“Não subestimo o soft power da economia portuguesa neste momento”

Pedro Reis considera que as medidas para compensar o protecionismo de Trump estão mais nas mãos das empresas. São “muito mais micro do que do Estado”, defende o ministro da Economia.

O ministro da Economia está convicto da capacidade de crescimento da economia nacional e considera que não existem razões para reavaliar as previsões de 2,1% para 2025. Confiante que Portugal “está com a narrativa certa para a captação de investimento”, Pedro Reis espera ter todos os organismos sob a sua tutela operacionais e a apoiar as empresas.

Portugal vai crescer 2,1% em 2025?

É atingível por razões endógenas e exógenas. A nível endógeno, calibrámos o modelo sabendo que na primeira fase, em 2025, contando com exportações e internacionalização, as duas grandes âncoras são o consumo privado, o investimento público e a chegada ao terreno do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). É um dado que, às vezes, não se leva em consideração e uma das razões de imunização das projeções de 2025.

Não há necessidade de rever projeções?

Um pilar base do crescimento, embora considere as exportações e algum investimento externo, é a componente doméstica, privada e pública. Não tenho nenhuma razão para reavaliar as premissas e os cenários de crescimento.

Como incorpora a crise da Alemanha e as eleições americanas?

Na parte externa, tenho três cenários. Um deles é as coisas ficarem mais ou menos como estão: Alemanha em recuperação, sem disparar, mas também sem afundar. É possível? Teremos de ver com as eleições alemãs, em correlação com o que se passa na Ucrânia. O que sinto na Europa é preocupação com a Alemanha, ver o que acontece em França e as empresas de países, como Espanha e Inglaterra, mais atentos ao que se passa em Portugal. Em Espanha são mais outros temas, como as energias.

Só para esgotar o vetor europeu, tem havido um efeito positivo de captação, que não aconteceu com o brexit. Há um novo Orçamento inglês que, em termos fiscais, vai ser mais agressivo com os rendimentos, com os ativos, com as heranças. Começo a receber sinais de investidores ingleses a fazer perguntas sobre o nosso programa de atração de talento. Não numa lógica do antigo regime de residentes não habituais (RNH), de caso a caso, mas numa lógica de competências e de setores, onde não estamos.

Começo a receber sinais de investidores ingleses a fazer perguntas sobre o nosso programa de atração de talento (…) numa lógica de competências e de setores, onde não estamos.

Mas podemos crescer os 2,1% inscritos no Orçamento do Estado com todas essas incógnitas?

É possível exatamente porque não se está a contar com grandes ambições europeias e devido a estes elementos adicionais, não necessariamente novos: Espanha já lá estava, Inglaterra é relativamente novo e descontando o caso alemão. Depois temos o tema dos Estados Unidos. Vejo ainda muito aberto o cenário de trabalho. O país está pronto para trabalhar com qualquer Administração americana.

E as consequências económicas?

Primeiro, é preciso ver, exatamente, como vai ser a implementação no terreno dos vários sinais. No primeiro semestre vai ser muito mais claro, não antes. Não acompanho as leituras já pré-concebidas que ou carimbam de apocalíptico, ou de acomodável, o que vai acontecer. Temos mesmo de ter o cenário aberto. Parece-me claro que há uma intenção de redução de impostos, é por aí que interpreto a leitura dos mercados, os primeiros a reagir. Segundo, parece-me com tração os anúncios que foram feitos de desregulação e isso leva a maior fomento do investimento. Depois podemos discutir no específico: é desregulação para alongar mais a energia fóssil ou passar para a renovável? Terceiro, essa sim, para mim, a questão em aberto — a guerra de tarifas, o protecionismo, o levantamento de barreiras alfandegárias.

Não era de ir já pensando num plano para, se essas barreiras alfandegárias forem impostas, estarmos preparados com uma resposta à altura?

É possível, mas tem de ser feito a nível europeu. A Administração Trump vai decidir ativar barreiras, ou sinalizar uma primeira vaga? Quanto tempo demora? Uma coisa é se for pelo Congresso, outra se for um Executive Act. Que setores e até regiões? Já ouvi falar em várias simulações: para a China é 100%, para o México 60% e para a Europa 10%-20%. E especificamente, é onde dói a valer na indústria europeia, o que nos interessa, ou são adjacentes e retaliações mais sinalizadas? Não sabemos. Não seria a primeira vez até que fosse sinalizado e depois não acontecesse exatamente assim. Temos de ser prudentes. Mas entendo a pergunta: prudência é fazer o trabalho de casa para antecipar, nomeadamente, os piores cenários. É um trabalho que a Europa tem de fazer.

