Rússia bombardeia Ucrânia. Seguros recusam risco aéreo, marítimo em nível guerra

  • António Ferreira
  • 24 Fevereiro 2022

Equipa de seis países da UE prestam apoio a Kiev na defesa cibernética, transporte aéreo internacional suspende ligações e o shipping enfrenta prémios de risco guerra.

A Rússia iniciou bombardeamentos na Ucrânia, deslocando unidades de artilharia pesada por terra e ataques pela força área a vários alvos, com disparos de mísseis visando instalações militares ucranianas em zonas próximas das cidades de Odessa, Kherson, Dniepre, Kharkov e Kiev.

O presidente Vladimir Putin justificou a operação iniciada esta quinta-feira (24 de fevereiro) com objetivo de desmilitarizar a Ucrânia. Reagindo à invasão militar, o presidente ucraniano Volodimyr Zelenski anunciou o corte de relações diplomáticas com Moscovo e decretou lei marcial no país com exceção das regiões reconhecidas pela Rússia (Lugansk e Donetsk).

A Rússia proibiu o tráfego aeronáutico civil no espaço aéreo de toda a fronteira noroeste da Ucrânia. Com a ofensiva militar a desenvolver-se por vários pontos do território ucraniano e explosões ouvidas em zonas próxima do porto de Mariupol, a situação ficou igualmente indefinida em relação ao tráfego marítimo. ECOseguros fez levantamento do cenário até quarta-feira.

Situação até à véspera dos bombardeamentos na Ucrânia

Os armadores dos navios que navegam o Mar Negro já estavam sujeitos a alerta máximo com a escalada político-militar, enquanto as seguradoras internacionais recusavam assumir riscos no espaço aéreo ucraniano. Por isso, um voo Madeira-Kiev acabou, na semana passada, por aterrar na Moldávia.

No ciberespaço, a Ucrânia assegurou auxílio europeu. Uma equipa reação rápida a ciberataques composta por especialistas de seis países da União Europeia foi ativada para auxiliar a Ucrânia a enfrentar as ameaças cibernéticas com origem na Rússia, disse o ministro-adjunto da Defesa da Lituânia Margiris Abukevicius explicando que a disponibilização dos meios responde a um pedido da Ucrânia.

A equipa, constituída desde 2019 para dar ajuda cyber a outros países europeus, instituições e outras entidades, inclui elementos dos Países Baixos, Polónia, Estónia, Roménia, Croácia e da Lituânia.

“A Ucrânia poderá necessitar de apoio para enfrentar incidentes particulares ou de suporte para testar infraestruturas e detetar vulnerabilidades específicas”, explicou Abukevicius citado num artigo da agência Reuters. Na passada segunda-feira, o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba referiu, em Bruxelas, que a Rússia recorre a táticas híbridas, incluindo ciberataques, para agravar a situação. Na última semana, Kiev denunciou uma série de ataques de rede distribuídos (DDoS – DistributedDenialofService), deixando momentaneamente em baixo sites de internet de bancos e de organismos públicos. Fonte do governo ucraniano referiu-se a este incidente como o maior ataque cibernético de sempre na história do país.

Shipping sujeito a seguros com prémio acrescido por risco de guerra

Na semana de 15 de fevereiro, face ao aumento da incerteza geopolítica na região, o Joint War Committee (JWC), comité que avalia e designa as regiões de maior risco no mapa do seguro marítimo, acrescentou secções do Mar Negro e do Mar de Azov (onde se localiza o porto estratégico de Mariupol, ainda sob controlo da Ucrânia) à lista internacional das principais áreas com elevada probabilidade de guerra, pirataria ou terrorismo.

Este procedimento do comité consultivo – que representa subscritores da Lloyd’s Market Association (LMA) e da International Underwriting Association of London (IUA) no mercado de seguros de casco marítimo – exige que os armadores notifiquem previamente o seu segurador de casco sempre que planeiem voyage para uma das áreas englobadas na lista que enquadra outras regiões problemáticas como o Golfo Pérsico. A decisão de segurar, ou não, a viagem, e o preço das coberturas passa assim a ser objeto de discussão, caso a caso, entre a seguradora e o proprietário do navio.

