Tarifas de Trump ameaçam comércio internacional. O que se sabe até agora?
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- Patrícia Abreu
- 7:07
Desde que chegou à Casa Branca, Trump já anunciou novas vagas de tarifas sobre vários países e setores, e aprovou taxas aduaneiras recíprocas a todos os parceiros comerciais. O que está em jogo?
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Porque está Donald Trump a impor tarifas sobre as importações dos EUA?
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Quando foram conhecidas as primeiras tarifas? E o que já foi anunciado?
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Quando entram em vigor as novas taxas aduaneiras?
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A China anunciou medidas retaliatórias concretas. E o México e o Canadá?
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A Europa ficou de fora da “bazuca” aduaneira de Trump?
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Qual vai ser a reação da UE?
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O que diz o Governo português?
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Sobre que produtos vão incidir as taxas sobre o alumínio e aço?
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Os países ainda podem “fugir” a estes agravamentos?
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São esperados novos agravamentos de taxas sobre outros bens que chegam aos EUA?
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Quem vai pagar este aumento de tarifas?
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O que significa para o comércio internacional esta onda de protecionismo?
Tarifas de Trump ameaçam comércio internacional. O que se sabe até agora?
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- Patrícia Abreu
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Porque está Donald Trump a impor tarifas sobre as importações dos EUA?
O regresso de Donald Trump à Casa Branca significou também novas ameaças de tarifas pelos EUAEPA/SHAWN THEW / POOL A imposição de tarifas sobre os bens que chegam aos Estados Unidos foi uma das bandeiras da campanha de Donald Trump na corrida à Casa Branca.
O republicano defende que o país tem sido “mal tratado” por outros blocos económicos e que se têm aproveitado dos EUA, nomeadamente a União Europeia.
O novo Presidente americano argumenta que a aplicação de taxas aduaneiras vai proteger a indústria e os empregos americanos, estimulando a venda de produtos made in USA, assim como forçar outros países a fazer cedências para negociar tarifas mais baixas, ainda que admita que os consumidores norte-americanos vão pagar a fatura desta guerra comercial.
“Haverá sofrimento? Sim, talvez (e talvez não). Mas vamos tornar a América grande de novo, e tudo valerá a pena”, admitiu o Presidente em janeiro, aquando do anúncio da primeira vaga de tarifas.
Proxima Pergunta: Quando foram conhecidas as primeiras tarifas? E o que já foi anunciado?
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Quando foram conhecidas as primeiras tarifas? E o que já foi anunciado?
O México, o Canadá e a China foram os primeiros alvos das novas taxas aduaneiras da administração de Donald Trump.
O Presidente assinou um decreto executivo, no dia 1 de fevereiro, em que define tarifas adicionais de 25% relativas a todas as importações do Canadá e México, com a exceção do petróleo e produtos de energia, que passam a ter uma taxa de 10%.
Já a China passa a ter um adicional de 10% nas exportações para os Estados Unidos.
As ordens executivas incluem ainda cláusulas de retaliação, caso algum dos países responda ao aumento de tarifas, e passará pelo agravamento destas taxas.
Cerca de uma semana após o anúncio das tarifas sobre estes três países, Trump voltou à carga, com o anúncio de tarifas de 25% sobre todas as importações de alumínio e aço que chegam aos EUA. “Estou a simplificar as nossas tarifas sobre o aço e o alumínio para que todos entendam o que isto significa. São 25%, sem exceções ou isenções. E isto é para todos os países”, explicou o republicano aos jornalistas na Casa Branca.
Os textos assinados por Trump detalham que “são abrangidas todas as importações de artigos de aço e derivados de aço provenientes da Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, países da União Europeia, Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido”, indica um dos textos. A outra ordem tem como alvo “todas as importações de alumínio e artigos derivados de alumínio da Argentina, Austrália, Canadá, México, países da União Europeia e Reino Unido”.
Já depois destes setores, Trump anunciou a imposição de tarifas recíprocas com todos os parceiros comerciais, ou seja, igualando as taxas dos direitos aduaneiros cobrados por cada país na importação de produtos norte-americanos.
Para breve está o anúncio de novas tarifas sobre o setor automóvel, as quais deverão ser conhecidas em abril. E a lista não deverá terminar por aqui.
Proxima Pergunta: Quando entram em vigor as novas taxas aduaneiras?
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Quando entram em vigor as novas taxas aduaneiras?
As tarifas sobre a China já estão em vigor desde o dia 4 de fevereiro.
Já as novas taxas sobre as importações mexicanas e canadianas foram suspensas por um período de 30 dias, para o início de março, depois de os líderes do México e Canadá terem chegado a acordo, no dia 3 de fevereiro, com Donald Trump para promoverem negociações no sentido de chegar a um entendimento com vista a evitar este agravamento das taxas aduaneiras.
