Editorial

Uma remodelação com educação

O Governo arrasta-se à espera de uma remodelação, e todos pedem a saída de Eduardo Cabrita, mas quem tem mesmo de sair é Tiago Brandão Rodrigues, o ministro que mais mal faz ao país

O Governo é uma espécie de morto-vivo, cambaleia, anda aos tropeções, à procura do que o pode segurar, basicamente o dinheiro de Bruxelas. Mas o estado é de tal forma degradado que não haverá solução que não passe por uma remodelação (mas não basta tirar, é preciso lá pôr outros e veremos se não se confirma a tendência dos ‘political jobs for the boys’). Eduardo Cabrita aparece em todos as sondagens como o pior ministro deste Governo, mas as sondagens não nos revelam tudo. E o pior ministro, aquele que mais mal faz ao país, com consequências duradouras no longo prazo, é Tiago Brandão Rodrigues, aquele que deveria ser remodelado com mais urgência, antes que faça mais estragos.

Cabrita é um não-ministro e tudo em que toca estraga. Sucedem-se os casos que revelam um ministro politicamente incompetente, desde logo no caso do homicídio no SEF e na forma como conduziu o processo, mais recentemente com a forma habilidosa como geriu a divulgação do relatório sobre os festejos do Sporting, e até a informação escondida sobre o acidente automóvel em que seguia a elevada velocidade (ainda não se sabe qual…) e que levou à morte de um trabalhador. Tudo isto é muito mau, fragiliza o Estado e as instituições. Mas o que Brandão Rodrigues faz e o que desfaz está a destruir uma geração, a deseducar quem mais precisa da educação para entrar no famoso elevador social (parado há anos), a tirar potencial de crescimento à economia portuguesa, a travar aumentos de produtividade e de competitividade, impossíveis sem educação e formação exigentes.

Tiago Brandão Rodrigues faz muito mal aos alunos, faz muito mal ao país desde 2015, mas o primeiro-ministro parece ter definido agora como avaliação de qualidade política a longevidade em funções. Como António Costa não se importa de ter um Governo a arrastar, a manutenção em funções não é nem pode ser um critério de avaliação. Talvez antes um indicador de falta de competência política.

A produtividade e competitividade de uma economia depende de vários fatores, de capital, mas muito de educação e formação. E Portugal estava a subir nos rankings internacionais que medem a qualidade do ensino e os conhecimentos dos alunos. Um exemplo (porque isto, na educação, demora anos a produzir efeitos e outros tantos a evidenciar a descida de resultados): O TIMSS 2019, um indicador que mede os conhecimentos de alunos do 4º ano em Matemática e Ciências de quatro em quatro anos, revelou uma degradação do ensino. Cito o anterior ministro Nuno Crato, hoje líder da Iniciativa Educação: “Os nossos jovens merecem um ensino que os ensine mais e merecem aprender mais. Não merecem um ensino que volte atrás“. É o que se passa com o ensino desde que Tiago Brandão Rodrigues é ministro (e tem Mário Nogueira, o sempre eterno profissional do sindicalismo, como adjunto). Um ensino para manter o sistema, para criar facilitismo.

Quais foram os resultados em matemática? Em 2019, os alunos portugueses obtiveram um score médio de 525, uma queda de 16 pontos face a 2015, e abaixo do nível atingido em 2011. O fim dos exames não pode deixar de ser uma causa próxima para esta evolução. Mas não só. Há uma certa dimensão de facilitismo, com o eufemismo de ‘aprendizagem’, com medidas várias que os especialistas, como Alexandre Homem Cristo (ler este texto no Observador é essencial), citam.

Da gestão da pandemia no ensino, não é preciso falar. As aberturas e encerramentos, o ensino online sem condições e ainda na semana passada o Tribunal de Contas confirmava o que milhares de famílias sabem por experiência própria. Computadores prometidos, mas comprados tarde e a mas horas e por isso milhares de alunos sem equipamentos para as aulas online. Quem sai mais prejudicado? Os alunos de famílias mais desfavorecidas e que, assim, ficam para trás. Acentuam-se desigualdades. Nestes dois anos letivos, perdeu-se aprendizagem e conhecimento e não há um programa decente e digno desse nome para recuperar o tempo perdido.

Tiago Brandão Rodrigues é o ministro mais perigoso em funções, perigoso para a prosperidade do país nos próximos 20 anos. E agora vem aí outra revisão curricular do ensino da matemática para produzir efeitos a partir de 2022/23. Não é uma questão política ou ideológica entre a esquerda e a direita, são os resultados comparáveis com outros países que deveriam servir para determinar as mudanças. Quando saíram os resultados do TIMMS, Tiago Brandão Rodrigues e o secretário de Estado João Costa apressaram-se a culpar o governo anterior. Pobres alunos, mais mudanças e ruturas, em vez de se consolidar o que está feito, corrigindo o que é necessário, com consequências nos resultados. Pobre país. Depois, não há Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que nos salve.

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