E está a fazer?

Não tenho, neste momento, elementos sobre essa matéria. Em Portugal é importante perceber nas indústrias e nos setores mais expostos ao mercado americano, as medidas compensatórias que são muito mais micro do que Estado. Terá de ser setor a setor, empresa a empresa que, porventura, vão redirecionar os seus esforços de internacionalização de exportação. Quem está lá presente — mais para as grandes empresas — até pode ter incentivos a operar mais nos Estados Unidos. Se levantarem muros, estão do lado de lá. Pode não impactar. Depois ainda há um terceiro elemento: haver investidores, fundos, pessoas que não estejam nesta linha e queiram sair dos Estados Unidos. E aí, mais uma vez, Portugal posiciona-se bem.

Em Portugal é importante perceber nas indústrias e nos setores mais expostos ao mercado americano, as medidas compensatórias que são muito mais micro do que Estado.

Há transformações estruturais, mesmo que não produzam já efeitos, desta primeira fase de governação que possam dizer aos investidores internacionais que Portugal está a mudar a sua competitividade?

Acho que sim e é isso que vou ouvindo. Isto arranca logo numa narrativa. É extraordinário que, no mundo de hoje, só por afirmarmos que o país está focado e é bem-vindo o investimento externo e que o setor privado deve florescer tanto quanto conseguir… Não é uma medida de Governo, é um statement. Surpreende-me o quando me dizem: “Gostávamos de ter um Governo que tivesse esse discurso.” Não vou referir os países por cordialidade. Não desvalorizaria este aspecto que é pura diplomacia, mas válida e genuína, se tiver assente em sinais, políticas e medidas.

O que valorizam os investidores?

Primeiro, segurança. É válido para toda a Europa, mas uns têm instabilidades endógenas, outros proximidade a zonas de conflito, outros pulsões, migrações ou populistas. Os investidores hoje não têm uma leitura assim tão lisa da Europa. A segurança está alta no critério do investidor. Depois a fiscalidade. Esta discussão que fizemos cá não cola internacionalmente. Eles consideram que há falta de competitividade no IRC, que chamo composto (derramas e tributações autónomas). Mas acreditam, e viram com bons olhos, o sinal, mesmo que seja um ponto percentual. É pouco e tenho pena de não termos ido mais longe e mais rápido. E não vou entrar na discussão já gasta de quanto é que isso impacta. É preciso não esquecer todos aqueles que nem sequer se sentam à mesa porque veem 31% de imposto. Acontece muito. Foi determinante na fiscalidade, o sinal que se está a dar. Os investidores olham para a narrativa de um país, mesmo aquele que não impacta diretamente, como o IRS Jovem. É verdade que, pela primeira vez, é um Orçamento que não tem aumento de impostos.

Os impostos são o tema de eleição?

Não é só o imposto que os afeta. É perceberem qual o modelo de crescimento de um país. Os investidores têm a perceção que, em cima da competitividade das renováveis, estamos a conseguir posicionar-nos para a segunda camada: tentar ter indústrias de energia verde, que já não são só as renováveis. Está por ver o quanto estabiliza a tecnologia do hidrogénio e aço verde. Se o hidrogénio verde tem uma utilização mais de âmbito industrial em cada unidade, como parece mais avançado no terreno, ou de injeção na rede, nas refinarias, na economia circular. Eles veem Portugal dar passos nessa matéria. É o que permite construir a terceira camada, a exportadora. A indústria exportadora, reindustrializada, verde ou não, mas que já beneficia dessas duas primeiras camadas. Por exemplo, teve mais impacto do que se podia imaginar cá em Portugal o sinal dado com o investimento em 600 milhões na rede de alta tensão. Estão atentos ao facto de estarmos à procura de soluções não só de produção como de distribuição, mas dos chamados smart storage (armazenamento inteligente), do retrofit da energia hídrica ou desenvolvimento de soluções de baterias térmicas e dinâmicas. Não é só porque estamos a tentar furar a ilha ibérica, seja energética, seja logística. É mesmo pela competitividade internalizada da economia portuguesa para quem cá invista. O terceiro aspeto que os faz movimentar é o que temos feito, em relação ao Programa Acelerar: a indústria dos fundos (hedge funds, asset management, private equity, venture capital), que vai muito para além destes momentos do Web Summit. Outro aspeto que, claramente, pode fazer mexer o ponteiro. Temos um grupo de trabalho constituído para, de uma vez por todas, densificar o tema do cluster Defesa, da economia da Defesa.

