Portugueses voltaram a apostar nos seguros de Vida. Porquê?

Com depósitos nos bancos a renderem abaixo de zero, as vendas de seguros de vida e investimento sobem em flecha. Há dinheiro a mais em depósitos e as seguradoras estão com alternativa ganhadora.

Especialistas do Ramo Vida apontam explicações. José Toscano Bonito, da Direção de Negócio Vida da Fidelidade, Miguel Costa Santos, Head Of Marketing & Commercial na GamaLife, Valdemar Duarte, General Manager da Ageas Pensões e Ana Paulo, Head of Life e membro do Conselho de Administração da Zurich Vida.

No último ano os depósitos bancários de particulares aumentaram cerca de 20 mil milhões de euros, revelou esta terça-feira Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, na assembleia da República. Segundo o ex-ministro o mesmo não se verificou nas crises anteriores de 2008/2009 e de 2012/2013.

Estes excedentes levaram os depositantes a procurarem outros veículos de investimento, pelo menos parcialmente. De entre os produtos seguradores é visível uma deslocação dos investimentos para seguros de Vida ligados a fundos de investimento. Este segmento cresceu nos primeiros quatro meses 146% relativamente a igual período de 2020. Fonte do mercado resumiu a situação a ECOseguros: “Os Bancos deixaram de ter oferta (ou desincentivam-nas totalmente com taxas de 0,01%) e mesmo as seguradoras praticamente não têm oferta de produtos de capitalização ou seguros PPR ou, tendo, também apresentam taxas muito baixas o que contrasta com as boas rentabilidades para prazos longos que os seguros ligados a fundos (unit linked) têm apresentado, mesmo em carteiras com baixa ou moderada exposição ao risco”.

O crescimento deste tipo de produtos Vida está refletido em dados da ASF, entidade supervisora do setor, que demonstram esta subida de 2,5 vezes no volume de compras de seguros e um reposicionamento no topo do ranking das seguradoras em 2021.

A Fidelidade quadruplicou a sua quota de mercado para 27,58%, multiplicando por 8 as vendas de seguros de Vida ligados a fundos de investimento. Para José Toscano Bonito, da Direção de Negócio Vida da companhia, o crescimento da companhia deveu-se a “termos definido este segmento como prioritário na nossa estratégia de médio prazo, quer em termos de oferta quer em termos de dinamização comercial. Para o gestor, estes são os primeiros resultados dessa estratégia mas teremos muito mais dinamismo neste segmento a médio prazo”, afirma. Já Ana Paulo, Head of Life e membro do Conselho de Administração da Zurich, que mais que triplicou a sua produção neste segmento, refere que “os consumidores têm procurado alternativas para aplicação das suas poupanças e estes produtos apresentam flexibilidade e liquidez que vai de encontro aos requisitos procurados pelos clientes”.

Mais direto na caracterização é Miguel Costa Santos, Head Of Marketing & Commercial da GamaLife, para o gestor a explicação para esta subida – a GamaLife multiplicou a sua produção 6,7 vezes em 2021 – deve-se à redução da oferta de produtos com capital garantido. “Trata-se apenas de redução da oferta de produtos de seguros de vida financeiros, o que faz com que as alternativas dos investidores que querem investir neste tipo de produtos, se resumam praticamente só aos unit linked, diz. Se há dois anos ainda existiam produtos com rendimento garantido, hoje torna-se difícil encontrá-los com capital garantido a 100%, mas tudo parece melhor que os depósitos bancários.

Valdemar Duarte, General Manager da Ageas Pensões, considera que o crescimento do Grupo via Ocidental – que subiu 65% a sua produção – deve-se ao facto de “termos a nossa oferta cada vez mais robusta em seguros ligados a fundos, que os resultados apresentados em termos de rendibilidades têm sido muito atrativos, que as rendibilidades de mercado neste tipo de produto têm sido interessantes e que as alternativas são depósitos com taxas de quase 0%. O gestor conclui afirmando “apesar de os clientes portugueses terem uma razoável aversão ao risco é cada vez mais claro que para ter uma rendibilidade minimamente atrativa no médio prazo é indispensável assumir algum risco mas sempre de forma ponderada”.