Quanto às taxas de 25% sobre o aço e o alumínio, estas arrancam no próximo dia 12 de março.
Desconhecem-se pormenores sobre a aplicação das tarifas recíprocas.
Proxima Pergunta: A China anunciou medidas retaliatórias concretas. E o México e o Canadá?
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A China anunciou medidas retaliatórias concretas. E o México e o Canadá?
A China retaliou de imediato as novas taxas aduaneiras impostas sobre os seus produtos exportados para os EUA. Pequim impôs taxas aduaneiras adicionais de 15% para o carvão e gás natural liquefeito e de 10% para petróleo, maquinaria agrícola, veículos pesados e pickups provenientes dos Estados Unidos.
O México e o Canadá também prometeram responder às mudanças impostas por Trump, mas ainda não avançaram com medidas concretas, uma vez que ambos os países estão a negociar com os EUA para tentar evitar a implementação das taxas aduaneiras.
No que diz respeito ao aço e alumínio, Toronto, que fornece 58% de todo o alumínio que os EUA compram no estrangeiro e 23% de todas as importações norte-americanas de aço, promete uma resposta “clara e calibrada”.
Proxima Pergunta: A Europa ficou de fora da “bazuca” aduaneira de Trump?
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A Europa ficou de fora da “bazuca” aduaneira de Trump?
Donald Trump não anunciou ainda medidas diretas direcionadas apenas para as importações da União Europeia, mas já prometeu que o vai fazer “muito em breve”: “a UE trata-nos muito mal“.
Ainda assim, as empresas europeias, que exportam mais de 500 mil milhões para os EUA, vão sofrer com as novas tarifas para o aço e o alumínio, assim como as tarifas recíprocas.
No que diz respeito ao regime de “reciprocidade”, a UE estima que, considerando o comércio real de mercadorias entre a UE e os EUA, a taxa tarifária média de ambos os lados é de aproximadamente 1%.
Em 2023, os EUA cobraram aproximadamente sete mil milhões de euros em tarifas sobre as exportações da UE e a UE cobrou aproximadamente três mil milhões de euros sobre as exportações dos EUA, calcula um documento partilhado pela Comissão Europeia.
O setor automóvel poderá ser um dos mais afetados pela decisão de tarifas recíprocas, face aos 10% aplicados pela UE aos carros importados dos EUA e os 2,5% impostos pelas alfândegas norte-americanas aos automóveis europeus importados. Quanto a esta diferença, a Comissão Europeia nota que os EUA impõem uma tarifa de 25% sobre pick ups — o maior segmento do mercado automobilístico dos EUA, responsável por cerca de um terço de todas as vendas de veículos.
Sobre a possibilidade de reduzir tarifas sobre importações de carros americanos para evitar uma guerra comercial com os EUA, Bruxelas diz que “a UE permanece aberta a negociações equilibradas que promovam condições de concorrência equitativas para ambas as partes”.
Proxima Pergunta: Qual vai ser a reação da UE?
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Qual vai ser a reação da UE?
A presidente da Comissão Europeia lamentou “profundamente” a imposição de novas tarifas pelos EUA aos produtos da UEEPA/MICHAEL BUHOLZER A União Europeia vai responder de forma “firme e proporcional”. “Tarifas injustificadas sobre a União Europeia não ficarão sem resposta” e “irão acionar contramedidas firmes e proporcionais”, confirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, numa declaração no site da instituição.
Afirmando que “lamenta profundamente a decisão dos EUA de impor tarifas sobre as exportações europeias de aço e alumínio”, von der Leyen ressalvou que “as tarifas são impostos” que prejudicam as empresas, sendo “ainda piores para os consumidores”.
“A União Europeia vai agir para proteger os seus interesses económicos. Vamos proteger os nossos trabalhadores, empresas e consumidores”, reforçou.
O bloco europeu vai ainda discutir quais os produtos que vai incluir na resposta a Washington e os limites que vai impor às importações dos EUA, mas, segundo avançou recentemente o FT, Bruxelas quer travar a importação de certos géneros alimentícios americanos, como a soja, para proteger os seus agricultores.
Mais detalhes deverão ser conhecidos em breve.
Proxima Pergunta: O que diz o Governo português?
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O que diz o Governo português?
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, acredita que “a Europa está preparada” caso o Presidente dos EUA decida mesmo cumprir a ameaça e aplicar também novas taxas às importações da União Europeia (UE).
Mas Luís Montenegro confia que o “diálogo” e a “argumentação” poderão demover Trump de intenções tarifárias mais extremas.
