Safe-Crop e Lusitania querem revolução no seguro agrícola
Mediadora e seguradora vão além de ajudar agricultores na má meteorologia e lançam seguro agrícola paramétrico para cobrir quebras de produtividade e de preços de mercado.
A mediadora Safe-Crop e seguradora Lusitania lançaram um novo seguro agrícola paramétrico para cobrir quedas de preço e de produtividade. A fórmula indica que quando a produtividade ou os preços de venda pelos agricultores caem, a seguradora poderá pagar a diferença entre o valor da produção e a perda de receita, de acordo com o contratualmente definido. A parceria exclusiva de mediadora e seguradora para estes produtos já havia lançado, durante o ano passado, seguros paramétricos para proteção rendimento da batata, amêndoa e olival.
“O tradicional seguro de colheitas está disponível há muitos anos, mas o rendimento dos agricultores pode ser baixo, mesmo quando a produtividade não é”, explica Filipe Charters de Azevedo da Safe-Crop, “O problema da solução tradicional reside no preço que pode descer de forma abrupta e imprevisível e para o qual não havia, até agora, nenhuma proteção”, conclui.
Os seguros paramétricos diferenciam-se dos tradicionais por avaliarem os sinistros através de índices, dispensando os custos e morosidade da peritagem. No caso deste novo seguro o produtor indica os dados de preço e produtividade do ano anterior e os respetivos comprovativos. Indica ainda o capital mínimo à sua produção, baseado essencialmente nos riscos e custos. No final da campanha avalia-se a taxa de desenvolvimento dos índices escolhidos, multiplicando os preços e as produtividades indicados na subscrição, pelas taxas de crescimento ou de decrescimento indicadas pelos índices. Com esta operação é apurado o preço e a produtividade no final da campanha.
Para que o modelo resulte, o tomador do seguro e a seguradora têm de acertar os índices utilizar. Para este produto da Safe-Crop e Lusitania, os parâmetros são estabelecidos de acordo com o Poolred no preço do azeite, com o Observatório da Andaluzia para o preço da amêndoa e com o INE para a produtividade. Filipe Azevedo explica que “utilizando os indicadores do preço e da produtividade atualizados temos uma estimativa fiável do rendimento que podemos comparar com o capital indicado. Se o rendimento estimado ficar abaixo do capital, o seguro pagará a diferença”. O prazo do pagamento da indemnização, a ter lugar, é conhecido no momento de subscrição do seguro, permitindo um adequado planeamento da conta de exploração do produtor, refere ainda Filipe Azevedo.
Concorrência aperta entre Inovação e tradição
O mercado do seguro agrícola tem mantido ativas apenas a Tranquilidade, Fidelidade e CA Seguros, a repartir prémios de cerca de 25 milhões de euros por ano, estando a Lusitania a entrar agora mas em modelo de apólices não tradicionais.
Filipe Azevedo comenta que a Safe-Crop lançou o produto da batata o ano passado e este “foi bem aceite pelas principais entidades governamentais do setor e pelas entidades associativas, mas temos enfrentado alguns desafios de concorrência entre o seguros de colheita tradicionais e o nosso seguro paramétrico de proteção ao rendimento”.
Segundo o gestor “o seguro paramétrico e de proteção ao rendimento paga mais imposto de selo – pagamos 9%, o seguro de colheitas paga 6% – e também não temos acesso facilitado ao parcelário (o bilhete de identidade da exploração agrícola), aumentando a complexidade de contratação – precisamos de mais papéis”, diz. Além destas limitações este seguro não tem acesso aos apoios estatais nos prémios de seguro, enquanto no seguro de colheitas o apoio varia entre os 60% e os 70%.
No entanto Filipe Azevedo exclama “tivémos esta semana uma boa notícia. Aquando da apresentação de candidaturas a fundos comunitários, os produtores obtêm uma avaliação mais favorável se tiverem seguros que proteja o risco de produção”. Se assim for o seguro da batata, e consequentemente do olival e do amendoal, está em igualdade de circunstância na avaliação desta rubrica no que aos apoios do PDR (Programa de Desenvolvimento Rural) diz respeito, considera o gestor.
As três revoluções e quem são os revolucionários
A Safe-Crop está a apresentar-se como revolucionária no setor agrícola incidindo sobre o modelo paramétrico e entrando em modelos que o Estado não patrocina. Filipe Charters de Azevedo, matemático e financeiro, lançou a empresa revelando que “sempre quis construir alguma coisa, e trabalhando com estatística e como consultor e em apoio às seguradoras foi talvez fácil ver a oportunidade”.
Considera que os seguros estão a passar por várias revoluções em simultâneo. A de dados é a mais conhecida e foi via Data XL, a empresa mãe da Safe-Crop, que nasceu a vontade de usar o big data e sobretudo o desenho experimental para criar novos produtos e avaliar o risco”, conta Filipe Azevedo. A segunda revolução, explica, é de experiência de cliente prometendo-lhe paz de espírito: “O facto de termos seguros paramétricos ajuda muito – já que a análise do sinistro e a avaliação do dano ficam muito mais simples”. Acrescenta a terceira revolução, a do modelo de negócio, “com os seguros paramétricos podemos separar o desenho dos produtos da tomada efetiva de risco. Conseguimos assim oferecer uma solução ágil e funcional aos nossos clientes”, conclui.
Entretanto a Safe-Crop juntou à equipa Rodrigo Chaves que após formação em Engenharia Agronómica e uma passagem por Inglaterra para uma especialização em Gestão, decidiu voltar a Portugal para aproveitar esta onda que considera de “elevada profissionalização do setor”. Afirma que “estando muito envolvido em projetos próprios de olival e amendoal e tendo uma experiência de banca na área de agronegócio entendi que uma ferramenta de redução de risco será essencial no futuro permitindo projetos mais sustentáveis”. Reforça a vontade de inovar com os seguros paramétricos: “Terão certamente um futuro promissor na agricultura portuguesa. A incorporação do big data, da agricultura de precisão e da digitalização vai permitir criar novos produtos de seguro”, conclui.
Já António Quadros e Costa, que também integrou a equipa da Safe-Crop, está desde sempre ligado ao mundo rural. Cresceu no campo, formou-se em agronomia e sempre trabalhou ligado à agricultura e de braço dado com a produção. Diz: “passei pela área da química agrícola, aplicada principalmente à olivicultura, e interesso-me por temas como economia e sociologia agrária, desenvolvimento rural, economia da água e sustentabilidade dos sistemas agrícolas e pecuários”.
Quanto ao futuro a construir pela empresa, Quadros e Costa resume que “pela primeira vez temos um instrumento que garante ao produtor os dois principais fatores de que depende o seu sucesso: produtividade e preço”. Acredita que os seguros paramétricos contribuem decisivamente “para que se possa produzir cada vez mais e melhor e de forma estável e sustentável, conclui.
A propósito deste nova produto fonte da Lusitania adianta que a seguradora “continua ao lado dos agricultores portugueses, a partilhar os riscos do seu negócio e a desenvolver soluções de proteção ajustadas às suas necessidades, que protegem os seus rendimentos e os incentivam a manter a dinâmica do setor.”
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