David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens recebem Nobel da Economia

A Real Academia Sueca das Ciências atribui o galardão deste ano a David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens, pelos avanços na utilização das “experimentações naturais” em ciências sociais.

David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens são os vencedores do Nobel da Economia, anunciou esta manhã a Real Academia Sueca das Ciências. Os três professores em universidades norte-americanas receberam o galardão pelo trabalho pioneiro no uso das “experimentações naturais” para compreender efeitos causais na política económica,

No primeiro caso o comité do prémio distingue “as contribuições empíricas sobre economia do trabalho”. David Card, nasceu no Canadá em 1956, doutorou-se na Universidade de Princeton e é atualmente professor de Economia em Berkely, na Universidade da Califórnia.

A outra metade do prémio de 10 milhões de coroas suecas é dividida entre Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, que receberam o galardão, pela sua “contribuição metodológica para a análise de relações causais”. O primeiro nasceu em Columbus, no estado do Ohio, em 1960, também se doutorou em Princeton e é professor de Economia no Massachussets Institute of Technoloy (MIT). O segundo nasceu na Holanda em 1963, doutorou-se na Universidade de Brown, em Providence, e é professor de Economia e Econometria Aplicada na Universidade de Stanford.

“Muitas das grandes questões das ciências sociais estão relacionas com causa e efeito. Como a imigração afeta os níveis salariais e de emprego? Como uma educação mais longa afeta o rendimento futuro de alguém? Essas perguntas são difíceis de responder porque não temos nada para usar como comparação. No entanto, os laureados deste ano mostraram que é possível responder a essas e outras perguntas usando experimentações naturais”, justifica a Real Academia Sueca das Ciências. “A chave é usar situações em que eventos fortuitos ou mudanças de política resultem em grupos de pessoas serem tratados de maneira diferente, de forma semelhante aos ensaios clínicos em medicina”.

David Card recorreu a “experimentações naturais” para estudar o impacto do salário mínimo, emigração e educação no mercado de trabalho. Segundo a Real Academia Sueca das Ciências, os seus estudos mostram que “o aumento do salário mínimo não leva, necessariamente, à perda de postos de trabalho”. Concluiu também “que os recursos das escolas são muito mais importantes para o sucesso futuro dos alunos no mercado de trabalho do que se pensava anteriormente“.

Joshua Angrist e Guido Imbens demonstraram, em meados da década de 90, “como conclusões precisas sobre causa e efeito podem ser tiradas de experimentações naturais”.

É um prémio inteiramente merecido na medida em que estes três investigadores contribuíram decisivamente para o aumento da credibilidade deste tipo de avaliações, ao ponto de ser corrente falar numa “revolução de credibilidade” que o seu trabalho trouxe à economia.

Pedro S. Martins

Professor da Nova SBE

“É um prémio inteiramente merecido na medida em que estes três investigadores contribuíram decisivamente para o aumento da credibilidade deste tipo de avaliações, ao ponto de ser corrente falar numa ‘revolução de credibilidade’ que o seu trabalho trouxe à economia, assinala Pedro S. Martins, professor da Nova SBE, num comentário enviado ao ECO.

“Antes dos seus contributos, muitos estudos tinham dificuldade em separar correlações de causalidade, fazendo uma utilização limitada do conceito de ‘contrafactual’. Esta situação restringia significativamente o potencial de aplicação desses resultados, nomeadamente ao nível das políticas públicas. No entanto, Card, Angrist e Imbens conseguem desenvolver metodologias que combinam o rigor das avaliações das ciências naturais (como nos ensaios clínicos de novos medicamentos ou vacinas) com o contexto específico das ciências sociais”, acrescenta Pedro S. Martins.

Fast-food e salário mínimo

O professor de Economia recorda um estudo famoso de 1994, onde Davi Card (e um co-autor, Alan Krueger) comparam a evolução do emprego em restaurantes de fast-food no estado de Nova Jersey – que tinha aumentado significativamente o salário mínimo – com restaurantes semelhantes na região vizinha do estado limítrofe da Pensilvânia – cujo salário mínimo tinha permanecido inalterado.”

“De forma surpreendente à luz da investigação da altura, Card e Krueger não encontram efeitos negativos do aumento do salário mínimo no emprego. São resultados que tiveram impactos significativos em outros países, influenciando a introdução do salário mínimo em países como o Reino Unido e a Alemanha”, sublinha Pedro S. Martins. “No entanto, o próprio Card admite a possibilidade de os resultados que ele encontrou num determinado país e num determinado ano não serem necessariamente os mesmos em outros contextos económicos. Avaliar com rigor e transparência é o mais importante”, acrescenta.

“Os estudos de Card sobre questões centrais para a sociedade e as contribuições metodológicas de Angrist e Imbens mostraram que as experimentações naturais são uma fonte rica de conhecimento. A contribuição combinada dos laureados revolucionou o trabalho empírico nas ciências sociais e, consequentemente, a capacidade para responder as questões importantes para todos melhorou imenso”, afirmou Peter Fredriksson, presidente do Comité do Prémio de Ciências Económicas.

Este galardão não foi criado por Alfred Nobel, mas posteriormente pelo banco central sueco, daí ter a designação de “Prémio do Banco da Suécia de Economia em Memória de Alfred Nobel”. Foi instituído em 1968, através de uma doação do Sveriges riksbank à Fundação Nobel e atribuído pela primeira vez em 1969.

No ano anterior, esta distinção tinha sido atribuída aos norte-americanos Paul Milgrom, 72 anos, e Robert Wilson, 83 anos, pelo trabalho inovador na melhoria da teoria dos leilões e inventarem novos formatos mais eficientes de leilões.

A entrega do Nobel da economia encerra as cerimónias deste ano que já distinguiu Maria Ressa e Dmitry Muratov com o Nobel da Paz, pela “luta corajosa” pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia.

O prémio de Física foi para Syukuro Manabe e Klaus Hasselmann, pelos estudos que realizaram sobre a influência da ação humana no clima. Giorgio Parisi foi laureado pelas suas “contribuições inovadoras para a nossa compreensão dos sistemas físicos complexos”.

O alemão Benjamin List e o britânico David MacMillan receberam o galardão da Química, pelo desenvolvimento de uma nova técnica de construção molecular, a organocatálise, mais sustentável. Na medicina foram distinguidos David Julius e Ardem Patapoutian, pelo seu trabalho na descoberta dos recetores da temperatura e do toque.

Abdulrazak Gurnah, escritor nascido em Zanzibar, recebeu o prémio Nobel da Literatura, “pela sua penetração descomprometida e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no espaço entre culturas e continentes”.

(Notícia em atualização)

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