União Europeia decide retirada de civis e diplomatas do Afeganistão
“É preciso dialogar com as autoridades em Cabul, independentemente de quem sejam”, defende Joseph Borrell. UE quer também evitar vaga de imigração.
Os chefes da diplomacia da União Europeia (UE) decidiram esta terça-feira avançar com a retirada de civis e diplomatas do Afeganistão, isto é, pelo menos 400 pessoas, devido à “situação perigosa”, anunciou o Alto Representante para Política Externa.
“A principal conclusão deste encontro é que o primeiro objetivo, a prioridade, é assegurar a retirada nas melhores condições de segurança dos cidadãos europeus ainda estão presentes no país e também dos cidadãos que trabalham connosco há mais de 20 anos”, disse o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
“Se eles quiserem deixar o país, não podemos abandoná-los”, acrescentou, falando em conferência de imprensa após uma videoconferência extraordinária convocada para esta tarde.
Na ocasião, o responsável precisou que Espanha se disponibilizou a receber temporariamente estes cidadãos e ajudá-los com a situação dos vistos e que Itália comprometeu-se a facilitar a ponte aérea.
Josep Borrell disse ainda que França se disponibilizou para “fornecer segurança militar no terreno”.
“Isto vai permitir ter a estrutura necessária para a retirada a quase 400 pessoas e respetivas famílias que têm trabalhado no apoio à nossa delegação e às nossas missões [europeias] no Afeganistão”, adiantou o responsável, vincando que “a situação no terreno está a desenrolar-se rápido e a tornar-se perigosa”.
Outra conclusão da reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE é que “é necessário assegurar que a nova situação política criada no Afeganistão não conduza a um movimento migratório em grande escala para a Europa” e ainda que “é preciso dialogar com as autoridades em Cabul, independentemente de quem sejam”.
Josep Borrell apontou, ainda assim, que “é preciso tirar lições do que aconteceu”, já que “foram cometidos alguns erros, especialmente sobre a avaliação da capacidade militar do exército afegão para resistir à ofensiva talibã”.
O chefe da diplomacia europeia afirmou, no final de uma videoconferência de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, que “os talibãs ganharam a guerra” no Afeganistão e agora há que “falar com eles”.
“Temos de entrar em contacto com as autoridades em Cabul, quaisquer que sejam. Os talibãs ganharam a guerra, por isso temos de falar com eles, de modo a encetar um diálogo tão cedo quanto possível”, afirmou o Alto Representante da UE para a Política Externa, numa conferência de imprensa.
Segundo Borrell, é necessário para prevenir um potencial “desastre humanitário e migratório”, evitar “o regresso da presença terrorista estrangeira no Afeganistão”, outra questão no topo da agenda da UE, e para garantir a proteção dos direitos humanos e, em especial, das mulheres e raparigas.
Ao mesmo tempo, garantiu, a UE estará particularmente “vigilante relativamente às obrigações internacionais” daquelas que são as novas autoridades afegãs.
Quando interpelado pela única correspondente afegã em Bruxelas, que implorou em lágrimas que a União Europeia não reconheça oficialmente o novo regime talibã, Borrell esclareceu que não se trata de um reconhecimento formal, mas sim a necessidade de entrar em contacto com quem está no poder agora em Cabul.
“Não disse que vamos reconhecer os talibãs, só disse que temos de falar com eles para tudo, até para tentar proteger mulheres e raparigas. Até para isso temos de entrar em contacto com eles”, afirmou, deixando a garantia de que a UE vai utilizar toda o seu “poder económico e político” na defesa do povo afegão e dos direitos humanos.
Por fim, quando questionado sobre se acredita que os talibãs mudaram ao longo dos últimos 20 anos, tal como proclamam, Josep Borrell respondeu que, “aparentemente, parecem os mesmos, mas falam melhor inglês”.
Os talibãs conquistaram Cabul no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.
A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a “vida, propriedade e honra” vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
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