Reação do Seguro de Crédito à evolução da pandemia

  • Acácio Ferreira
  • 28 Abril 2021

Acácio Ferreira, Diretor de Credit and Surety, da Willis Towers Watson prevê que a retirada dos apoios à economia provoque agravamento de risco no seguro de crédito na partir do final de 2021.

Na sequência do Webinar realizado sobre o tema o ”Seguro de Crédito, Retoma pós Covid19, Desafios e Oportunidades”, efetuamos uma síntese de algumas das ideias principais que foram suscitadas.

Vivemos em 2020 a maior recessão económica desde a 2ª Guerra Mundial, caracterizada por uma abrangência geográfica e de sectores de atividade raramente observada na história. Comparando com a crise financeira de 2008/2009, o impacto em termos de PIB Mundial foi bastante superior. Numa fase inicial, as Seguradoras de Crédito reagiram com algum pânico na expectativa de um grande aumento da sinistralidade, gerando uma política de forte redução de exposição e restritiva na subscrição de novas Apólices.

No âmbito das medidas de apoio às empresas para fazerem face ao impacto do primeiro confinamento, as seguradoras flexibilizaram temporariamente alguns dos procedimentos das suas Apólices, com o objetivo de simplificar a carga administrativa num período em que as empresas encerraram e simultaneamente permitir um alargamento dos prazos para os clientes procederem aos pagamentos dos créditos. Esta política foi seguida genericamente por todas as Seguradoras, no entanto, com diferentes intensidades.

Após o primeiro confinamento e aproveitando as fortes medidas de apoio introduzidas pelos Estados e Instituições Financeiras internacionais, assistiu-se a uma retoma mundial. Contudo, esta foi heterogénea quer em termos geográficos quer sectorialmente.

Verificamos que a China (e genericamente a Ásia) é a grande ganhadora, tendo já recuperado para níveis anteriores à covid-19. Os EUA apesar de ser o país mais afetado em termos de saúde, foi menos atingido economicamente do que, por exemplo, a Europa, que é a grande perdedora em termos de recuperação.

No que diz respeito a sectores de atividade, a indústria revelou grande resiliência, recuperando após o forte impacto inicial. Em contrapartida o sector de serviços continua a demonstrar grandes dificuldades de recuperação.

Encerramento de empresas

O apoio público às economias e empresas permitiu que se tenha assistido em 2020 a um fenómeno muito interessante: a redução mundial do n.º de empresas que encerraram durante o ano, não obstante a dimensão sem paralelo da crise económica. A liquidez introduzida no mercado levou mesmo, em muitas situações, à melhoria dos prazos de recebimento. Este facto positivo suscita também uma grande preocupação para o futuro: a possível existência de empresas “zombies”. O que irá suceder a estas empresas, que poderão estar a viver de uma forma artificial, quando forem reduzidos os apoios públicos?

Em termos de Seguro de Crédito como a taxa de sinistralidade ficou bastante aquém do pessimismo inicial, verificamos que parte das Seguradoras de crédito presentes no mercado português está a mostrar uma maior flexibilidade, aumentando a sua exposição de risco.

Perspetivas para 2021: oportunidades e desafios

Para além das incertezas existentes sobre o efeito da vacinação em termos de saúde pública e eventual necessidade de futuros confinamentos, é previsível que a retirada dos apoios à economia provoque um agravamento de risco, o que motiva expectativas de ocorrência de sinistralidade a partir do final de 2021.

É cada vez mais notória a preocupação de muitas instituições com o ritmo da retirada dos apoios às empresas, no sentido que o mesmo seja efetuado de uma forma gradual. Na opinião pública europeia e mesmo nas instituições da União Europeia é hoje aceite que se devem flexibilizar os critérios de rigor orçamentais por forma a investir na recuperação. Este ponto levanta alguns aspetos de discussão interessantes sobre o ritmo de retirada dos estímulos e a capacidade dos Estados manterem os mesmos.

Existem outros fatores importantes a considerar na recuperação e que tem profundo impacto na atividade das empresas, alguns deles já latentes antes da pandemia, mas que foram potenciados neste período. Questões como o impacto da mudança do paradigma energético na indústria automóvel, o comportamento dos consumidores relativamente a aspetos como o ambiente/reciclado/sustentável, as alterações de padrão de consumo, o teletrabalho/digitalização, (…).

É hoje claro que, por exemplo, as empresas portuguesas terão que incorporar na sua forma de trabalhar, no seu produto/serviço uma forte preocupação com a sustentabilidade para competir no mercado internacional.
Em conclusão, neste período de grande volatilidade e complexidade, um instrumento como o Seguro de Crédito ganha particular relevância.

Uma das características mais importantes do Seguro de Crédito é a capacidade de disponibilizar informação essencial ao processo de decisão das empresas sobre novos clientes ou mercados e também no acompanhamento da evolução financeira dos atuais. Esta informação potencia o crescimento das vendas minimizando o risco. É essencial para o sucesso que as empresas possam recorrer aos sofisticados sistemas de informação global das seguradoras para mitigar os riscos operacionais decorrentes das suas vendas e para um maior conhecimento do mercado. Aliado a este aspeto, possibilita a proteção de um dos ativos mais importantes (a conta clientes), questão extremamente importante para os acionistas e parceiros financeiros.

Adicionalmente, o Seguro de Crédito permite de uma forma simples o apoio e gestão da cobrança em qualquer parte do Mundo, reduzindo os prazos médios de recebimento e o valor dos incobráveis.

Em suma, é fundamental que as empresas estejam preparadas para aproveitar as oportunidades
proporcionadas pela recuperação da economia, contando com o suporte do Seguro de Crédito para
um crescimento sustentável, rentável e minimizando o risco neste momento de grande incerteza.

  • Acácio Ferreira
  • Director, Credit and Surety Insurance, Willis Towers Watson Portugal

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