A crise também chegou à Fórmula 1
A pandemia da COVID-19 vergou o mundo e a Fórmula 1 não é excepção… A FOM tem agendados para este ano 17 Grandes Prémios, ao invés dos 22 planeados, mas isso terá um custo financeiro assinalável.
A categoria máxima do desporto automóvel foi apanhada num turbilhão quando se aprestava para realizar a sua prova de abertura da temporada, em março, tendo o Grande Prémio da Austrália sido cancelado enquanto os fãs formavam fila às portas do circuito de Albert Park para assistir à primeira sessão de treinos-livres da época.
A partir de então, foram cancelados dez Grandes Prémios por entre adiamentos de outros, deixando virado do avesso o calendário gizado para 2020.
Contudo, a FOM rapidamente começou a trabalhar num novo escalonamento de provas, tendo conseguido assegurar 17 eventos em seis meses. Este número não é fruto do acaso, dado que, no mínimo terão de ser disputados 15 Grandes Prémios para cumprir os contratos com as cadeias televisivas.
Em 2019, a maior fonte de receitas foram os pagamentos das televisões para terem o direito de transmitirem os Grandes Prémios, quase 656 milhões de euros, o que representa 38,1% de todo o bolo.
Os contratos assinados entre a FOM e as cadeias televisivas preveem um mínimo de 15 corridas; descendo deste número, as últimas têm de ser ressarcidas pelo grupo que gere os aspetos comerciais da Fórmula 1, sendo compreensível o desejo de Chase Carey, o seu CEO, em, no mínimo, alcançar essa cifra.
Para isso, a FOM mostrou-se aberta a realizar corridas à porta fechada, que têm um custo oneroso para o grupo.
Em 2019, a organização detida pela Liberty Media recebeu 517,45 milhões de euros, 30,1% das receitas, da parte dos organizadores de Grandes Prémios pelo direito de poderem levar a cabo uma corrida de Fórmula 1, acrescendo ainda receitas do Paddock Club, 91,97 milhões de euros, valores que descerão substancialmente sem adeptos nas bancadas.
O modelo de negócio dos organizadores de Grande Prémio assenta nas receitas de bilheteiras, a única fonte de rendimento que possuem, ficando a FOM com todo o resto – patrocinadores, publicidade estática, Paddock Club, etc.
Foram disputadas nove Grandes Prémios à porta fechada, não tendo os organizadores as suas fontes de rendimentos para edificar os respetivos eventos sem perder dinheiro. É evidente que a FOM não lhes poderia cobrar a taxa habitual, como é previsto nos contratos, sob pena de não ter tido pistas onde realizar provas sem adeptos.
Para além disso, com portas fechadas, não há convidados, nem VIPs, nem Paddock Club, o que representa mais uma quebra de receitas para o grupo controlado pela Liberty Media.
Posto isto, quando custará à FOM uma temporada de 17 Grandes Prémios?
As primeiras nove provas foram disputadas com as portas fechadas, o que representa uma perda de quase 225 milhões de euros (2019 cada organizador pagou, em média 25 milhões de euros), acrescendo-se ainda o desaparecimento de 40 milhões de euros devido ao não funcionamento do Paddock Club.
Para além das provas que foram realizadas à porta fechada, os homens do grupo que gere os aspetos comerciais da Fórmula 1 tem ainda de lidar com 11 cancelamentos, o que representa dinheiro que não entra nos seus cofres.
Deste grupo faz parte o Grande Prémio do Mónaco, que não paga taxa para organizar a sua prova, mas os restantes representam uma quebra de uns massivos 250 milhões de euros nas receitas da FOM.
Esta perda será minimizada pela introdução de seis novas provas — Mugello, Nurburgring, Portimão, Imola, Istambul e a segunda prova do Bahrein — mas estas gozam de condições muito especiais, não representando uma entrada significativa de dinheiro na FOM e capaz de suprir as perdas contabilizadas.
No entanto, qualquer uma delas tem a prevista a abertura das portas ao público, recebendo o grupo que gere a Fórmula 1 parte das receitas. Para além disso, desde o Grande Prémio da Rússia, o Paddock Club voltou a funcionar, o que contribui para estancar a hemorragia financeira que tem vindo a sentir desde o início da temporada. Esta parcela representa 37,7 milhões de euros contra os 91,97 milhões de euros gerados o ano passado.
Ora, somando as perdas das provas realizadas à porta fechada, dos 11 Grandes Prémios cancelados e da operação do Paddock Club chegamos ao valor esmagador de 529,27 milhões de euros.
Os homens de Chase Carey, o CEO da FOM, terão ainda de contabilizar o aumento de custos operacionais, uma vez que na maior parte dos eventos as equipas foram deslocadas para cada um dos circuitos através de charters disponibilizados pela FOM, para evitar o contágio através do novo coronavírus, o que acrescerá substancialmente às despesas do grupo — talvez possam ser suportadas pelas receitas criadas pela abertura dos portões aos adeptos a partir do Grande Prémio da Rússia.
Para além disso, os contratos de patrocínio e publicidade estática foram assinados tendo em conta o público presente nos circuitos, podendo os valores serem reduzidos, o que implicará mais perdas de receitas para o grupo da Fórmula 1.
Ainda assim, se compararmos com as receitas do ano passado, mais de 1738 milhões de euros, a FOM poderá fechar o ano no verde, mas a quebra de, pelo menos, cerca de 30% terá um impacto nos orçamentos de 2021 das equipas, que recebem em prémios cerca de 50% do valor gerado pela organização que administra os aspetos comerciais da categoria máxima. Se isto terá um impacto na sobrevivência de algumas estruturas, só o futuro o dirá…
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