“Enquadramento regulamentar português representa também um desafio”

O grupo segurador francês CNP Assurance conta mais de 32 milhões de clientes nos 15 países onde opera. Está presente em Portugal há mais de 20 anos através da sucursal CNP Iberia, que reforçou a aposta no mercado português no ano passado, desta vez com uma equipa própria dedicada ao desenvolvimento de parcerias e produtos específicos para Portugal. Esta é a segunda vez que a seguradora aposta diretamente no país – a primeira vez foi interrompida em 2015.

Em ambas as fases, Alexandra da Torre fez parte da equipa da CNP. Atualmente, desempenha funções como seniorbusiness manager da CNP Iberia, elemento-chave na definição da estratégia comercial da seguradora para o mercado português.

Em entrevista ao ECO Seguros, a responsável revela como tem evoluído a operação da CNP em Portugal nos últimos meses, abordando desde os resultados, passando pelas conquistas mas sem deixar de lado os obstáculos.

Alexandra Torre vê este novo capítulo como uma oportunidade de contribuir ativamente para o crescimento da seguradora – onde trabalha há cerca de 12 anos – no seu país de origem, que considera um “mercado com enorme potencial”. Deixa ainda conselhos a quem quer entrar no setor.

Quais foram os resultados da operação da CNP em Portugal até agora?

Até ao momento, os resultados da nossa estratégia em Portugal têm sido muito positivos. Estamos presentes há mais de 20 anos tanto em Espanha como em Portugal, o que nos tem permitido adaptar o nosso modelo de negócio e a nossa oferta de forma ágil a um ambiente aberto e dinâmico.

Consolidámos uma proposta de valor inovadora e personalizada para diferentes setores nos nossos negócios de vida, acidentes e proteção de pagamentos, tanto na modalidade de seguro direto como de resseguro.

O estabelecimento de relações de confiança com os distribuidores tem sido essencial neste processo, e estamos a verificar um aumento da procura por soluções que proporcionem segurança e estabilidade financeira aos consumidores portugueses.

Em termos de digitalização, estamos a avançar na implementação de novas ferramentas tecnológicas que nos permitem melhorar a experiência do cliente e otimizar os nossos processos.

Pode partilhar uma decisão que tenha sido fundamental para o sucesso desta operação?

Creio que a decisão mais determinante na nossa estratégia foi a análise e o estudo prévio, aprofundado, do mercado português, bem como a identificação de oportunidades e alianças que nos poderiam ajudar a alcançar os nossos objetivos.

Não quisemos entrar de imediato num mercado sem o conhecer bem, sem o compreender verdadeiramente, e nesse sentido trabalhámos com a flexibilidade e a capacidade de adaptação necessárias para fazer as coisas com ponderação e sentido, oferecendo soluções ajustadas aos modelos de negócio dos nossos parceiros. Isto permitiu-nos diferenciar-nos no mercado, acrescentar verdadeiro valor aos clientes e lançar bases sólidas para um crescimento contínuo.

Foi também determinante o conhecimento das necessidades dos consumidores em Portugal. Para a CNP Iberia, enquanto seguradora especialista na proteção das pessoas, isso é fundamental, é a nossa razão de ser.

Há novidades relativas à operação da CNP em Portugal?

Sim, avançámos na implementação da nossa estratégia de crescimento no mercado português, com o fecho de alguns acordos relevantes no setor segurador e a aproximação a ecossistemas-chave para o nosso modelo affinity, como o das utilities, telcos ou fintech, entre outros.

Adicionalmente, assinámos recentemente a adesão da CNP Iberia à Câmara de Comércio Hispano Portuguesa, uma aliança que nos permite continuar a reforçar a nossa presença em Portugal e ampliar as nossas oportunidades de negócio, através do acesso a uma rede empresarial estratégica.