PPR ou Produtos de Capitalização?

O fenómeno dos crescimentos do segmento Vida – produtos ligados a Fundos de Investimento tem-se verificado de forma semelhante quer em PPR quer em produtos de capitalização. “Não existem diferenças significativas entre ambos”, diz Costa Santos da GamaLife, enquanto para Toscano Bonito da Fidelidade “os produtos de capitalização têm tido mais sucesso nesta fase”. Reforça que a Fidelidade irá continuar a apostar no segmento de PPR e em produtos que incentivem uma maior poupança para a reforma. “Teremos muito mais dinamismo e ação comercial em produtos de reforma. É uma aposta estratégica da Fidelidade e que contribui para a sustentabilidade individual e coletiva futura dos nossos Clientes”, justifica.

Ana Paulo considera que tudo depende do objetivo de poupança de cada cliente. “Quer os produtos específicos para a reforma, os PPR, ou os produtos de poupança mais generalistas têm sido alvo do interesse dos consumidores”, diz.

Quanto à força desta tendência a administradora da Zurich Vida refere que “apesar de estes produtos estarem disponíveis no mercado há alguns anos, o atual contexto socioeconómico veio, como em todas as crises anteriores, evidenciar, uma vez mais, a necessidade das famílias possuírem poupanças que lhes permitam atravessar estes períodos de forma mais equilibrada. Por esse motivo a gestora acredita que “os produtos de poupança disponibilizados pelos seguradores são mais um veículo para que os clientes rentabilizem o seu património apresentando condições de flexibilidade, liquidez e rentabilidade muito atrativas”.

“A maior parte das poupanças estão neste momento histórico depositadas em contas bancárias e com prazos curtos”, explica Toscano Bonito por isso “um maior investimento nos mercados de capitais pode ajudar a enfrentar o duplo desafio que as nossas sociedades enfrentarão, com um cenário de baixas taxas de juro e com uma perspetiva de maior longevidade da população” que acrescenta ser para a Fidelidade “uma estratégia de continuidade ao longo dos próximos anos, acreditamos que estes produtos irão acrescentar mais valor aos nossos Clientes, principalmente, no médio/longo prazo”. Miguel Costa Santos acredita que “há espaço para crescer”, mas este gestor da GamaLife não arrisca, “não sei se na mesma dimensão, nem por quanto tempo”, diz.

Todos alinhados: Distribuidor, produtor e cliente

A resposta milionária é a que explique o que aconteceu depois de uma crise que se instalou no segundo semestre de 2019 e que se arrastou até ao início deste ano, com nível de taxas de juro e fiscalidade sem alterações durante este período. Este ressurgimento dos produtos Vida e o seu sucesso também aconteceu por via canal bancassurance. Toscano Bonito considera que há um alinhamento perfeito na cadeia de valor: “No Distribuidor, pela necessidade de desintermediação de Depósitos, por pressão dos custos associados junto do BCE. No Produtor pela necessidade de oferecer produtos de maior valor acrescentado e mais alinhados com a necessidades e expectativas dos clientes e nestes a necessidade de potenciar os seus rendimentos face às tradicionais aplicações de poupança como os depósitos”, conclui.

Ana Paulo refere que a perceção da Zurich é que “a flexibilidade, a liquidez e a rentabilidade são fatores fundamentais para os clientes”, daí que “no atual contexto os consumidores reconhecem nestes produtos uma boa alternativa para investirem as suas poupanças e os seguradores procuram estratégias de investimento atrativas que vão de encontro aos objetivos dos consumidores”, conclui. Miguel Costa Santos remete a resposta para os bancos “são eles que definem a estratégia de vendas, não houve inovação relevante na oferta de seguros de vida financeiros”, para justificar estas mudanças, conclui o gestor da GamaLife.

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