Na luta entre Trump e Biden, nem todos os votos valem o mesmo
A dias das eleições presidenciais, está tudo em aberto e tanto democratas como republicanos apostam tudo nos swing states.
A 3 de novembro, os norte-americanos vão às urnas para umas eleições presidenciais que podem ditar o segundo mandato de Donald Trump ou a chegada de Joe Biden à Casa Branca. Os eleitores dividem-se entre democratas e republicanos, mas não votam diretamente para eleger o presidente do país. Há votos que pesam mais do que outros, e americanos que não podem votar. Parece confuso? Realmente é.
Em todas as eleições presidenciais nos EUA, os norte-americanos votam livremente, mas quem decide são os membros do colégio eleitoral. Este grupo é composto por 538 representantes dos 50 estados que elegem diretamente o presidente.
O colégio eleitoral nasceu quando os founding fathers dos EUA definiram na sua Constituição que este grupo seria composto por homens notáveis, que fariam o intermédio entre pessoas que podiam ter menos informação para “votar diretamente”. Contudo, o principal objetivo era equilibrar as diferenças entre os estados mais pequenos e maiores. O método permanece o mesmo até hoje, apesar das dúvidas sobre a sua eficácia.
Os estados não têm todos o mesmo peso no colégio eleitoral: o número de membros que é atribuído a cada um é decidido pela sua representação no congresso. Por exemplo, no caso da Califórnia são atribuídos dois representantes pelo Senado mais 53 por cada Distrito Congressional. Assim, este é o estado com mais peso no colégio eleitoral, com 55 membros.
Mas não é assim em todo o país. A capital Washington DC tem três representantes correspondentes aos distritos que possui, uma vez que não é caracterizada como estado e por isso não tem representação no Senado. Já os chamados territórios americanos — 14 regiões que incluem Porto Rico ou Samoa Americana — não têm representação alguma no congresso, e por isso, apesar de serem considerados norte-americanos, os cidadãos não têm poder de voto.
Winner takes it all
Os eleitores que têm poder de voto registam-se para votar algum tempo antes das eleições, ou em alguns estados no próprio dia. Pode-se votar no próprio dia ou antecipadamente, por correio ou presencialmente. A opção de enviar o voto por correspondência tornou-se mais popular em tempos de pandemia, embora gere polémica e seja fortemente contestada pelo atual presidente Trump.
Os votos são contabilizados em todos os estados e os respetivos representantes do colégio eleitoral votam na sua maioria pelo sentido de estado. O eleitor representante vota consoante a vontade dos habitantes do distrito congressional que representa. Mesmo que não seja obrigado a isso. Contudo, um faithless elector — ou seja, que contrarie a escolha dos eleitores que representa — é raro e nunca influenciou o resultado final de uma eleição.
A controvérsia em torno do colégio eleitoral chega na hora da contagem dos votos. A maioria dos estados funciona como winner takes it all. Isto significa que, se um dos partidos tiver um voto a mais no colégio do que outro, acaba por angariar todos os votos desse estado. Para ganhar uma eleição, o partido deve conseguir 270 votos do colégio eleitoral. No caso de existir um empate, a decisão recai sobre o congresso.
Este método implementado gera controvérsia porque em estados menos populosos, o peso do voto individual é maior do que nos estados com mais habitantes. De forma diferente atuam os estados do Maine e Nebraska. Nestes estados, dois votos são atribuídos aos partidos consoante o sentido de voto do estado, e os restantes pelo sentido de cada distrito congressional.
O desenho dos distritos vai mudando ao longo do tempo. Em teoria, a cada dez anos são reavaliadas as fronteiras com base na população. No entanto, há uma polémica técnica conhecida como gerrymandering que consiste em manipular os limites de cada distrito congressional para tirar partido do sistema de winner takes it all. Este é um dos motivos de discórdia e polémica que pairam sobre o sistema eleitoral dos EUA.
Candidatos apostam tudo nos swing states
Neste sistema, os candidatos consideram alguns estados como mais importantes do que outros durante a campanha eleitoral. Há dois tipos de estados: os seguros e os oscilantes. Os chamados safe states são aqueles que historicamente votam sempre no mesmo partido e por isso já têm de antemão uma cor atribuída.
Por exemplo, é o caso do Texas, cujo voto (quase) garantidamente vermelho, ou seja, republicano. Por outro lado, Nova Iorque é azul, que é o mesmo que dizer democrata. Mas há estados pintados de roxo, os swing states.
Estes estados não têm um histórico de “lealdade” a um só partido e por isso podem ter outro peso na decisão das eleições, o que justifica que exijam maior dedicação por parte dos candidatos a presidente. Atualmente, estes estados representam 125 votos no colégio eleitoral e são onde os candidatos gastam mais recursos de campanha.
Em 2016, o atual presidente Donald Trump ganhou o estado da Florida com 49% dos votos, angariando os 29 votos do colégio eleitoral. Por ter conseguido ganhar mais votos no colégio eleitoral consagrou-se presidente, embora não tenha tido tantos votos populares como a sua adversária Hillary Clinton.
Este ano, a nível nacional, a última sondagem da CNN indica que Biden tem 54% das intenções de voto, contra 42% de Trump. Olhando apenas para os swing states, a margem é menor. Na Florida — o mais importante — o democrata acolhe 51% das intenções de voto, contra 43,6% do republicano. Menor ainda é a margem no segundo swing state mais importante, a Pensilvânia: apenas 50,5% contra 45,2%. Feitas as contas, está tudo em aberto.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Na luta entre Trump e Biden, nem todos os votos valem o mesmo
{{ noCommentsLabel }}