Recursos naturais da Terra esgotados em 2021. A partir de hoje vivemos em défice ecológico

A humanidade usa mais 74% de recursos naturais do que os ecossistemas do planeta conseguem regenerar – ou seja, o equivalente a “1,7 planetas Terra”. Portugal tem pegada ecológica de 2,75 planetas.

Ao fim de 209 dias do ano de 2021, a Humanidade já esgotou mais uma vez os recursos biológicos e naturais que o planeta Terra tem capacidade para renovar durante 12 meses. Depois de em 2020 a data ter sido assinalada um mês mais tarde, a 22 de agosto, este ano o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day, no original, em inglês) volta a registar-se a 29 de julho, tal como aconteceu há dois anos.

Foi precisamente em 2019 que o Dia da Sobrecarga da Terra chegou mais cedo do que nunca, a 29 de julho. Em 2020, foram necessários mais dias (235) para gastar o saldo anual que o planeta nos dá, devido às medidas de confinamento e à redução de atividades económicas provocada pela pandemia COVID-19, que ajudaram a travar as emissões poluentes a nível global.

Atualmente, a humanidade usa mais 74% de recursos naturais do que os ecossistemas do planeta conseguem regenerar – ou seja, o equivalente a “1,7 planetas Terra”. Os portugueses sobem a parada com uma pegada ecológica de 2,75 planetas (os dados mais recentes da Global Footprint Network são de 2017). Foi a partir da década de 1970 que Portugal passou a viver em défice ecológico, mostram os dados.

“A partir do Dia de Sobrecarga até o fim do ano, a humanidade opera com défice ecológico. Este défice é um dos maiores desde que o mundo entrou em sobrecarga ecológica no início dos anos 1970, de acordo com as Contas Nacionais de Pegada e Biocapacidade com base em bases de dados da ONU”, explica o Global Footprint Network (GFN) em comunicado.

Apesar da pandemia persistir mundialmente, a retoma económica já voltou entretanto a acelerar e a recuperação não está a ser tão “verde” quanto o desejado. “Os ganhos modestos na redução do uso de recursos naturais induzidos pela pandemia tiveram vida curta, destacando-se a urgência de conduzir a recuperação económica para um mundo onde todos possam prosperar dentro da capacidade do Planeta”, referiu a GFN.

“Faltando ainda meio ano, já esgotámos a nossa cota de recursos naturais da Terra para 2021 no dia 29 de julho. Se é preciso lembrarmo-nos que estamos à beira de uma emergência climática e ecológica, chegou o Dia de Sobrecarga”, sublinhou Susan Aitken, líder da Câmara Municipal de Glasgow (onde arranca a 31 de outubro a tão esperada COP26), em nome da Global Footprint Network e da Agência Escocesa de Proteção do Ambiente (SEPA).

Os fatores críticos deste pior resultado em 2021 são o aumento da pegada de carbono de 6,6% em comparação com o ano passado, bem como a redução de 0,5% na biocapacidade florestal global devido, em grande medida, a um aumento da desflorestação na Amazónia, Só no Brasil, 1,1 milhões de hectares foram perdidos em 2020 e as estimativas para 2021 indicam um aumento de até 43% na desflorestação face ao ano anterior.

“Uma vez que a Década das Nações Unidas para a Recuperação de Ecossistemas é lançada no Dia Mundial do Meio Ambiente, a 5 de junho, estes dados deixam bastante claro que os planos de recuperação na era pós-Covid 19 só podem ter sucesso a longo prazo se forem adotadas medidas de regeneração e eficiência ecológica dos recursos”, disse por seu lado a CEO da Global Footprint Network, Laurel Hanscom.

Em 2021, a pegada de carbono relativa ao setor dos transportes permanece mais baixa do que os níveis pré-pandémicos. Espera-se que as emissões de CO2 das viagens aéreas domésticas e do transporte rodoviário permaneçam 5% abaixo dos níveis de 2019, enquanto a aviação internacional deve registar um recuo de 33%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA).

Por outro lado, as emissões globais de CO2 relacionadas com a energia devem crescer este ano 4,8% em relação a 2020, à medida que a recuperação económica acelera a procura por combustíveis fósseis. Em particular, a utilização global de carvão deve mesmo aumentar em 2021 e estima-se que contribua com 40% da pegada de carbono total este ano.

“Em novembro, enquanto um mundo cansado voltar as suas atenções para a Escócia e para a COP26, juntos podemos escolher a prosperidade de um-planeta em vez da miséria de um-planeta. Podemos e devemos tirar proveito da pandemia, da notável capacidade global de planear, proteger e avançar a um ritmo necessário. A inovação escocesa ajudou a liderar a Revolução Industrial; em 2021, a Cimeira de Glasgow e o futuro que escolhermos enquanto comunidade, cidade, empresa ou país, oferece esperança real para uma nova revolução impacto-zero” disse por seu lado Terry A´Hearn, CEO da SEPA.

