Serviços digitais na Saúde: Acesso a dados e interoperabilidade são prioridades
Um evento reunindo mais de 15 especialistas abordou desafios a superar para melhorar a jornada de utentes e clientes de serviços digitais de saúde (e-Saúde). Multicare e Médis participaram.
Um webinar reunindo mais de 15 especialistas apresentou conclusões de dois estudos, um realizado junto de profissionais de tecnologia ligados à Saúde e outro junto dos cidadãos. Os interveninentes discutiram novas soluções de serviços digitais de saúde (e-saúde) para a população portuguesa, apontaram iniciativas que podem aumentar a adoção de serviços digitais por parte dos cidadãos e debateu a necessidade de efetiva interoperabilidade entre entidades públicas e privadas.
No evento “Digital Health – Melhorar a Experiência dos Serviços Digitais de Saúde” participaram , entre outros convidados e oradores, André Rufino, Healthcare Ecosystem Director e Responsável do Programa de Transformação da Médis (grupo Ageas) e Maria João Sales Luís — Administradora da Multicare (grupo Fidelidade). Maior interoperabilidade e interconexão nos serviços digitais de saúde significaria ganhos para todos os interessados (operadores públicos e privados e os cidadãos) coincidiram os intervenientes na discussão.
Representando seguradora de Saúde do grupo Fidelidade, Maria Luís referiu que, “entre abuso, desperdício e fraude, as seguradoras contam com entre 10% a 15% de gastos.” As seguradoras conseguem ter essa perceção “porque pagamos,” resumiu a administradora da Multicare. Quanto à partilha de dados: “Para nós, o doente poder ser o controlador da sua saúde é fundamental e é onde estamos a investir.” A seguradora acede a dados hospitalares (de saúde) apenas “para os fins a que eles se destinam,” disse.
Referindo investimentos que o grupo faz há uma década no desenvolvimento dos serviços digitais de Saúde, a administradora da Multicare mencionou “adesão fantástica” à oferta de medicina online, onde a prestadora registou “140 mil consultas em 2020” e que continua com elevada taxa de adesão este ano.
“Consciencializar as pessoas” de que são individualmente responsáveis pela preservação da sua saúde é importante, disse, acrescentando que as seguradoras poderão ter um papel importante nesse aspeto, “porque seguram 30% da população”.
A questão da interoperabilidade “é fundamental”, sublinhou André Rufino (Médis-grupo Ageas), considerando que as pessoas “navegam num ecossistema alargado”. Sobre a utilização de dados dos clientes, a Médis “nunca faz pricing de acordo com o estado de saúde dos clientes,” explicou. Para o responsável da Médis, uma seguradora deve conseguir “prestar um serviço de valor acrescentado com a informação” que o cliente disponibiliza. Ainda na temática dos dados, André Rufino corroborou que o cliente “é soberano” sobre a sua informação. Mas, insistiu, que é importante os utilizadores partilharem dados clínicos “com quem lhes gera valor.”
Serviços digitais na Saúde
O evento nas instalações da Roche, em Lisboa, foi promovido pelo Movimento para a Utilização Digital Ativa (MUDA) em conjunto com o próprio laboratório farmacêutico e a consultora Deloitte, que apresentou o estudo “Serviços Digitais no Sector da Saúde em Portugal,” resumido por Joaquim Duarte Oliveira, Life Sciences & Healthcare Business Consulting Leader na Deloitte. O trabalho recolheu perceções de 50 gestores e executivos ligados ao sistema de Saúde, realçando 3 principais áreas onde sentem que se produziram melhorias: Prescrição eletrónica (de medicamentos), o Registo de Saúde Eletrónico Nacional do Utente e a app MySNS.
Apontando desafios que, segundo mais de metade dos inquiridos (55%) considera que podem ser colmatados num horizonte a 5 anos, os respondentes referiram a Literacia digital dos cidadãos, Competências digitais dos profissionais de saúde e Infraestrutura tecnológica. Perto de 40% dos inquiridos também consideram que RGPD e Cibersegurança são desafios a superar.
