Pandemia pôs fundos de investimento em risco de ficarem sem dinheiro para resgates

A conjugação do pânico dos investidores com as desvalorizações nos mercados fez soar campainhas de alerta no supervisor. Não houve, ainda assim, nenhum caso de suspensão dos resgates.

A pandemia deixou os fundos de investimento em dificuldades para responder aos pedidos de resgate dos clientes. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) acompanhou a situação e garante que não houve em Portugal nenhum caso de suspensão dos pagamentos, como aconteceu na Europa, mas este foi um dos riscos que se materializaram em 2020 devido à crise pandémica.

“As questões de liquidez colocaram-se durante um período no sentido em que houve um aumento dos pedidos de resgate e uma desvalorização dos ativos e houve momentos e situações em que se poderia ter colocado a possibilidade de os fundos não terem capacidade de responder a todos os pedidos de resgate“, explicou Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM, num encontro esta sexta-feira com jornalistas.

A conjugação do pânico dos investidores quando o surto de Covid-19 surgiu (ou as necessidades de liquidez imediata em casos de perda de rendimento) com a desvalorização dos ativos criou essa situação de stress. Uma situação mais grave foi evitada, segundo Gabriela Figueiredo Dias, pela atuação do supervisor nacional e das autoridades europeias, em garantir a liquidez no mercado e que as entidades gestoras tinham almofadas financeiras capazes de responder à crise.

“É uma situação que não pode acontecer e que efetivamente nos preocupou ao longo de alguns meses. Houve situações na Europa em que alguns fundos tiveram de suspender os resgates. Em Portugal, nenhum teve de suspender nem chegou a níveis de liquidez que suscitassem preocupações fortes“, aponta a líder da CMVM.

"Não obstante a enorme pressão sobre a qual estiveram em 2020, a verdade é que chegamos a esta altura com valores sob gestão inéditos, desde há muitos anos, superiores ao final de 2019 antes da crise pandémica. Os fundos de investimento mostraram um forte desempenho mantendo a rota de crescimento desde 2018.”

Gabriela Figueiredo Dias

Presidente da CMVM

O supervisor já tinha antecipado alguns riscos para 2020 e este em particular materializou-se de forma “muito significativa”. Outro foi o risco de crédito, que se verificou na dificuldade de valorização dos ativos, especialmente no pico da crise. Apesar de tudo, Gabriela Figueiredo Dias elogia a resiliência do setor da gestão de ativos, não só por não ter entrado em rotura, mas também por até ter crescido.

“O desempenho dos fundos de investimento é positivo. Não obstante a enorme pressão sobre a qual estiveram em 2020, a verdade é que chegamos a esta altura com valores sob gestão inéditos, desde há muitos anos, superiores ao final de 2019 antes da crise pandémica. Os fundos de investimento mostraram um forte desempenho mantendo a rota de crescimento desde 2018″, diz.

Código dos Valores Mobiliários continua à espera do Governo

A evolução da pandemia implica que a CMVM não exclua que estes riscos se voltem a materializar em 2021. O supervisor elegeu, por isso, quatro áreas prioritárias de atuação para 2021 que procuram responder aos principais riscos e necessidades identificadas para proteger os investidores e apoiar o desenvolvimento do mercado de capitais português perante um contexto social, económico e financeiro adverso e marcado por elevada incerteza.

“As quatro prioridades de atuação, suportadas por 43 atividades-chave a desenvolver ao longo de 2021, são: reforço da supervisão prudencial, com enfoque na governação e na identificação, análise e prevenção de riscos; simplificação regulatória e promoção do desenvolvimento do mercado; reforço da proteção e do apoio ao investidor em contexto de elevada incerteza; cooperação e melhoria do serviço prestado aos investidores e ao mercado”, aponta o supervisor.

Entre as ações definidas para este ano está a aprovação dos regulamentos necessários para concretizar as alterações ao Código dos Valores Mobiliários e implementar os novos Regimes da Gestão de Ativos e das Empresas de Investimento. A proposta para o primeiro está à espera de resposta no Ministério das Finanças e a CMVM prevê enviar o segundo ainda no primeiro trimestre do ano.

(Notícia atualizada às 14h00)

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