Editorial

Louçã, Mortágua e Varoufakis

Louçã sugere Mariana Mortágua para o cargo de ministra das Finanças. A deputada é ótima a fiscalizar, e pode agradecer aos grandes devedores do Novo Banco, mas já sabemos o que foi Varoufakis.

À boleia da Comissão Parlamentar de Inquérito ao Novo Banco, e dos “empresários” que prestaram um grande serviço ao Bloco de Esquerda, o ideólogo Louçã (re)lançou Mariana Mortágua para o cargo de ministra das Finanças (e também de Estado, seguramente…). Não é a primeira vez, não será a última, e convém levar o aviso a sério. Já vimos um Varoufakis na Grécia, e os resultados que teve, seria mais ou menos o mesmo em Portugal com Mortágua no gabinete da Praça do Comércio.

Mariana Mortágua é por mérito próprio (e sem ironias) uma estrela política da esquerda radical e mesmo a esquerda moderada e o centro político são seduzidos pela deputada bloquista. E isso decorre, sobretudo, das suas prestações nas comissões parlamentares. Especialmente quando põe em sentido empresários e gestores que tendem a esquecer-se do que fizeram, ou quando questiona líderes de bancos ou governantes. Acutilante, bem preparada, faz um trabalho de casa como deve ser, exerce a sua função de deputada com exigência e é isso que se pede aos deputados, a todos e especialmente aos que elegemos quando decidimos o nosso voto.

O desempenho de Mortágua nesta comissão só pode ser elogiado, por quem votou nela e por quem não votou na bloquista, por muito que custe. Porque ninguém quer, ou ninguém deveria querer, que o caso BES/Novo Banco e os grandes devedores passe sem escrutínio. E se há coisa que este caso ainda tem é pontas soltas, é opacidade nos contratos, nas letras pequeninas que foram acrescentadas depois, é a supervisão do Banco de Portugal, são as reestruturações de dívida e a capacidade/vontade do Fundo de Resolução de exercer o seu papel. Mortágua, como Cecília Meireles (CDS-PP), está a prestar um serviço público, pelo qual merece o elogio.

As Finanças são outra história. “Quando a Mariana Mortágua for ministra das Finanças, o Estado não será um porquinho mealheiro” dos bancos ou dos grandes devedores, antecipa Louçã. Bem, o dinheiro para os bancos, é preciso recordar ao conselheiro de Estado, serve para segurar depósitos. Mas com Mortágua nas Finanças, o Estado seria tudo, tomaria conta de tudo. E basta recuperar algumas das propostas de Mariana Mortágua nos orçamentos da geringonça para antecipar o que seria a política económica e financeira do país.

Uma economia nacionalizada, a estatização do mercado de trabalho, o aumento de impostos sobre os “ricos” e as grandes empresas, o confronto com as instituições europeias por causa das contas públicas, enfim, uma espécie de receita de Varoufakis aplicada a Portugal. Até já temos um ‘Imposto Mortágua’, e nem sequer chegou a ministra. É mesmo disto que o país precisa? Uma ministra das Finanças que estaria mais preocupada em distribuir o pouco que há em vez de criar condições para criar mais, e melhor. É que mesmo quando Mortágua está do lado certo, o caminho é sempre o de criar mais subsídios e mais apoios, aumentar o Estado, aumentar a dependência dos portugueses de quem está no Governo. E tem depois a ilusão de que seria possível aumentar os impostos sem limite (como se todos ficassem por cá, para os pagar).

Quem lê os seus artigos de opinião semanais no Jornal de Notícias — eu leio, são muito instrutivos, quando concordo e especialmente quando discordo, o que é quase sempre –, percebe exatamente qual seria a agenda de Mariana Mortágua nas Finanças. Num país com enorme falta de capital e de investimento, a economia portuguesa entraria rapidamente num buraco negro. E se é verdade que hoje não vivemos o mesmo tempo de 2011 em termos europeus quando Varoufakis levou a Grécia a uma situação limite, e quando o seu próprio partido o expulsou de funções, o setor privado mantém o mesmo racional, de investir para criar valor e à procura da rentabilidade (que em Portugal já é limitada, basta olhar para a banca). Do 19º PIB per capita da União Europeia, o fundo seria o limite.

Mariana Mortágua quer nacionalizar a iniciativa privada, a flexibilidade e a independência de empresários e trabalhadores, mas não sabemos exatamente como é que pagaria essa estratégia, como a financiaria a prazo (e nem o BCE nos valeria), como é que o Estado promoveria a produtividade dos fatores trabalho e capital para suportar esse grande patrão (que, diga-se de passagem, está a crescer de forma sustentada há mais de cinco anos). O resultado seria previsível…

Mariana Mortágua é ótima a fiscalizar, função que compete ao Parlamento, seria péssima (para o país) a governar. Francisco Louçã quer levar-nos para um mundo da fantasia (ou do inferno).

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