sociais é através das leis existentes. Essas leis protegem a concorrência, defendem os mercados livres, garantem o pagamento de impostos, asseguram o direito à privacidade e regulam a utilização de dados privados. Zuckerberg não quer nem ouvir falar de nada disto. Estes idiotas úteis que agora se juntam à empresa, pelos vistos, também não.

Ler mais: O livro No Filter conta a história do Instagram por dentro, revelando como a rede social foi adquirida por Mark Zuckerberg e subitamente transformada em mais uma ferramenta para cimentar o seu poder global. Tem lá algumas lições que os novos juízes pagos pelo Facebook deviam aprender.

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