BRANDS' ECOSEGUROS Soluções pay-per-use aplicadas aos seguros
Diogo Santos, Manager EY, Assurance Financial Services, fala das vantagens e desafios das soluções de personalização do custo dos seguros para segurados e seguradoras.
A gestão da pandemia de COVID-19 tem provocado significativas alterações de rotinas na sociedade, decorrentes dos sucessivos períodos de confinamento. Um destes efeitos é a alteração do padrão de deslocações, muito por força do teletrabalho. De acordo com os dados recolhidos pela Google, a quebra de presenças em locais de trabalho em Portugal ainda ronda os 10% em comparação com o período antes do confinamento, tendo atingido reduções de 60% em momentos de maiores restrições.
Perante esta evidente alteração dos padrões de deslocação, os tomadores de seguro interrogaram-se quanto à pertinência dos prémios de seguro que estavam a suportar. Tendo como foco principal os seguros automóvel, este facto levou inclusivamente as seguradoras a rever de forma transversal os prémios de seguro, beneficiando os tomadores. Esta interrogação é, contudo, legítima para lá das situações de exceção, considerando os diferentes perfis de utilização dos bens seguros. Deve um automóvel que percorre centenas de quilómetros por mês ter um prémio semelhante a outro que se desloque muito menos (mantendo iguais todas as restantes dimensões do risco)?
"Se o mercado segurador evoluir no sentido de serem implementadas soluções deste estilo [pay-per-use], podemos caminhar para prémios de seguro mais ajustados à realidade de cada tomador.”
Por paralelismo, os seguros de viagem são tipicamente contratados circunscritos a uma viagem específica em função da sua duração e características. Com adaptações (nomeadamente porque o risco de seguro de um automóvel estacionado não é nulo), o mesmo raciocínio pode aplicar-se aos seguros automóvel. Uma das respostas possíveis para esta questão pode ser através de soluções de seguro pay-per-mile, ainda com reduzida expressão no mercado, e que indexam o prémio de seguro aos quilómetros percorridos, numa tentativa de aproximar o custo do seguro ao risco real de sinistro. Este conceito pode ser estendido, adaptando-se ao estilo de condução, com rastreadores GPS que registem velocidade, acelerações e travagens que, compilados em quantidade suficiente, podem constituir indicadores de risco adicionais.
Indo além do seguro automóvel, soluções análogas podem ser adotadas noutros ramos, como sejam seguros de saúde que tenham em consideração o estilo de vida do segurado, com recurso a monitores de atividade física embutidos em relógios e outros dispositivos.
Reconhecem-se, ainda assim, alguns desafios. Para o segurado, a comunicação dos dados necessários para personalização do prémio tem de ser simples e oferecer garantias da sua boa utilização e conservação à luz do direito à privacidade. Para a seguradora, este modelo requer tarifações mais complexas e exigências acrescidas no controlo da fraude. Para ambos os intervenientes, a personalização do custo implica que para que uns tomadores paguem menos não é de excluir que outros vejam o custo aumentar.
Se o mercado segurador evoluir no sentido de serem implementadas soluções deste estilo, podemos caminhar para prémios de seguro mais ajustados à realidade de cada tomador. A oportunidade existe e tem desafios inerentes, havendo espaço para ser explorada.
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