“É preciso não esquecer todos aqueles que nem sequer se sentam à mesa porque veem 31% de imposto”, diz ministro da Economia, em entrevista ao ECO.Hugo Amaral/ECO

Agora é uma oportunidade.

É uma oportunidade que vai muito para além do objetivo NATO dos países investirem 2% do PIB em Defesa. Vai muito para além da capacitação para concursos da Defesa. É o dual use. Temos muita gente interessada porque não tinham identificado o quanto, em Portugal, a aeronáutica, o espaço, o automóvel, está a ir para novas tecnologias, novos componentes. Na prática, olham para aqui e veem segurança, uma política clara em termos de modelo de crescimento económico, estão alinhados com estes setores que vão dar cartas. Não quero usar nomes de empresas, mas na área dos satélites, dos componentes, da geolocalização, das rampas de lançamento e por aí fora, Portugal já tem muitas empresas. Nos drones comparamos com o que de melhor há no mundo, inclusive para o dual use.

E depois, os centros de serviços partilhados e os data centers. Veem que em Portugal há multinacionais onde uns já cá estavam em setores mais tradicionais dos serviços. Temos centros com 5.000 pessoas, 10.000 pessoas. Hoje é mais fácil as multinacionais convencerem-se a pôr-se em Portugal.

Há ainda o tema do talento. A perceção de que em Portugal é possível, para além das políticas que o Governo promova, a atração de talentos focado. Conseguem convencer os seus talentos novos a vir viver para Portugal, porque as pessoas gostam. O feel good factor. O talento jovem é muito mais independente, as pessoas saltam muito mais de empresas. E as próprias empresas sabem que, para agarrar, têm de oferecer um pacote de qualidade de vida que vai muito para além da empresa. Isso também é um fator a favor de Portugal. Não subestimo o soft power da economia portuguesa neste momento.

Usando o exemplo dos data centers, não era mais importante Portugal apostar num melhor acesso à rede elétrica e acelerar o licenciamento nas diversas dimensões, do que apostar na redução de impostos, até porque os investidores preferem a estabilidade fiscal?

Tocou exatamente no ponto. Temos um pipeline de algumas dezenas de milhares de milhões de euros de intenções de investimento nos setores que enumerei. Só me faltou dizer um: o setor do turismo e imobiliário, que continua forte.

Já estava também.

Basicamente é aqui que está muito do investimento internacional e nacional do pipeline. Não quero colocar números específicos, mas são só algumas dezenas de milhares de milhões de euros no pipeline da AICEP. Quando estávamos sob assistência financeira, a taxa de transformação era de mil milhões a 1.200 milhões por ano de investimento em fase negocial. Depois atingimos a velocidade de cruzeiro entre dois e três mil milhões contratualizados. E temos dez vezes isso em pipeline.

Qual é o objetivo?

Respondo a isso se conseguir assegurar dois aspectos: um é infraestruturação energética. É um bom problema, mas é um desafio. Há procura. Assim saibamos infraestruturar a rede para os off takers dos vários setores — shared services centers à indústria, aos data centers, basicamente estes três é que precisam de puxadas energéticas — e isso implica toda a rede. Alta, média e baixa tensão.

Não subestimo o soft power da economia portuguesa neste momento.

Isso depende da REN?

Começa na REN, passa pelo resto da distribuição e por situações de armazenamento de centrais localizadas junto aos próprios polos ou projetos industriais. Por isso digo, a economia está na mão da energia e do ambiente.

A REN está sensível a essa necessidade?

A REN sim. Mas há aqui muito de decisão política que começou a ser tomada. Temos esta rede com esta capacidade e este pipeline de intenções. Fora o que ainda vamos construir. Quantos gigawatts temos de construir, distribuir, em que zonas principais dos polos industriais do país? É isto. Mas isto demora três, quatro anos. É começar a fazer. Só quando fechar esta equação é que se consegue ir a jogo.

O outro aspecto é o licenciamento. Os processos têm de ser mais ágeis, o que quer dizer, uma revisitação de tudo a que chamo customer channel do investidor, que é a visibilidade sobre o processo: quem são os intervenientes, a transparência, o compliance e, no caminho — uma boa aprendizagem destas décadas — retirar intervenções diretas, políticas, discriminações positivas. Tem muito a ver com dois ecossistemas: o da energia e do ambiente e também o das autarquias.

