Rendeiro e o caso BPP: “O que eu fiz, não fui eu que fiz”
João Rendeiro aguarda o recurso do Tribunal Constitucional a uma condenação de quase seis anos de cadeia. Em entrevista à TVI e ECO, faz a sua defesa e garante que não tem nada a temer.
Condenado a cinco anos e oito meses de prisão por falsificação informática no Banco Privado Português (BPP), João Rendeiro recorreu para o Tribunal Constitucional e, enquanto aguarda uma decisão, publicou o livro “Em defesa da honra”, uma espécie de testemunho sobre a ascensão e queda do banco. Em entrevista à TVI24 e ao ECO, o antigo banqueiro rejeita mais responsabilidades do que as de outros administradores que foram condenados a penas suspensas. “O que eu fiz, não fui eu que fiz“.
Numa entrevista conduzida pelos jornalistas Vasco Rosendo (TVI) e António Costa (ECO), João Rendeiro não revela o que fará se a decisão do Constitucional lhe for desfavorável. “Eu sou uma pessoa livre de espírito, portanto, o que vai acontecer ou que não vai acontecer, veremos…” Vai entregar-se à justiça? “Eu não quero estar a falar em situações hipotéticas, agora o que eu noto é que estamos a falar de uma condenação de uma classe profissional, dos banqueiros, e eu pensava que a lei era igual para todos“.
João Rendeiro aceita assumir as responsabilidades de forma solidária com os outros gestores executivos. “O que eu fiz, não fui eu que fiz. Não vê um único documento assinado por mim, um único email, não existe uma única prova direta que me ligue a esses factos. Não quero fugir a responsabilidades, agora o que eu não posso aceitar é que no quadro do conselho de administração que, segundo a lei, é um órgão solidário, todos são responsáveis pelos atos que acontecem no contexto da gestão… Só pelo facto de me chamar João Rendeiro e aparecer nos jornais é que eu sou imputado. Não assumo as responsabilidades que são dos outros, nem as assumo sozinho. Portanto, se os outros, que eram solidariamente responsáveis têm penas irrisórias, porque é que eu tenho uma pena pesada?”
Quais são as suas responsabilidades? “São responsabilidades que têm a ver com a gestão do banco em termos gerais e a relação com os acionistas, e ser embaixador do banco em termos públicos“. E arrepende-se de alguma coisa que fez? “Eu penso que fizemos uma coisa, aí, que acho errada mas que foi bem intencionada. Em novembro de 2008, nós já tínhamos uma noção de que iria haver uma intervenção do Banco de Portugal e então quisemos fazer a passagem de um ‘balanço limpo’, chamemos assim, para o Banco de Portugal. Isto na nossa… na minha ingenuidade, a pensar que o Banco de Portugal pretendia entrar no banco e viabilizar o banco. Nesse sentido, fizemos algumas operações em novembro de 2008 de ‘limpeza de balanço que hoje não as teria feito. E foram nomeadamente duas operações feitas em novembro de 2008 que são justamente duas acusações…” João Rendeiro chama-lhes operações de ‘limpeza de balanço’, os tribunais chamam-lhe falsificação informática e foi por isso que foi condenado a cinco anos e oito meses de prisão.
O fundador do BPP, acionista e primeiro como presidente executivo até 2005 e depois presidente do conselho de administração até à sua saída em 2008, repete as críticas ao Banco de Portugal e ao Governo de então, com José Sócrates, que, alinhado com Ricardo Salgado, terá contribuído para a a falência do BPP. “Na altura, havia uma aliança político-financeira do primeiro-ministro José Sócrates e do principal banqueiro do país na altura, o dr. Ricardo Salgado, no sentido de controlo do sistema financeiro português“. E Rendeiro cita o caso da passagem da administração da CGD para o BCP, com Carlos Santos Ferreira. Admite que, na altura, não tinha claro essa estratégia. “O BPP estava a crescer de uma maneira muito rápida, estava a ‘pisar os calos’ aos grandes bancos” na área do private banking. E no livro, escreve sobre os amos de Sócrates. Quem eram? “Ricardo Salgado“.
Há clientes lesado ou não? João Rendeiro garante que não. E que a linha de empréstimo de 450 milhões de euros com garantia pública concedida ao BPP já depois da sua saída serviu precisamente para pagar os depósitos a particulares e a institucionais. “Só não recebeu os seus depósitos quem não quis“. Sobre as perdas registadas nos veículos financeiros, Rendeiro responde que quem investe em bolsa ganha e perde. É isso o que tem a dizer aos investidores nos veículos? “Olhe, um deles fui eu“, revela o antigo banqueiro. E terá perdido quatro milhões de euros. Mas também recorda que também houve muitos ganhos noutros “veículos de risco”. Mas insiste que o facto de a comissão liquidatária do BPP ter cerca de 700 milhões de euros mostra como deixa cair o banco foi um erro.
No livro, Rendeiro escreve que Teixeira dos Santos era conhecido como “o banana” e o governador do Banco de Portugal à data, Vítor Constâncio, é apelidado de “cobarde”. Não tem nada a perder? “Eu tenho a perder, como digo no título [do livro], a minha honra. Agora, o que eu lhe posso dizer é que não tenho nada a temer”.
“Eu sou um reformado neste momento. As pessoas estão muito preocupadas com o meu património, se é que estão, eu devo-lhe dizer que eu não estou. A única coisa que me preocupa é que a minha mulher esteja bem“, responde o antigo banqueiro. “Eu escrevi no meu primeiro livro que deixaria à sociedade a minha fortuna, portanto, se alguém está preocupado com isso, tenho a impressão que está preocupada com coisas erradas, está preocupada com a mesquinhez, está preocupada com a pobreza, eu acho que deveria estar com criar riqueza e pensar como é que o país consegue ficar mais rico em vez de como é que o país fica mais pobre“.
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