Stratio. “Não consideramos mudar de país. Não é relevante para o crescimento do negócio”

Rui Sales, cofundador e presidente da Stratio, revela quais os planos da tecnológica depois da startup ter levantado 10,6 milhões de euros numa ronda série A.

Depois de levantarem 4 milhões de euros numa ronda seed, a portuguesa Stratio acaba de fechar uma ronda de série A de 10,6 milhões de euros para acelerar a expansão da startup e duplicar até ao final do próximo ano a equipa, para 120 colaboradores.

Lançada em 2017 por Ricardo Margalho (CEO) e Rui Sales (presidente), a startup portuguesa trabalha com cinco das 10 maiores frotas de transportes a nível mundial, tendo os veículos equipados com a sua tecnologia, que usa a inteligência artificial para em tempo real ajudar as companhias de transportes a evitar avarias, tempo de inatividade e emissões para o ambiente, transportando até hoje 1,3 mil milhões de pessoas.

Hoje com 60 colaboradores, até ao final do próximo ano a Stratio quer duplicar a equipa e expandir a presença geográfica da sua plataforma. Mudar a sede da empresa para fora do país é que não está nos planos. “Os nossos investidores, clientes e parceiros estão absolutamente confortáveis com o facto de estarmos em Portugal e a verdade é que quando a tecnologia tem valor, o sítio onde ela é produzida é o menos relevante”, diz Rui Sales.

Levantaram mais de 10 milhões de euros para acelerar expansão e duplicar equipa. Estão presentes nas principais regiões do globo: Europa, América do Norte, América Latina e Ásia. Qual é então o foco em termos de geografia?

Este investimento vai servir para consolidar a nossa posição na Europa que é atualmente o mercado mais maduro para a Stratio. No entanto, e embora estejamos presentes na América do Norte, América Latina e Ásia, existe ainda uma enorme margem de crescimento que queremos capitalizar.

Muitos dos nossos clientes são grandes empresas com operações em vários mercados, o que significa que também estamos a expandir operações com base na forte atividade internacional destas empresas que depois de testarem a nossa solução acabam por decidir apostar ainda mais na nossa tecnologia.

As novas contratações previstas são para reforçar equipa em que mercados? São funções remotas, híbridas… Que perfis procuram?

Sendo a Stratio uma tecnologia única no mercado, um dos nossos focos será contratar pessoas que queiram ajudar-nos a tornar a nossa solução ainda mais robusta e apta para os desafios da indústria. A base do nosso desenvolvimento tem sido a engenharia desenvolvida por equipas com um mindset altamente inovador, que trabalham numa cultura ágil, garantindo que trabalham sempre com as melhores práticas de desenvolvimento e tecnologia de ponta – e é justamente isso que procuramos neste crescimento e que queremos reforçar.

A maioria das equipas da Stratio já trabalham num regime remote first há cerca de dois anos. Temos dois escritórios (Lisboa e Coimbra) para quem tenha vontade e disponibilidade de trabalhar em regime híbrido. As palavras de ordem têm sido flexibilidade e autonomia. As contratações previstas para 2022 — cerca de 60 pessoas — seguirão este modelo, e o nosso foco será encontrar as melhores pessoas com as competências necessárias para os desafios que se aproximam, independentemente de onde estejam. Estas contratações serão para reforçar as várias competências de engenharia da Stratio, que vão desde a IA, Machine Learning, Data Science/Engineering, Engenharia de Software, Sistemas Embebidos e Hardware, até à gestão de de Produto. Paralelamente, temos posições para as equipas de marketing, sales, e outras áreas que vão permitir acelerar bastante as nossas vendas e chegar a cada vez mais pessoas.

Pretendemos tornar a nossa plataforma ainda mais escalável, flexível e ágil, de forma a permitir às empresas de transportes atingirem o seu principal objetivo: utilizarem a manutenção preditiva para nunca mais terem avarias que impactam o transporte de pessoas ou a entrega de produtos. A disrupção na cadeia de abastecimento e na mobilidade são problemas invisíveis mas que todos os dias as pessoas sentem de forma muito significativa. A resposta está numa engenharia de qualidade que permitirá levar a nossa tecnologia ainda a mais empresas.