Estamos também a otimizar a nossa proposta de valor para o mercado português, reforçando o nosso conhecimento da indústria e a nossa oferta de seguros de proteção e resseguro, com o objetivo de acrescentar valor aos nossos parceiros e clientes, através de soluções inovadoras e personalizadas. Portugal é um mercado dinâmico e com elevado potencial para o negócio segurador. O compromisso da CNP Iberia com o mercado português continua a ser um compromisso firme.

Que desafios específicos encontraram na implementação do plano de expansão da seguradora?

Como em qualquer processo de expansão, tivemos de enfrentar vários desafios, como a adaptação a um mercado altamente competitivo ou a identificação de parceiros estratégicos que partilhassem a nossa visão e os nossos valores, o que exigiu uma análise profunda e conhecimento do mercado local, bem como uma estratégia bem definida para estabelecer relações de confiança a longo prazo.

Além disso, o enquadramento regulamentar português representa também um desafio, pois temos de garantir que todas as nossas soluções estão em conformidade com as normas locais, mantendo ao mesmo tempo a flexibilidade e inovação que nos caracteriza.

Por fim, a transformação digital tem sido igualmente um desafio, mas também uma grande oportunidade. Adaptarmo-nos às novas tecnologias e melhorar a experiência do cliente tem sido uma prioridade para nós.

Já há previsões para a abertura de uma filial?

A CNP Assurances já tem uma presença sólida em Portugal através da nossa sucursal, a CNP Iberia, que opera no país há mais de 20 anos. Durante este período, estabelecemos relações estratégicas com parceiros locais e internacionais no negócio de resseguro e de seguro direto, com principal foco em seguros de vida, acidentes e proteção de pagamentos.

Neste momento, a nossa estratégia está centrada na expansão e diversificação das operações em Portugal, com o objetivo de reforçar a nossa rede de distribuição através de novas parcerias no setor financeiro e segurador, bem como em ecossistemas estratégicos como retailers, utilities, telcos ou automóvel, entre outros, com o objetivo de consolidar a nossa posição no país ao lado de parceiros que partilham a nossa visão de crescimento. Avaliamos constantemente oportunidades para aumentar a nossa presença de forma eficiente e com valor acrescentado.

O nosso foco continua a ser a inovação em produtos, a digitalização e a adaptação das nossas soluções às necessidades específicas do mercado português, garantindo assim um crescimento sustentável e a longo prazo.

O que representa para si, a nível pessoal e profissional, este desafio de expandir a CNP Iberia em Portugal?

Trabalhar diretamente na expansão da CNP Iberia em Portugal representa, para mim, uma grande oportunidade e um desafio entusiasmante. É uma experiência enriquecedora, tanto a nível pessoal como profissional, que me permite contribuir para o crescimento da companhia no meu país e desenvolver uma estratégia sólida e inovadora num mercado com enorme potencial, como é o português.

Poder fazer parte deste processo de expansão e consolidação é um desafio que me motiva e me impulsiona a continuar a aprender e a crescer no setor segurador.

Que conselhos daria a profissionais que desejam crescer na área seguradora e financeira?

O setor segurador e financeiro está em constante evolução, por isso o meu principal conselho é manter-se sempre atualizado quanto às tendências do mercado. A capacidade de adaptação ao contexto em que se trabalha é fundamental.

É igualmente essencial desenvolver competências em inovação e digitalização, já que a tecnologia está a transformar a forma como os produtos seguradores são concebidos e distribuídos.

Por outro lado, é muito importante trabalhar na construção de uma rede de contactos sólida, tanto com atores do setor segurador como com outros ecossistemas, o que pode abrir muitas portas. A colaboração e a sinergia entre diferentes indústrias são fundamentais para o crescimento profissional e também pessoal.

Finalmente, diria que outra chave para o sucesso neste setor é a vocação de serviço. No fim de contas, o propósito dos seguros é oferecer tranquilidade e proteção às pessoas, por isso, ter uma verdadeira paixão por ajudar os outros deve ser também um propósito firme.