BRANDS' ECOSEGUROS Metaverso e o seu impacto no mundo segurador
Laura Tavares, subscritora de Responsabilidades & Specialties da Innovarisk, fala sobre o novo mundo virtual e lança questões para debate: fará sentido criar um seguro de vida no metaverso?
Para quem, como eu, até há uns anos atrás não sabia o que era o metaverso nem os seus possíveis impactos na vida quotidiana, qual não foi o meu espanto quando notícias começaram a surgir em 2021 reportando que casas, empresas e negócios estavam a ser feitos nesta “realidade alternativa”.
O termo “metaverso” não é recente, tendo surgido pela primeira em 1992 no romance de ficção científica “Snow Crash”, do escritor Neal Stephenson, no qual a personagem principal, Hiro, tem uma vida dupla: no mundo real entrega pizzas e no universo tecnológico paralelo que cria é um samurai.
Uma das teorias que sustenta a plausibilidade e o suposto sucesso que o metaverso terá, assenta na evolução da própria Internet: quando surgiu nos anos 90 era utilizada primordialmente, se não exclusivamente, como meio de comunicação de informação das empresas através da publicação de notícias, anúncio dos seus serviços e produtos, levando ao consumo da informação através dos seus computadores. Nos anos 2000 chegou uma nova internet que, para além de permitir a comunicação de informação, permitia ainda a interação com o utilizador, tornando-o parte da experiência e fazendo dessa experiência um produto, como foi o caso das redes sociais.
Agora, existe quem acredite que a evolução tanto tecnológica como humana já permite uma versão 3.0 da Internet onde o metaverso será um sucesso de tal ordem que permitiria ao Hiro deixar de entregar pizzas e passar a ser remunerado pelo seu papel de samurai.
Mas será que isso fará sentido para todas as atividades e empresas? Fará sentido para o mercado segurador? Será plausível apenas dependermos do mundo real para consumo de oxigénio e termos toda a nossa vida, subsistência e relações exclusivamente no metaverso? Que alterações físicas, intelectuais e sociais terá no ser humano? Tudo questões válidas, para as quais pode ainda não existir uma resposta formal, mas sobre as quais devemos pensar e criar uma opinião, pois poderá ser o nosso futuro se assim o desejarmos.
"Estando o metaverso nos seus primeiros passos, as seguradoras ainda não poderão usufruir de um retorno imediato ao transferirem a sua atuação para este novo mundo virtual. (…) Poderão começar por segurar as casas e automóveis que lá existam, mas muito provavelmente necessitarão de adaptar os seus modelos atuariais à nova tipologia de sinistros.”
Na minha perspetiva, considero que profissionalmente existe possibilidade de alguns setores poderem ser transpostos para o metaverso, mas ainda existe um longo percurso a ser feito para que essa realidade seja sustentável, segura e ainda para mais segurável. Será necessário que as empresas, as marcas e as pessoas dediquem tempo, trabalho e dinheiro.
Uma questão prática essencial será a transparência e legalidade com que a documentação será criada bem como a identificação dos negócios e transações realizadas dentro do metaverso. A “máquina” necessitará de funcionar sem falhas e autonomamente já que o intuito será, em última análise, o de não necessitar do mundo real para nada.
Estando o metaverso nos seus primeiros passos, as seguradoras ainda não poderão usufruir de um retorno imediato ao transferirem a sua atuação para este novo mundo virtual. Antes terão de estar atentos às novas atividades e consequentemente empresas que irão surgir, pois apesar de novas, necessitarão de seguro. Poderão começar por segurar as casas e automóveis que lá existam, mas muito provavelmente necessitarão de adaptar os seus modelos atuariais à nova tipologia de sinistros.
"O metaverso apenas me faz sentido se tiver a capacidade de melhorar a nossa forma de vida no mundo real e não de a deixar como está, com os seus problemas e falhas, sendo utilizado unicamente como um escape para o qual vamos quando queremos fugir da realidade à nossa volta.”
Atualmente a ligação que para já têm é o aumento substancial de sinistros, 31% em 2021, segundo The Guardian, relacionados com a realidade virtual. Inúmeras televisões e móveis viram o seu tempo de vida útil diminuído pelas quedas, murros e pontapés indevidos provocados pela perda de noção espacial por parte dos utilizadores. A isso podemos ainda somar os danos corporais (e quiçá no ego) que sofreram enquanto tentavam matar zombies no Arizona Sunshine ou a salvar a tripulação do Astro Bot.
Fará sentido criar um seguro de vida no metaverso? Em teoria sim, pois os nossos avatares terão a capacidade de ser criados, viver e morrer, no entanto, as regras do jogo são substancialmente diferentes das da vida real: enquanto na vida real surgimos através de um processo biológico, no metaverso os nossos avatares são pacotes de dados, criados e geridos por terceiros, com objetivos e motivações primordialmente financeiras. A nossa “existência” no mundo virtual pode desaparecer com um simples clique intencional, enquanto na vida real pode não ser assim tão simples.
O metaverso apenas me faz sentido se tiver a capacidade de melhorar a nossa forma de vida no mundo real e não de a deixar como está, com os seus problemas e falhas, sendo utilizado unicamente como um escape para o qual vamos quando queremos fugir da realidade à nossa volta.
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