“É importante que a Europa veja este enquadramento numa perspetiva de diálogo. Os EUA são um parceiro comercial, político, de primeira linha da UE. Não há razão para não termos a capacidade de demonstrarmos com argumentação as virtudes de termos trocas comerciais que não estejam marcadas por uma excessiva carga tarifária”, considerou o líder do Governo português.
Luís Montenegro acredita que o “diálogo” com os EUA poderá ajudar a demover Donald Trump de aplicar mais tarifas à UEEuropean Union Proxima Pergunta: Sobre que produtos vão incidir as taxas sobre o alumínio e aço?
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Sobre que produtos vão incidir as taxas sobre o alumínio e aço?
O aço foi um dos primeiros objetos das novas tarifas de TrumpFreepik As tarifas anunciadas sobre as importações de alumínio e aço dizem respeito, essencialmente, às matérias-primas.
A ordem executiva assinada por Donald Trump refere que “as principais reformas incluem a eliminação de todos os acordos alternativos, a aplicação de normas rigorosas de “derretido e derramado”, o alargamento das tarifas para incluir os principais produtos a jusante, o fim de todas as exclusões gerais aprovadas e a repressão da classificação incorreta de tarifas e dos esquemas de evasão de direitos”.
Ou seja, as tarifas poderão incluir alguns produtos considerados semiacabados e eventualmente acabados, como estruturas metálicas, vigas pré-esforço ou postos de iluminação.
Proxima Pergunta: Os países ainda podem “fugir” a estes agravamentos?
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Os países ainda podem “fugir” a estes agravamentos?
Sim. Apesar das ordens executivas que dão “carta verde” à aplicação das novas tarifas, não seria a primeira vez que Donald Trump chegava a acordo com parceiros comerciais para os isentar destas taxas.
Aconteceu, por exemplo, no seu primeiro mandato quando anunciou tarifas sobre o alumínio e o aço. Portugal foi um dos países que conseguiu escapar a esta carga aduaneira adicional.
Com negociações a decorrerem atualmente com o México e o Canadá, Washington poderá ainda chegar a acordo com outros parceiros comerciais.
O Reino Unido está confiante que vai conseguir negociar um acordo com os Estados Unidos para evitar a imposição de taxas aduaneiras sobre as suas exportações de aço e alumínio.
Também a União Europeia, apesar de ter confirmado que vai retaliar as medidas de Trump, está aberta a uma negociação justa e Pequim, apesar de já ter em vigor novas taxas sobre as importações americanas, não fechou a via da negociação. Nada é irreversível no plano das tarifas.
Proxima Pergunta: São esperados novos agravamentos de taxas sobre outros bens que chegam aos EUA?
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São esperados novos agravamentos de taxas sobre outros bens que chegam aos EUA?
Sim. O Presidente norte-americano já garantiu que, nas próximas quatro semanas, vai realizar reuniões para analisar novas tarifas e deu como exemplos os veículos, os semicondutores e os produtos farmacêuticos.
Proxima Pergunta: Quem vai pagar este aumento de tarifas?
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Quem vai pagar este aumento de tarifas?
Os consumidores serão os principais “perdedores” num cenário de guerra comercial e o próprio Donald Trump admite isso mesmo.
“Haverá sofrimento? Sim, talvez (e talvez não). Mas vamos tornar a América grande de novo, e tudo valerá a pena”, escreveu Donald Trump, em letras maiúsculas, no perfil da rede social que fundou, a Truth Social.
Já mais recentemente afirmou que pode haver um “ligeiro aumento dos preços no curto prazo”, mas diz que não é certo que tal aconteça. Mostra mais certezas quanto ao emprego – “vai subir” – e as taxas de juro – “vão descer”.
Proxima Pergunta: O que significa para o comércio internacional esta onda de protecionismo?
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O que significa para o comércio internacional esta onda de protecionismo?
Ninguém ganha com uma guerra comercial. Esta é a expectativa da maioria dos economistas, que antecipa que uma vaga protecionista resulte num abrandamento da economia e possa ameaçar o processo de descida da inflação registada nos últimos anos, mantendo um clima de instabilidade nos mercados financeiros.
“No segundo semestre de 2025, as tarifas parecem destinadas a minar o poder de compra e, como os cortes fiscais não se materializarão antes de 2026 e os gastos governamentais serão cortados imediatamente, esperamos ver um crescimento mais lento”, escreve o ING.
Para os mesmos especialistas, a estratégia de avanços e recuos e a ausência de clareza sobre quais as exceções vai manter as empresas norte-americanas na incerteza. “Esta falta de clareza pode dificultar o investimento e a contratação até que seja proporcionada mais certeza”, remata o banco. Já grandes multinacionais com negócios nos EUA poderão sentir o impacto nas suas contas e ser forçadas a procurar outros mercados ou “sacrificar” uma fatia das suas receitas.