Manuel Caldeira Cabral: Insurtech “tem grande impacto nos seguros”
Grandes seguradoras têm beneficiado da associação com as insurtech, inovando em novos produtos. Alguns ramos de seguros não foram ainda afetados pela crise Covid-19, diz administrador da ASF.
Nos últimos cinco anos, Portugal teve “evolução notável” no setor das startups, com várias empresas a crescerem no ecossistema insurtech. “O setor tem potencial grande de crescimento,” realçou Manuel Caldeira Cabral, membro do conselho de administração da ASF, na abertura de uma conferência Insurtech, realizada em formato híbrido (presencial e virtual) na Fintech House, em Lisboa.
A fileira fintech/insurtech “tem impacto grande nos seguros” quer na “eficiência operacional, como na comercialização e na personalização dos prémios”, mas também “o potencial de trazer novos tipos de coberturas ou de alargar coberturas em áreas que eram pouco comuns” e trazer mais concorrência ao setor, detalhou, considerando que esta dinâmica é bem-vinda, mas “tem que ser regulada,” notou o representante da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF).
Na intervenção (presencial) com que abriu a conferência “Embracing digital transformation in portuguese insurance”, também transmitida online, o responsável do organismo de regulação reconheceu que as fintech/Insurtech têm conseguido crescer, quer através de projetos individuais, quer em associação com grandes seguradoras que, nessa associação, também crescem ou tem conseguido “inovar e oferecer novos produtos”.
“Todo o setor tem, de facto, não só resistido à crise, mas em muitos casos tem conseguido crescer com a crise”, disse, reforçando que “o setor tem uma capacidade grande de crescimento.”
No evento que juntou empreendedores, insurtechs, seguradoras e académicos, Cabral recordou que a pandemia está a ter grande efeito na economia. O responsável da ASF caracterizou uma crise com “efeitos muito desiguais (…)”, com impacto “destrutivo no turismo, acentuado na indústria da moda, no comércio e na restauração”. Mas também “quase nenhuns efeitos” noutros setores, ressaltou.
O de seguros “tem ramos que, basicamente não foram afetados ainda nas vendas, mas podem vir a ser.” Face a esta possibilidade a ASF estará atenta, garantiu, admitindo de seguida que, alguns ramos dos seguros “foram afetados nos investimentos,” uma situação a que “temos estado atentos,” e a ASF acompanhou a forma “como as carteiras evoluíam”.
Caldeira Cabral lembrou ainda, que “na maior parte” o setor de seguros “foi afetado de forma positiva, nos prémios, com a redução de sinistralidade. “Muito notório em alguns ramos de seguro e menos noutros.”
Por outro lado, admitiu também que a crise abre oportunidades num setor com capacidade de continuar a crescer, tanto pela via dos preços, como pela generalização das compras online, não apenas entre os “born digital” como, obviamente, pela problemática da cibersegurança, que se coloca agora “com muito mais força”. Em todos estes aspetos “as fintech oferecem soluções”, notou o administrador da ASF.
Desenvolvendo sobre o estágio atual do ecossistema insurtech em Portugal, referiu que, em certos casos, a venda de apólices seguros online “está muito mais desenvolvida noutros países”, mas isso pode ser um sinal de que “o que mudou noutros países, pode também mudar em Portugal”, fazendo “soar as campainhas”, para uma mudança que acontecerá, quer por acordo com as seguradoras incumbentes, quer por uma alteração da concorrência, quer através de empresas que sejam mais rápidas.
No que toca à regulação “tratamos as fintech como tratamos todas as outras empresas,” conciliou. Falando em nome do regulador explicou: “Queremos que cumpram regras prudenciais”, olhando para as regras de regulação “no sentido de as adaptar”. Segundo Caldeira Cabral, a ASF e os restantes reguladores têm trabalhado “no sentido de encontrar soluções para que o modelo de negócio que essas empresas querem desenvolver seja possível enquadrado dentro das regras da regulação”.
Esta atitude de estar “ao lado dos negócios,” assumida também pelos reguladores (ASF; Banco de Portugal e CMVM) no contexto do Portugal FinLab, permite aos reguladores “estar mais próximos dos inovadores”, possibilita às startups “desenvolverem-se em segurança, servir melhor os clientes, trazer mais concorrência e melhorar os mercados”.
Tudo isto permite também “repensar a regulação como algo que tem que ser dinâmico”. “Estamos abertos a facilitar, trabalhando em conjunto,” concluiu.
A Insurtech Conference, realizada pela PSO com a apoio da Unipartner, Protege, ASF e Portugal Fintech, contou ainda com um outlook sobre o setor exposto por Sérgio Rebelo, economista e professor na Kellogg School of Management. Existiram em diferentes painéis intervenções de Paulo Garcia, CCO da Unipartner IT Services, Domingos Bruges, co-fundador e CEO da Habit Analytics, Gonçalo Parreira, VP de partnerships da Lovys, João Pedro Machado, diretor de Transformação da Fidelidade e CEO da OK! Teleseguros, Gonçalo Farinha, co-fundador da Drivit e de Pedro Rosa Santos, diretor de Tecnologia e Inovação da Generali.
O vídeo da sessão está disponível nesta ligação .
(Corrigido às 9.50h: João Pedro Machado, diretor de Transformação da Fidelidade e CEO da OK! Teleseguros).
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