As perspetivas de entrada em novos mercados são muito boas e estamos bastante confiantes com a aceleração da nossa tecnologia.

Têm a vossa tecnologia implementada em 5 das 10 maiores empresas de transporte do mundo. Quais são essas companhias? Há mais negociações em curso?

As empresas com quem trabalhamos destacam-se pela sua dimensão e presença internacional, com operações em países que vão desde o Canadá à China, e de Singapura ao México. A Keolis por exemplo opera cerca 21.000 veículos em 13 países, da Índia aos EUA, fatura mais de 6 mil milhões de euros ao ano, contando com quase 70.000 trabalhadores. Já o ComfortDelGro Group opera 40.000 veículos em sete países, incluindo frotas em nove cidades chinesas e cobrindo grandes mercados como Singapura e Malásia. A Arriva, RATP Dev ou a Go-Ahead são também líderes em muitos dos mercados onde contam com grandes operações.

Estamos em negociações ativas com algumas das maiores empresas deste espaço que já conhecem a nossa tecnologia e em muitos casos já a testaram e rapidamente perceberam o valor acrescentado. As perspetivas de entrada em novos mercados são muito boas e estamos bastante confiantes com a aceleração da nossa tecnologia em todas estas regiões.

Ao nível da plataforma, que inovações podemos esperar?

Uma das razões que explica o crescimento da Stratio é o impacto da nossa tecnologia nas operações diárias de centenas de milhares de autocarros e camiões. Isso só é possível porque existe uma combinação de Internet of Things (IoT) e Inteligência Artificial (IA) em tempo real e que resulta na produção de informação que ajuda os utilizadores da plataforma a tomar as melhores decisões possíveis no que respeita à manutenção dos veículos. Um exemplo claro é a decisão de fazer uma manutenção numa altura em que esse processo não afeta a rota em questão ou quando estão assegurados outros veículos para executarem um determinado trajeto.

Existe um efeito multiplicador incrível com a utilização da nossa tecnologia — por cada autocarro que não avaria, existem centenas de pessoas que chegam a horas aos seus compromissos ou cada camião que não fica parado à beira da estrada, existem milhares de pessoas que podem obter o produto que precisam.

Em vários casos, clientes nossos só tomaram a decisão de investir em frotas mais sustentáveis porque a nossa tecnologia os ajuda a garantir o retorno financeiro.

Parte do investimento será no reforço nesta nossa capacidade em utilizar inteligência artificial para aumentar a cobertura para mais tipos de falhas diferentes — mais componentes e sistemas dos veículos, assim como construir todas as ferramentas que os nossos clientes precisam para viabilizar financeiramente a sua transição para frotas com zero emissões. A nossa tecnologia é absolutamente crítica nesse aspeto. O investimento que estas empresas precisam de fazer em veículos elétricos é duas ou três vezes mais elevado quando comparado, por exemplo, com os autocarros tradicionais com motores de combustão interna. Muitas empresas ainda não tomaram essa decisão porque não conseguem justificar esse investimento do ponto de vista do retorno financeiro a médio prazo.

É precisamente aqui que a nossa tecnologia tem um grande impacto. As empresas que já utilizam a nossa tecnologia nunca têm os veículos parados nas oficinas nos momentos em que deveriam estar a trabalhar e a contribuir para a amortização desse investimento. Em vários casos, clientes nossos só tomaram a decisão de investir em frotas mais sustentáveis porque a nossa tecnologia os ajuda a garantir o retorno financeiro. No final do dia, a transição para veículos elétricos está muito centrada no quão economicamente viável é esse caminho. A Stratio já demonstrou a múltiplos clientes que com a nossa tecnologia implementada o caminho é claramente o do investimento em frotas elétricas.

Estão sedeados em Portugal. Pensam mudar?

A Stratio é uma empresa 100% portuguesa, com sede fiscal e legal no nosso país. Não consideramos mudar de país porque achamos não ser relevante para o crescimento do nosso negócio.

Achamos que não existem exemplos suficientes de empresas que tomam a decisão de permanecer em Portugal, mas queremos certamente ajudar a mudar esse paradigma. Os nossos investidores, clientes e parceiros estão absolutamente confortáveis com o facto de estarmos em Portugal e a verdade é que quando a tecnologia tem valor, o sítio onde ela é produzida é o menos relevante.

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