E se Patti Smith vender café, pão e azeite?
"A imaginação serve para viajar para o desconhecido ou para o conhecido. Tem essa força. Seria um erro não aproveitar esse potencial”.
Escritora, poeta, pintora, ativista, cantora underground. Numa entrevista ao El País, Patti Smith é questionada sobre quantas Pattis coexistem. Entre tantas facetas, a única que eu não conhecia era a Patti empresária, a que sonhou (ou talvez ainda sonhe) abrir um café que se chamaria Café Nerval: “um lugar pequeno que só servisse café, pão e azeite” revela. Ainda que diga que vive “entre o passado e o presente” eu acrescento ‘e no futuro’, porque tal como a própria diz ao longo da entrevista “a imaginação serve para viajar para o desconhecido ou para o conhecido. Tem essa força. Seria um erro não aproveitar esse potencial”.
Vou imaginar então que Patti Smith, com mais de 70 anos, vai abrir uma loja física num mundo pós-lockdown. Arriscado, mas se a imaginação serve para viajar, continuemos. Imagino-o numa arquitetura que se alinha entre o romantismo francês e o surrealismo das obras de Gérard de Nerval, analógico na impressão, mas digital na experiência, com tecnologia que vai desde o pagamento ao atendimento híper personalizado tendo por base data. Ainda que se possa questionar sobre o futuro do retalho físico, ele vai continuar a existir e basta estar atento às cidades já reabertas neste mundo pandémico, para ver novas inaugurações de grandes espaços nas últimas semanas, do Japão à China aos Emirados Árabes… E vemos boutiques que se transformam em livrarias como a da Louis Vuitton em Paris, e livrarias que recebem novos cafés e negócios digitais que se tornam físicos como a Browns em Londres, a receber o conceito de loja do futuro da Farfetch.
Se Patti Smith vendesse café (o seu grande vício) pão e azeite, imagino-o como uma pequena loja de bairro. O sentido de pertença a uma comunidade está em qualquer relatório de tendências, assim como a procura de sabores premium, de produtos que nos falem de raízes, de histórias e que nos permitam viajar através de novos sabores e texturas. Mas como em qualquer novo negócio também viveria no digital, tendo na própria Patti a maior brand ambassador, ou se quisermos uma influencer, a gerar likes a cada post nas redes sociais.
E continuando no futuro especulativo, imagino-o, esse Café Nerval, em Portugal. Na mesma semana em que me cruzei com a longa entrevista de vida de Patti Smith, moderei no Eco uma talk sobre A Proteção das Marcas Nacionais. Foram mais de 30 minutos a falar de qualidade, de valor, de diversidade dos produtos endógenos nacionais e de um património que inspira o mundo. Mas também se falou da necessidade da sua valorização, da sua conversão e na criação de uma economia de marcas.
Se Patti Smith vendesse café, pão e azeite é para mim apenas uma espécie de reminder call, é Patti a ser ela própria e a desafiar-nos a pensar…É ela a dizer-nos que, por vezes, as coisas mais simples se podem transformar em projetos empreendedores interessantes, ainda que neste caso seja só imaginário. Easy, Easy… para uma manhã de domingo.
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