“Que o Dia de Sobrecarga sirva como uma chamada de atenção”, disse a Conselheira Susan Aitken, líder da Câmara Municipal de Glasgow. “Em novembro os olhos do mundo estarão voltados para Glasgow, que recebe a COP26. A Cimeira do Clima deve tomar decisões que garantam ao Planeta um futuro mais seguro e sustentável. Teremos a oportunidade, em Glasgow, de demonstrar ao mundo o que temos feito, unindo-nos como uma cidade para mostrar mudanças reais, para responder à emergência climática e ecológica”

O Dia de Sobrecarga da Terra marca lançamento da campanha “100 Dias de Possibilidades”, antes da COP26

Lançado esta quinta-feira, 29 de julho, pela Global Footprint Network, pela Agência Escocesa de Proteção do Ambiente (SEPA) e pela Schneider Electric, a campanha “100 Dias de Possibilidades” destaca oportunidades de atuação para cada país, cidade, ou empresa para se prepararem para as consequências do Dia da Sobrecarga do Planeta.

Os representantes dos governos de todo o mundo nacionais reunir-se-ão daqui a cerca de 100 dias na que pode ser considerada a última oportunidade para uma cimeira para a ação climática global – COP26 em Glasgow.

A iniciativa “100 Dias de Possibilidades” apresenta soluções testadas e escaláveis que contribuem para levar a Pegada Ecológica da humanidade ao equilíbrio com os recursos biológicos que os ecossistemas naturais do planeta podem regenerar de forma sustentável.

Os exemplos incluem a redução do desperdício alimentar, a gestão de gases de refrigeração, operações de pecuária em pequena escala, energia inteligente, cimento com baixo teor de carbono, estratégias municipais de desenvolvimento orientadas pela Pegada Ecológica, bem como iniciativas de turismo de baixo impacto.

“Não há nenhum benefício em aguardar para tomar medidas, independentemente do que venha a acontecer na COP,” disse Laurel Hanscom, CEO da Global Footprint Network. “A pandemia demonstrou que a humanidade pode mudar rapidamente perante um desastre, apesar de custos económicos e humanos. Os governos, instituições e indivíduos que se prepararem vão lidar melhor com as mudanças climáticas e as restrições de recursos naturais. Um consenso global não é pressuposto para reconhecermos o risco a que se está exposto, por isso temos de decisivamente agir agora, estejamos onde estivermos”, acrescentou.

Embora anunciada por muitos, a recuperação verde é lenta e os negócios “tradicionais” ainda prevalecem, alimentados por objetivos políticos e financeiros de curto prazo. As oportunidades para agir existem em todos os setores da economia: tecnologias ou serviços comercialmente disponíveis, estratégias de desenvolvimento dos governos locais, políticas públicas nacionais, ou melhores práticas apoiadas por iniciativas da sociedade civil e do meio académico.

“É urgente a tomada de consciência para a necessidade de alterar o paradigma de desenvolvimento no sentido de promover uma economia do bem-estar, que garante qualidade de vida para todos dentro do respeito pelos limites do planeta” referem os responsáveis da campanha.

Ainda é possível adiar o Dia da Sobrecarga do Planeta?

Existem diversas soluções que podem ser adotadas coletiva ou individualmente e que podem ter um impacto significativo no tipo de futuro que pretendemos, entre eles: a forma como produzimos os alimentos e a dieta que seguimos, a quantidade de bens que consumimos, a forma como nos movemos, as fontes
de energia que utilizamos, quantos filhos temos, que área salvaguardamos para a vida selvagem.

O que podemos alcançar com algumas alterações, de acordo com a associação ambientalista Zero:

  • A redução da pegada de carbono em 50% permitir-nos-á acionar o cartão de crédito ambiental 93 dias mais tarde (início de novembro).
  • Se reduzirmos a nossa pegada ligada à mobilidade em 50% e se assumirmos que um terço dos km são substituídos por transporte público e os restantes pela bicicleta e andar a pé, acionaremos o cartão de crédito ambiental 13 dias depois (para a segunda semana de agosto).
  • Se reduzirmos o consumo de carne em 50% e substituirmos essas calorias por uma alimentação vegetariana, o cartão de crédito seria acionado 17 dias depois (meados de agosto), com 10 desses dias a resultarem das emissões de metano evitadas.
  • A redução do desperdício alimentar para metade permitirá atrasar o Dia da Sobrecarga do Planeta em 13 dias (para a segunda semana de agosto).

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