TAP é “espécie de ‘zombie’ buraco negro da nossa economia”
"Mesmo depois de gastarmos isto tudo, é sempre melhor deixar cair quando acharmos que aquilo não tem pernas para andar", diz Susana Peralta.
A economista Susana Peralta apelidou, em entrevista à Lusa, a companhia aérea TAP de “espécie de ‘zombie’ buraco negro” da economia, no âmbito da discussão dos apoios que devem ser dados às empresas em 2022.
Questionada acerca das chamadas empresas “zombie”, que estão em atividade mas em situação débil, dependentes de apoios externos e com dificuldade de cumprir as suas obrigações, Susana Peralta deu dois exemplos distintos da abordagem do Governo: a TAP e a Dielmar.
Considerando que “há empresas que provavelmente têm mesmo de ir à falência”, a professora universitária deu como exemplo a Dielmar, afirmando: “ O Governo, e a meu ver – em todo o caso, com aquilo que pude observar […] – mas parece-me que bem, deixou cair a empresa”.
“O Governo, por exemplo, já não fez isso relativamente à TAP. Temos ali o maior ‘zombie’, que é uma espécie de ‘zombie’ buraco negro da nossa economia, e que o Governo, por alguma razão, quis deixar cair a Dielmar mas não quis deixar cair a TAP… enfim, eu pessoalmente não percebo muito bem porquê”, considerou.
A economista considera que uma empresa deve ser ajudada quando “está com um problema conjuntural” em que a ajuda que lhe pode ser dada “lhe permite rapidamente, num prazo curto – um ano, dois anos, seis meses, não faço ideia – voltar a andar pelo seu próprio pé”.
No caso da TAP, a economista considera que se adiciona o problema do custo afundado.
“‘Ah, agora que já gastei 1.200 milhões de euros na TAP, agora são só mais 800 milhões’. E, enfim, é um raciocínio errado do ponto de vista económico mas a maior parte de nós raciocina dessa forma. E sobretudo as pessoas, muitas vezes, a própria opinião pública tem muito esse raciocínio”, lamentou.
“Mesmo depois de gastarmos isto tudo, é sempre melhor deixar cair quando acharmos que aquilo não tem pernas para andar”, considera Susana Peralta.
Por outro lado, a docente na Universidade Nova de Lisboa salientou que “é muito importante de facto, ir deixando cair empresas sem nunca deixar cair as pessoas”.
“As empresas não comem iogurtes, as pessoas é que comem. Temos sempre de assegurar que as pessoas têm casa comida”, relevou, considerando, por isso, que é “preciso apoiar as pessoas com rendimento, como é evidente”.
No entender da economista, o apoio dá-se “não só com rendimento, mas também com políticas ativas de emprego, políticas de formação”, já que Portugal tem “o dobro da percentagem de adultos sem o ensino secundário” da União Europeia.
Assim, em termos de apoios sociais, Susana Peralta “gostaria imenso de ver um Estado que estendesse o cobertor, que o fizesse menos esburacado”.
“Ao estender estás a ir a mais pessoas, ao o fazer menos esburacado estás a fazer com que o crivo em cada nível de rendimento ou de educação seja uma peneira mais apertada para ter mais gente dentro. Isso vai custar mais dinheiro, mas eu acho que é muito importante dar segurança às pessoas”, considerou.
“Nós somos todos frágeis do ponto de vista psicológico”, e durante a pandemia de Covid-19 viveu-se “um ano e meio em que as pessoas viveram completamente fora do seu esquema habitual”, afirmou a economista.
“Uma das maneiras de lhes dar segurança, e não é a única, é ter a certeza que as pessoas chegam ao fim do mês com dinheiro para pagar as contas”, vincou.
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