AON: Risco cibernético tornou-se a maior preocupação dos gestores em 60 países até 2024
Pandemia confirma-se “cisne negro” com impacto catastrófico. Número de empresas que medem risco segurável diminuiu face a 2019. Saiba quais os principais riscos para empresas portuguesas.
A Aon acaba de apresentar os resultados anuais do seu inquérito global à gestão de risco, um exercício que envolve milhares de responsáveis de empresas em dezenas de países do mundo. Os dados nacionais permitem ordenar as ameaças que mais preocupam decisores de empresas e organizações em Portugal.
A desaceleração / recuperação lenta da economia é o risco que mais preocupa as empresas locais, sendo este uma consequência direta do segundo maior risco deste ranking: o risco pandémico. Adesaceleração económica é também percecionada pelos inquiridos deste relatório como um dos riscos que maiores perdas poderão trazer aos negócios, ficando atrás do risco de pandemia. Apesar disto, “apenas cerca de 25% das empresas estão a implementar medidas para o mitigar,” nota a Aon.
Para Carlos Freire, recém-nomeado CEO da Aon Portugal, “estas conclusões poderão justificar-se pela significativa volatilidade e incerteza em relação à forma como as economias irão reagir ao cenário pós-pandemia, o que reforça a imperatividade de cada empresa desenvolver e implementar uma estratégia de gestão de risco capaz de reduzir o impacto que os riscos originados ou escalados pela pandemia podem trazer ao seu negócio”.
Globalmente, o risco cibernético emerge como a maior ameaça para as organizações de todo mundo, mantendo-se risco principal num horizonte alongado até 2024, aponta o trabalho de investigação que Aon Plc realiza a cada dois anos e que, este ano, auscultou mais de 2 300 líderes de organizações privadas e públicas em 60 países.
O perigo de ataques cibernéticos foi potenciado pela pandemia, na medida em que as empresas – obrigadas a confinarem os colaboradores ao regime de teletrabalho -, apostaram mais na utilização das tecnologias da comunicação e na transformação digital, salienta a consultora de risco e corretora global de seguros. Eis o Top 10 de riscos para o universo do inquérito mundial:
Os receios dos decisores de risco são justificados, afirma a corretora global de seguros: A escalada no número de ataques cibernéticos bateu todos os recordes. No seu Cyber Security Risk Report 2021, a corretora de seguros refere uma subida de 400% entre o primeiro trimestre de 2018 e igual período de 2020. Só na primeira metade de 2021, o volume de pagamentos efetuados em eventos de ransomware acercou-se dos 305 milhões de dólares, superando o valor contabilizado em todo o ano 2020, acrescenta o relatório, citando a SonicWall, uma empresa especialista em cyber.
“Cisne negro”: Pandemia com impacto prolongado na economia global
A pandemia COVID-19 exacerbou a volatilidade das cadeias de fornecimento global. O Top 10 do relatório 2021 Global Risk Management Survey, que a Aon acaba de divulgar, demonstra já as consequências que a pandemia está a ter na economia global, como a lentidão da recuperação, a escassez de materiais e componentes, perturbação nas cadeias de abastecimento e distribuição, visíveis através da quebra de produção de chips ou na crise dos combustíveis.
Funcionando como catalisador, a interconexão do risco de crise sanitária global com diversas áreas cruciais para a economia amplificou outros riscos.
Num relatório publicado em maio passado, a Aon já afirmava que as empresas não estão preparadas para lidar com “cisnes negros,” eventos cuja ocorrência é muito difícil antecipar que, quando ocorrem, produzem efeitos com impacto catastrófico. No caso atual, com a doença de Covid-19 ainda presente (com as mutações do coronavírus e eficácia a prazo nas vacinas), o risco pandémico e de crises sanitárias sobe ao 7º lugar do Top 10 depois de sido 60º no inquérito de há dois anos. A perda de rendimento originada pelo risco de pandemia, nos últimos 12 meses, aumentou de 2% em 2019, para 79% em 2021.
Os decisores preveem que, em 2024, os riscos associados à Covid-19 continuem a impactar a atividade das suas organizações, com a disrupção digital a ditar a permanência do risco cibernético como principal ameaça.