O que temos hoje é suficiente para que essa taxa de transformação supere os dois a três mil milhões do período pós-troika?

É um bom objetivo superar esse patamar, nomeadamente, se cuidarmos destes dois aspectos e continuarmos na senda de redução da fiscalidade. É o que podemos fazer cá, assegurar energia e licenciamentos. Depois é fazer diplomacia económica e, em terceiro lugar, contar com este xadrez mundial. Portugal vai para além do seu espaço natural: é preciso estar na Europa, é preciso estar num país infraestruturado da maneira que estamos. Vamos fazer uma passagem entre o ciclo 2025 — de emprego estrutural estabilizado, PRR e PT2030 —, e o arranque (apesar de estar lá dentro) dos programas das infraestruturas estratégicas. Não é só pela dimensão das obras, é a contratualização e o que tudo isso tem de impacto no aumento da competitividade de quem está cá a instalar-se. Isso está já a ser colocado nos modelos de negócio das empresas e dos investidores.

“Os processos de licenciamento têm de ser mais ágeis”, defende Pedro Reis, em entrevista ao ECO.Hugo Amaral/ECO

Qual é a principal infraestrutura estratégica?

A intermodalidade. A abordagem feita entre o novo aeroporto, ferrovia de alta velocidade para passageiros e carga, a ponte e, por último, os portos. Estive em Singapura. O novo porto de Singapura vai movimentar 65 milhões de contentores por ano. São 20 Sines. Em Sines, o terminal de navios da PSA, um dos operadores, neste momento, está em 1,7 a 1,8 milhões, o objetivo, em carga máxima, é de três milhões. Perante essa dimensão Portugal continua a ser crítico? Continua. Porque estamos numa centralidade, nomeadamente face aos Estados Unidos. E aqui entra a economia com a geopolítica. Apesar de estarmos a fazer isto aqui, eles apontam que hoje os portos estão hiper digitalizados, funcionam 24/7, robotizados.

Na sua ida a Singapura, a PSA garantiu que vai incrementar o investimento em Sines?

Garantiram que vão consolidar o investimento em Sines. E se criarmos a infraestruturação no inner land, que é do que aquilo vive… A dinâmica de um porto tem a ver com o transvase e com o export/import. E o mais rentável é a exportação/importação porque mexe com cargas maiores e hoje há um jogo de volume, seja nos terminais, nas gruas, nos pontos de descarga, na produtividade. A perceção deles, curioso, é que Portugal tende a aumentar o seu comércio internacional, não só o de transvase, não só como um porto de recarga para a Europa. Isto interessa à PSA e aos operadores.

Quando estive no Qatar também me falaram do interesse de ir aos portos. No mercado o que passa é: ‘façam o vosso trabalho de casa em termos de serem ainda mais amigos do investidor e, agora que vão lançar concessões — e está toda a gente atenta a isso — pensem em ser atrevidos no longo prazo’. Hoje o jogo da economia mundial é muito mais de capital intensivo, tem muito mais CAPEX. A chave dos fundos, dos chamados infra funds e dos players internacionais a olhar para este nosso mapa, é se temos maturidades longas das concessões e previsibilidade no ambiente regulatório.

O país suspira há muito por uma nova Autoeuropa. Antecipa que possa vir algum investimento impactante do ponto de vista estrutural para a economia?

No ADN dos projetos de investimento, no tal pipeline, há uma mancha grande de investimentos entre os 300-400 milhões de euros e os grandes investimentos são entre um e 1,5 mil milhões. Mas faz algum sentido. Os tais cinco a seis mil milhões, se nos colocássemos ao tempo do impacto da Autoeuropa, está lá à mesma, temos é de saber ler. Como? Porque estes investimentos funcionam em rede. As novas Autoeuropas são feitas pela verticalização de investimentos, não por uma unidade, mas pela capacidade que um país tem de agarrar toda uma cadeia de valor. Pego numa: o lítio. Se somarmos a exploração do lítio, a refinação, a produção de baterias, a produção de componentes de veículos automóveis e, porventura de veículos elétricos, de repente, esta cadeia de valor é igualmente importante em termos de impacto.

E como é que isto se mede?