Para 67% do universo inquirido a interoperabilidade dos dados é prioridade na transformação digital do setor, preocupação com mais peso do que telemedicina (48%) e Registo de Saúde Eletrónico (apontado por 65% dos inquiridos).
Em conclusão, os líderes digitais do setor centram perspetivas em três desafios: literacia digital dos cidadãos, competências digitais dos profissionais de saúde; Privacidade, propriedade e segurança dos dados pessoais.
Serviços digitais mais utilizados
Um segundo estudo, apresentado por António Salvador, presidente da GFK Portugal, lançado por esta empresa com o objetivo de conhecer o comportamento digitais dos portugueses com enfoque especial no conhecimento e utilização de aplicações na área da Saúde, inquiriu cerca de mil pessoas (com idades entre 35 e 64 anos) entre abril e maio de 2021.
Este trabalho “Serviços Digitais mais Utilizados pelos Portugueses,” que exclui a população com mais de 65 anos (que representa 22% dos residentes), mostra que 66% dos inquiridos utiliza aplicações ou serviços na área da Saúde através da internet, sendo que em maioria, os mais utilizados nos últimos dois anos foram as prescrições médicas eletrónicas, o portal ou site do SNS e os “exames sem papel”.
A mesma análise indica que entre as aplicações de saúde ou bem-estar mais usadas no telemóvel são Google Fit/Apple Health/Huawey Health, somando as 3 cerca de 16% das respostas. Questionados sobre a razão porque não usam aplicações ou serviços de saúde, 64% dos inquiridos justificou “falta de hábito.”
O inquérito também pôde captar a perceção que os portugueses têm das doenças crónicas. Entre os que declararam voluntariamente sofrer de doença crónica, o estudo da GKF questionou sobre se utilizam algum serviço específico para monitorizar a doença através da internet. As respostas permitiram concluir que “apenas 13 indivíduos (6% dos que declararam ter doença crónica) afirmaram ser utilizadores de serviço através da internet para monitorização da doença, revelou Salvador.
Entre outros participantes do webinar, Catarina Alvarez, Psicóloga e Responsável pela Comunicação Institucional da Associação Alzheimer Portugal, focou-se no tema “Dados em Saúde dos Cidadãos e para os Cidadãos” e apresentou resultados de um grupo de trabalho que integrou cerca de 20 associações e entidades que representam doentes de diversas patologias e outras ainda que subscreveram as conclusões do think tank ACAD (Academia para a Capacitação de Associações de Doentes).
Dos Cidadãos para os Cidadãos
“A informação de saúde é propriedade da pessoa,” introduziu Catarina Alvarez citando disposição da Lei de Bases da Saúde (Lei nº95/2019). Reproduzindo posição do think tank ACAD, enunciou dois princípios basilares, nomeadamente o “exercício efetivo e simplificado do direito ao acesso aos dados de saúde junto de uma instituição de saúde” e o “exercício efetivo e simplificado da Propriedade dos dados junto de quem os detenha e relativamente a quem o cidadão decida comunicar os seus dados de saúde”.
Depois de focar a importância da interoperabilidade e outras condições (localização de armazenamento e cibersegurança), Catarina Alvarez referiu-se ainda a aspetos como nível de Proteção: “é necessário fiscalizar o cumprimento do RGPD e desenhar modelos de fiscalização” e “proibir que determinadas entidades terem acesso aos dados dos cidadãos,” referiu. Já ao nível da Execução, o think tank ACAD defende que dever ser tornada consequente a disponibilização dos dados, transformando os dados em saúde em benefícios concretos para os doentes em particular, e para a população em geral.
“Se queremos melhorar a experiência dos serviços digitais de Saúde” deve ser colocado o foco “na pessoa com doença,” do ponto de vista das Pessoas com doença e de quem os representa,” complementou.
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