“A prestação de contas vai mudar completamente”, diz bastonária da OCC

  • Lusa e ECO
  • 3 Outubro 2021

Paula Franco prevê que a “curto prazo” vão ser, cada vez mais, incluídas “questões fundamentais” no reporte financeiro, como a informação social ou a distribuição de dividendos das empresas.

A prestação de contas das empresas, baseada no reporte financeiro, está ultrapassada e vai “mudar completamente”, para incluir o desempenho social, ambiental ou distribuição de lucros, do interesse de bancos e trabalhadores, revelou a Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC).

O relato financeiro, hoje em dia, é um relato que se baseia em questões muito conservadoras, em que as empresas não se diferenciam”, revelam apenas rácios positivos ou negativos que indiciam o cumprimento de compromissos e obrigações, afirmou a bastonária da OCC, Paula Franco, em entrevista à Lusa.

O reporte financeiro é “muito pouco” para o que, atualmente, utilizadores de informação querem saber sobre as empresas, explica a bastonária, defendendo que a “curto prazo” vão ser, cada vez mais, incluídas “questões fundamentais” como a informação social ou a distribuição de dividendos das empresas, que revelem como se comportou em relação aos seus investidores e as preocupações no âmbito geral.

“A prestação dos contabilistas vai mudar completamente”, afirma a bastonária, porque a realidade, daquilo que a informação financeira revela, e que é usada por quem está a avaliar e a distinguir empresas, para investir ou tomar decisões, tornou “extremamente importante” diferenciar empresas através de novas “métricas”, que não as financeiras como a solvabilidade ou rentabilidade das empresas.

As métricas financeiras vão “deixar de ser o centro da questão” e os contabilistas vão preocupar-se, cada vez mais, com outras questões e preocupações das empresas, que vão verter na prestação de contas, juntando à tradicional informação financeira.

É possível, num curto prazo de tempo, os bancos, para atribuírem financiamento às empresas, fazerem uma avaliação baseada, também, em métricas não financeiras (…) com informação sobre que preocupações ambientais a empresa teve, preocupações sociais e, até, com a sociedade em geral, para se diferenciar de outras”, estimou Paula Franco.

A bastonária lembrou ainda que o acesso a financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) exige também uma distinção das empresas por esse tipo de preocupações, e com informação qualitativa, que se junta à quantitativa, e que pode ser usada para um fornecedor decidir aceitar determinado cliente ou para um trabalhador avaliar se a empresa que se quer candidatar tem preocupações com o seu futuro.

Paula Franco iniciou funções na Ordem em março de 2018 e, há duas semanas, entregou a sua recandidatura, para o próximo quadriénio, às eleições para os órgãos sociais da OCC, no mandato 2022-2025, marcadas para 18 de novembro. A Ordem conta com cerca de 68 mil membros inscritos.

Ordem dos Contabilistas confiante na inclusão da Segurança Social nas férias fiscais em 2022

A Ordem dos Contabilistas Certificados revelou também a expectativa sobre a inclusão das obrigações relacionadas com a Segurança Social nas férias fiscais já no próximo Orçamento do Estado, no seguimento de conversações com o Governo, avançou a bastonária.

“Temos a expectativa de que, já para o OE 2022, fique incluída a Segurança Social nas férias fiscais. Temos essa expectativa, esse compromisso e acreditamos que vai acontecer”, afirmou Paula Franco, em entrevista à Lusa, adiantando que essa inclusão tem sido “conversada” com o Governo e que só pode anunciá-la como certa quando for transformada em lei.

As férias fiscais, criadas este ano por lei publicada em fevereiro, permitiram aos contabilistas melhor planear a agenda profissional e usufruir de descanso sem serem confrontados com notificações, mas mantêm ainda as obrigações relacionadas com a Segurança Social e Fundos de Compensação, ainda de fora dessas férias.

As férias fiscais foram fundamentais para recuperar o descanso necessário, porque a exigência [durante a pandemia] foi muito grande”, considerou Paula Franco, destacando o cansaço psicológico extremo da maior parte dos contabilistas, no ano que passou, devido à pandemia, que alterou rotinas e trouxe obrigações novas a estes profissionais, mantendo as anteriores.

“Os contabilistas foram psicólogos, acompanharam os empresários, viveram os momentos de maior fragilidade e de pressão dos empresários, tentando dar-lhes alento para conseguirem ultrapassar, mas eles próprios viviam isso no dia a dia”, salientou Paula Franco.

A pandemia da doença Covid-19 tem levado o Governo a flexibilizar as datas para o cumprimento de várias obrigações declarativas fiscais, bem como para o pagamento de impostos, argumentado que tal adaptação é um mecanismo facilitador do cumprimento voluntário das obrigações dos contribuintes.

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