AON: “Custos das empresas com planos de saúde vão aumentar 7% em 2023”

Rita Silva, Associate em HR Solutions da corretora de seguros Aon Portugal, confirma aumento de custos e a crescente adesão das PME a proteção em saúde como forma de recrutar e reter talentos.

Rita Silva: “Os produtos PME são planos de saúde standard e desenvolvidos numa perspetiva mutualista. Isso ajuda a que os prémios permaneçam estáveis ao longo do tempo”.

Os custos com planos de saúde deverão aumentar nas empresas portuguesas cerca de 7%, revela o 2023 Global Medical Trend Rates Report da Aon, empresa de corretagem de seguros, análise de risco, de saúde e de reforma, que divulga anualmente as tendências dos custos associados a planos de saúde disponibilizados pelas empresas aos seus colaboradores.

De acordo com o relatório agora publicado, as coberturas dos planos de saúde mais procurados em Portugal são as de hospitalização, serviços clínicos de laboratório e análises clínicas, estomatologia e oftalmologia, mantendo-se em linha com as registadas no relatório do ano passado.

O custo de planos de saúde associado à patologia da saúde mental em Portugal já integra o top 5 das condições clínicas com maior impacto nos custos com saúde.

Rita Silva, Senior Associate em HR Solutions da Aon Portugal, que afirma haver “uma necessidade acrescida de as empresas apoiarem os colaboradores, o que se traduz em maior custo para as organizações, seja pelo aumento do investimento em áreas de apoio à Saúde dos colaboradores, seja pelo aumento dos custos com os planos já implementados”, foi entrevistada por ECOseguros.

Os planos de saúde e seguros de saúde de empresas estão a tornar-se imprescindíveis para a atração e retenção de quadros das empresas?

O seguro de saúde continua a ser, destacadamente o benefício mais valorizado pelos colaboradores. Conduzimos regularmente surveys de benefícios junto de colaboradores dos nossos clientes e esse resultado é claro: além de ser identificado como o benefício mais apreciado, a Saúde é também o tema no topo das preocupações dos colaboradores quando questionados sobre as prioridades na sua vida pessoal: a saúde dos próprios e a saúde das suas famílias. Podemos dizer que a atribuição do Seguro de Saúde é sem dúvida uma ferramenta crucial na atração e retenção de talento, mais ainda quando possibilita ao colaborador estender esse benefício ao seu agregado familiar direto.

temos observado no mercado a inclusão de serviços complementares nestes planos standard (check-up, medicina online, saúde mental), com o objetivo de trabalhar também a componente da prevenção

Esses apoios são um exclusivo de grandes empresas ou está a avançar para as médias e pequenas como parece ser hoje a estratégia das seguradoras saúde?

Começa a ser, cada vez mais, uma estratégia de todas as empresas, independente da sua dimensão e inclusive em setores menos prováveis, como é o caso da indústria. O contexto social, com o impacto da pandemia na capacidade de resposta do SNS, e económico – como a inflação crescente e a carga fiscal -, tem levado a que as empresas no geral procurem formas quer de garantir a saúde e o bem-estar das suas pessoas, bem como formas alternativas de remuneração que se tornem mais eficientes para os colaboradores. Os dados recentes da ASF mostram-nos que entre 2020 e 2021 o número de apólices de saúde grupo, que são planos corporativos, cresceu 34% o que reflete bem esta tendência.

Há uma relação entre acesso facilitado à saúde e absentismo nas empresas? Pode haver uma correlação entre estes factos?

