Como a OCDE mede a atividade económica em tempo real através das pesquisas do Google
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) criou um indicador que mede a atividade económica em tempo real através das pesquisas do Google. Como funciona?
Todos os dias milhões de pessoas pesquisam no Google sobre diversos temas, criando “tendências” que o próprio motor de pesquisa identifica e armazena. A informação agregada dessas pesquisas passou a ser utilizada com o novo e inédito indicador da OCDE, o qual usa algoritmos para tratar os dados e retirar conclusões sobre o andamento da economia em tempo real. Os dados para Portugal sinalizam que a queda da atividade económica deste confinamento não é igual à do ano passado.
A nova ferramenta foi desenvolvida pelo economista da OCDE Nicolas Woloszko e estima a variação do PIB semanal, em termos homólogos, de 46 países, incluindo Portugal, mostrando como está a atividade económica meses antes das estatísticas trimestrais oficiais. “Um pré-requisito para uma boa política macroeconómica é a informação atempada sobre o estado atual da economia, particularmente quando a atividade económica está a mudar rapidamente“, o que é o caso desta crise pandémica, explicava o economista numa publicação da OCDE em dezembro.
O indicador de alta frequência da OCDE utiliza machine learning (algoritmos) e dados de 250 variáveis do Google Trends — tendências de pesquisa do Google sobre consumo, emprego, imobiliário, incerteza económica, entre outros — para aferir a variação do PIB em tempo real. Este método, que reflete o volume e a intensidade das pesquisas dos utilizadores do Google, tem ganho cada vez mais atenção entre economistas e decisores políticos. Este indicador não nos diz o que vai acontecer, mas o que está a acontecer.
Mas o facto de permitir uma leitura em tempo real não é um pormenor. De acordo com Nicolas Woloszko, as estimativas trimestrais podem “tornar-se não fiáveis quando as mudanças na atividade económica são abruptas e massivas”. “A atual crise levou a uma procura por indicadores alternativos de alta frequência”, refere, assinalando que o Google Trends é uma “ferramenta poderosa das previsões económicas por cobrir um grande número de aspetos da atividade económica“.
Isto é, dá sinais sobre as múltiplas peças da atividade económica que, com a ajuda da tecnologia, se agregam para chegar a conclusões sobre o conjunto da economia. Por exemplo: o Google tanto dá informação sobre consumo privado (uma das componente do PIB) quando procura por carros ou móveis, como dá dados sobre o mercado de trabalho quando pesquisa por subsídio de desemprego ou propostas de trabalho. O sentimento económico — aferido através de pesquisas sobre “recessão” ou “falências” — ou a pobreza (“banco alimentar” ou associações de solidariedade) também refletem o comportamento dos agentes económicos.
A confiança com este indicador aumentou após ter sido aplicado ao passado recente, desde que o Google ganhou dimensão planetária. O economista da OCDE garante que tem um “bom desempenho” nos 46 países para os quais há dados. “O indicador capta uma parte considerável das variações do ciclo económico, incluindo durante a crise financeira mundial, a crise da dívida soberana da Zona Euro assim como a volatilidade excecional associada à atual crise da Covid“, assegura Nicolas Woloszko, acrescentando que os resultados são “impressionantes” mesmo nos países que divulgam o PIB mensalmente como é o caso do Reino Unido e do Canadá.
E em Portugal? Também o gráfico português está em linha com os números do PIB (pontos vermelhos) divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Sobre o primeiro trimestre de 2021, os dados de janeiro (até 30 de janeiro) apontam para uma contração do PIB em cadeia de 7,7% e de 9,5% em termos homólogos (face ao primeiro trimestre de 2020). Contudo, a queda homóloga poderá ir dos 6,3% (cenário melhor) aos 13,3% (cenário pior), segundo o indicador.
No gráfico é possível ver também gradações de cinzento para descrever a restritividade das medidas em vigor em cada país com base no índice Blavatnik da Universidade de Oxford.
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