Para 2024, o risco de ciberataques e violação de dados irá manter-se principal risco em todos setores abrangidos no inquérito, sendo apontado por respondentes de todas funções, desde CFO (administradores financeiros), CEO (presidentes executivos) a responsáveis de Recursos Humanos, como o risco principal.
“A pandemia mudou o perfil de muitos riscos existentes, lançando dúvidas sobre a nossa capacidade de os gerir e financiar, e fazendo com que novas exigências do mercado surgissem e se tornassem relevantes. Como mostra o 2021 Global Risk Management Survey, os riscos de longa duração tornaram-se o foco principal do cenário de risco, e será também com uma visão a longo prazo que as empresas terão de se posicionar perante a conjugação de ameaças que irão potencialmente impactar os seus negócio,” complementa Carlos Freire.
Região EMEA: Interrupção de negócios é risco nº 1
O relatório resultante de inquérito global realizado pela Aon refere, por outro lado, que o risco ambiental (18ª posição), os desastres naturais (22ª posição), e os ESG – fatores Ambientais, Sociais e de Governança (31ª posição) são apontados como “riscos subvalorizados pelas empresas, uma vez que continuam a ocupar posições de pouco destaque no ranking dos principais riscos.” Em 2020, os desastres naturais ocorridos em todo o mundo resultaram em cerca de 220 mil milhões de euros em prejuízos económicos, nota a companhia.
Detalhando os riscos percecionados atualmente e os que se perspetivam para daqui a três anos, o estudo particulariza os resultados por regiões. Na geografia Europa Médio Oriente e África (EMEA), o Top 3 de riscos perfila-se assim: #1 Interrupção de negócio; #2 Desaceleração económica e #3 Risco de preços e escassez de commodities. A projeção para 2024 aponta para: #1 Ciberataques/Fuga de dados; #2 Risco de preços e escassez de materiais (commodities); #3 Desaceleração económica e lentidão da retoma.
Número de empresas que mede o seu risco segurável diminui
Considerando tratar-se de “tendência preocupante”, o relatório indica que o número de empresas que medem o custo total do risco segurável (TCOIR – Total Cost of Insurable Risk) continua a diminuir, uma vez que 41% dos inquiridos disseram que as suas empresas medem o TCOIR, contra 43% em 2019. A percentagem que mede custo do risco segurável é particularmente baixa na Ásia-Pacífico e na Europa, com 33% e 36%, respetivamente.
Desde 2019, data do inquérito anterior, as empresas em todo o mundo tiveram de enfrentar uma “tempestade perfeita – um mercado de seguros desafiante com pressão sobre a capacidade, cobertura e custo”, juntamente com o aparecimento e aceleração de riscos que, pela sua natureza, “são difíceis de compreender e abordar”.
Em certa medida, o inquérito deste ano reflete estes desenvolvimentos, avança a Aon explicando que 65% dos inquiridos indicam aumento no seu custo total de risco e incrementos prevalecentes em todas as geografias e empresas de todas as dimensões. Na Europa, 70% dos inquiridos consideram que o custo de riscos seguráveis está a subir, percentagem que, no perímetro geográfico auscultado, só é inferior aos 80% reportados na região norte-americana.
No entanto, espelhando resposta de inquiridos no Médio Oriente e em África, a Aon espera que nos próximos meses, mais empresas adotem abordagens mais científicas para medir o seu TCOIR, pois 60% do universo auscultado na região já diz que as suas empresas medem esse indicador de custo, contra 53% em 2019.
Os dados analisados nesta edição do Global Risk Management Survey foram obtidos no segundo trimestre de 2021 através de inquéritos conduzidos em 11 línguas diferentes. O documento apresenta conclusões com base em respostas recolhidas junto de 2 344 decisores da área de risco em 16 setores económicos, incluindo PME e grandes empresas de 60 países de todo o mundo.
De todas empresas e organizações inquiridas, mais de 80% distribui-se pela Europa (representando 42% do total) e Américas (com 23% na América Latina e outros 18% América do Norte).
(Notícia atualizada às 14h42 com mais informação)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
AON: Risco cibernético tornou-se a maior preocupação dos gestores em 60 países até 2024
{{ noCommentsLabel }}