Essa correlação existe e está associada a vários fatores: seja pela flexibilidade de tratamento que é garantida através de um plano de saúde privado, como a facilidade no agendamento ou os horários disponíveis, quer pelo facto de permitir que as pessoas usem o beneficio numa ótica preventiva, evitando que situações de saúde sejam diagnosticadas numa fase mais avançada das doenças que implicará, necessariamente, tratamentos mais complexos e demorados com impacto na disponibilidade do colaborador e no timing de regresso ao trabalho. Tratamentos mais demorados geram baixas mais prolongadas. O 2021 Global Wellbeing Survey da Aon estabelecia já essa correlação demonstrando que o investimento em soluções de saúde e bem-estar geram impacto positivo em várias variáveis do negócio, entre as quais: absentismo, acidentes de trabalho e resultados relacionados com medicina ocupacional. Daí que estratégias de Saúde e bem-estar tenham de ser sempre analisadas numa perspetiva holística já que geram resultados a vários níveis além do obvio: a saúde do colaborador.

em Portugal, os maiores fatores de risco são a falta de diagnóstico ou diagnóstico tardio, seguido do envelhecimento da população e da condição genética que nos predispõe para algumas patologias

O custo de saúde está a aumentar mas quais as causas? Melhores recursos tecnológicos? Fármacos mais caros? Melhores diagnósticos não reduzem custos?

Os aumentos dos custos com a saúde resultam em parte do contexto económico, incorporando a inflação geral, mas sobretudo estão associados ao impacto gerado por condições clínicas que pesam cada vez mais neste resultado e que tem origem no estilo de vida das populações nos países desenvolvidos em geral. O 2023 Global Medical Trend Rates Report confirma que continuam a ser as patologias cardiovasculares, oncológicas e hipertensão a contribuir mais para a despesa/custo com saúde e, surpreendentemente ou não, a Covid-19 não teve impacto neste ranking. É o comportamento por trás destas patologias que tem de ser trabalhado, numa ótica preventiva e de mudança de hábitos, para podermos começar a caminhar para resultados diferentes nesta escalada dos custos. O foco da intervenção tem de ser a origem do problema: má alimentação, poluição do ar, falta de atividade física e má gestão do stress.

Para além de alargamento às PME, as seguradoras apostam em apólices mais simples e baratas que permitam algum acesso à saúde privada? Acha que é um caminho benéfico para empresas e empregados?

Os produtos PME são planos de saúde standard e desenvolvidos numa perspetiva “mutualista” em que a análise de resultados dos planos não é individualizada, é por empresa. Isso ajuda a que os prémios permaneçam estáveis ao longo do tempo e sem impacto relevante, isto é, sem aumento de custo do plano, de ano para ano, o que é importante para empresas de média dimensão, com orçamentos mais apertados. Há pontos que trazem alguma complexidade adicional a estes planos, sobretudo no que diz respeito ao processo de adesão como questionários clínicos e análise de pré-existências, que podem de alguma forma penalizar os aderentes quando comparado a um plano corporativo “desenhado à medida” de cada empresa. Ainda assim, temos observado no mercado a inclusão de serviços complementares nestes planos standard (check-up, medicina online, saúde mental), com o objetivo de trabalhar também a componente da prevenção o que demonstra interesse dos stakeholders em procurar criar soluções relevantes para todo o tipo de empresas e clientes.

Os dados sobre Portugal diferem muito dos globais e europeus? Em que aspetos?

Na generalidade os dados são coincidentes no que diz respeito por exemplo às coberturas mais utilizadas, como Hospitalização e Exames complementares de diagnóstico, e as condições clínicas que mais pesam nos custos totais – que são cardiovascular e oncologia -, mas diferem nos fatores de risco: em Portugal a falta de diagnóstico ou diagnóstico tardio lidera os fatores de risco, seguido do envelhecimento da população e da condição genética que nos predispõe para algumas patologias – bem diferente dos resultados da Europa em que os principais fatores de risco são a hipertensão, a má gestão do stress e a ausência de atividade física. Estes resultados exigem alguma reflexão no sentido de as empresas procurarem desenvolver a sua estratégia de saúde e bem-estar dos colaboradores assente naqueles que são os fatores de risco específicos e característicos da nossa população: mais uma vez, prevenção e diagnóstico precoce têm de ser promovidos e trabalhados.

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