Mede-se em termos de nível de investimento, criação de emprego qualificado, impacto nas exportações, dinamização da inovação. É isto que, quando olhamos para trás, foi tão transformador.

A criação da cadeia de valor das baterias é a única agenda do PRR que não está assinada. Desde que a Galp não conseguiu assegurar a liderança do projeto, porque não tinha refinaria pronta em Setúbal, continuamos à espera. E as agendas têm de terminar em 2025.

Se pegarmos nas agendas mobilizadoras, as mais atrasadas são as da energia que, a meu ver, é um compasso de espera, em relação à estabilização das tecnologias. Não é um tema português.

As novas Autoeuropas são feitas pela verticalização de investimentos, não por uma unidade, mas pela capacidade que um país tem de agarrar toda uma cadeia de valor.

É o momento certo para investir na maturidade da tecnologia?

É precisamente isso. Tem a ver com a incerteza ainda sobre a estabilização das tecnologias por trás das agendas mobilizadoras da energia. Não há nem Governo, nem país, que possa fazer mais por isso. As agendas mobilizadoras são muito heterogéneas. Quais estão mais aceleradas? A microeletrónica, está bem evoluída, a florestal, tudo o que tem a ver com a inteligência artificial, temas de software, mobilidade.

E quais as mais atrasadas?

As de energia. Temos de estar atentos. O que depender de mobilização de recursos, de acompanhamento dos organismos intermédios, de licenciamento dos projetos, isso é responsabilidade nossa. Há outros aspetos que temos de dizer com naturalidade — que não quer dizer passividade — os promotores são as empresas privadas. Se algumas dizem “vamos pôr isto em standby, porque precisamos de entender qual é o alcance da tecnologia de hidrogénio no nosso modelo de negócio”, não podemos fazer nada.

Há outras correlações que vejo, às vezes na discussão pública que, para mim, não são claras, como as baterias. Se o crescimento do mercado mundial de veículos elétricos não for tão rápido ou se os construtores chineses derem um rombo grande na indústria europeia… Por exemplo, o lítio é aplicado em energia no armazenamento para fins industriais e até urbanos, portanto, não se esgota aí. Ou seja, pode acontecer — e não quero usar o termo reprogramação — uma reclassificação pelos produtores privados de certos desenhos.

Tocou na palavra-chave “reprogramação”. Quais os projetos mais emblemáticos da área da economia que terão de ser reprogramados?

Atenção que falei na reprogramação no sentido de redefinição estratégica das empresas. Não entro no tema da reprogramação neste momento. Confunde-se muitas vezes, com extensão de prazos, ou revisão de metas. Não queria avançar muito mais sobre essa matéria. É importante perceber qual a capacidade de execução da agenda e a Europa não perder esta oportunidade de ouro.

Bruxelas vai acabar por ceder e concluir que é preciso estender o prazo de execução dos PRR nacionais face aos atrasos generalizados?

Não vejo essa discussão ainda em Bruxelas. Vejo no sentido de execução e de cumprir o que está definido.

O Ministério da Economia tem o peso político que deveria ter no contexto deste Governo para defender as suas políticas, a sua visão?

O decisivo é a agenda do crescimento ter o peso que é importante ter no Governo para ser fomentada. Já não vejo isso na capelinha da Economia. Essa é outra marca d’água da minha maneira de ver as coisas. O mundo funciona articuladamente e também a governação, nomeadamente a económica. A mim, o que me interessa, é saber se está — e acho que está — a funcionar suficientemente bem, nomeadamente o Ministério da Coesão, da Economia, das Finanças, Energia e Ambiente, das Infraestruturas e da Segurança Social e Trabalho, onde estive muito próximo nas negociações com os parceiros, pus o olhar da economia, às vezes de uma forma mais discreta. Mas o que me interessa são os resultados. Se isto funcionar, estamos a pôr a economia a crescer.

Como os empresários vão avaliar os resultados do ministro da Economia?

Se estivermos a gerar um modelo virtuoso de crescimento na captação de investimento, num aumento da internacionalização e na aceleração da inovação — e há várias grelhas —, na execução do programa Acelerar, no funcionamento dos organismos intermédios e na atração de investimento, no fundo, os nossos pilares, já me dou por contente. Dou-me por contente, mas não quero protagonismo. Ou ganhamos todos juntos (estes ministérios, o Governo) ou falhamos todos juntos. E não estou a acicatar as responsabilidades, estou é a solidarizar os conseguimentos.

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