Ponte da Crimeia, no Estreito de Kerch, porta de entrada e saída do Mar de Azov.

A classificação mais recente do JWC, que indica risco de Classe 3, coloca as águas russas e ucranianas do Mar Negro e do Mar de Azov na mesma categoria de notificação que o Golfo da Guiné, o Golfo Pérsico, Iémen, Síria e o Irão. “Embora a avaliação atual signifique que existe equilíbrio armado, foi decidido emitir [um parecer] como medida de precaução“. “Não houve incidentes marítimos, mas a possibilidade de um erro de cálculo é clara,” o que justifica a recomendação de notificar viagens aos subscritores de risco, afirmava então o Comité num comunicado.

De acordo com atualização divulgada a 22 de fevereiro pela North P&I Club, companhia britânica membro do International Group of P&I Clubs, embora a rota a oeste da costa da Crimeia se mantivesse fechada à navegação, todos os portos da Ucrânia, em particular no Mar de Azov, operavam com normalidade no tráfego comercial, desde 19 de fevereiro, dia em que foram reabertos. A situação em Mariupol e nas áreas adjacentes – confinantes com o território ocupado (pelos independentistas e tropas russas) – encontravam-se ainda sob controlo das tropas ucranianas. O porto de Mariupol, incluindo a navegação (tráfego de entradas e saídas) no mar de Azov, opera com toda a normalidade, reportou a North. Na madrugada desta 5ª feira, foi noticiada a ocorrência de explosões por bombardeamentos em redor da cidade.

A importância estratégica daquela zona marítima é fulcral e centra-se no estreito de Kerch, saída do Mar de Azov e onde se localiza a ponte de 19 quilómetros que liga a península da Crimeia à Rússia continental. O estreito, importante acesso ao Mar Negro para países como Roménia, Bulgária e Roménia, incluindo Ucrânia, é também porta de entrada e saída da Rússia (no Mar Negro) através do mar de Azov, constituindo-se como via crítica para o trânsito de navios da marinha mercante (petroleiros e graneleiros).

Companhias aéreas internacionais cancelaram voos por falta de seguros

Outra frente de preocupação para a indústria seguradora em resultado do conflito Rússia-Ucrânia é o transporte aéreo. Cerca de 10 companhias aéreas cancelaram voos para a Ucrânia desde o reconhecimento, pelo Kremlin, das regiões independentistas de Donetsk e Lugansk.

Por períodos variáveis, os cancelamentos ou suspensão de ligações para Kiev incluíam já operações da Lufthansa, Air France-KLM, SAS, AirBaltic, Austrian Airlines e a Swiss. Nesta quinta-feira, o número de voos cancelados estendeu-se a outras origens e companhias.

Entretanto, o governo ucraniano anunciou a disponibilização de uma caução equivalente a 590 milhões de dólares para pagar seguros de transporte aéreo e assegurar que o país mantenha ligações aéreas seguras. O dinheiro retirado do orçamento do Estado foi transferido para uma conta garantia, acessível a seguradoras, resseguradoras, companhias de leasing e companhias aéreas.

A medida governamental avançou, segundo a agência Interfax, depois de a Lloyd’s of London ter notificado as companhias ucranianas de seguro de aviação, a 12 de fevereiro, da intenção de suspender a subscrição de seguros de guerra envolvendo a Ucrânia. Fontes jurídicas e do setor segurador em Kiev disseram que se a Lloyd’s não subscreve riscos de todo, será pouco provável que outras seguradoras e locadoras (de aviões) aceitem as garantias financeiras oferecidas pelo governo ucraniano, desenvolve um artigo do jornal Kiev Independent.

Na mesma semana, a companhia aérea ucraniana SkyUp realizava um voo entre a região autónoma da Madeira e Kiev quando quando o voo desviou rota para aterrar na Moldávia (Chisinau), alegadamente porque o locador da aeronave, registado na Irlanda, se recusou a autorizar a entrada da aeronave no espaço aéreo ucraniano, por falta do seguro.

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