Dividendos do PSI atingem novo recorde, mas continuam a subir menos que os lucros

Acionistas do PSI vão receber mais de 2,6 mil milhões em dividendos dos resultados de 2023. O aumento é inferior aos lucros e o 'payout' desce a pique para pouco mais de 50%, o mais baixo desde 2017.

As cotadas portuguesas continuam generosas na remuneração aos seus acionistas, mas com uma abordagem mais cautelosa, destinando para dividendos uma fatia cada vez mais baixa dos lucros. Ainda assim, apesar do aumento ser muito ligeiro, o total dos dividendos que vão ser pagos pelas empresas do PSI, referentes ao exercício de 2023, atingiram um novo recorde.

De acordo com os números já divulgados pelas empresas do índice que pagam dividendos em dinheiro, a remuneração total aumenta 3,2% para 2.602,6 milhões de euros, valor que supera os recordes que tinham sido atingidos em 2022 e 2023. A este total de 12 companhias falta ainda somar os dividendos da Altri (a empresa já apresentou resultados mas não divulgou a remuneração) e da Ibersol, que só publica as contas no final de abril.

Os cálculos do ECO à remuneração total incluem os dividendos intercalares que já foram pagos no ano passado referentes ao exercício de 2023 e excluem o pagamento que não seja efetuado em dinheiro. É o caso da EDP Renováveis, que volta a remunerar os acionistas através do pagamento de direitos de subscrição de novas ações.

Este aumento dos dividendos totais é potenciado pelo crescimento dos resultados das cotadas portuguesas, embora a melhoria da remuneração aos acionistas seja substancialmente inferior ao progresso nos lucros, que também atingiram um recorde pelo terceiro ano seguido. As mesmas 12 empresas consolidaram lucros acima de 5 mil milhões de euros em 2023, um aumento de 36% face ao exercício anterior. Em resultado, a parcela dos lucros que serão entregues aos acionistas baixa para 52%, o que representa o payout mais baixo desde, pelo menos, 2017. Nos últimos oito anos o payout ficou sempre acima de 60%.

A tendência não é deste ano. 2024 será o terceiro seguido em que o payout desce apesar do aumento dos dividendos para níveis recorde, o que demonstra uma maior capacidade de as cotadas portuguesas remunerarem os seus acionistas de uma forma mais sustentável e saudável. Esta sequência surge depois do ano atípico de 2021, em que o valor dos dividendos afundou devido à queda dos lucros no primeiro ano da pandemia, mas o “payout” disparou para mais de 80%.

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Seis subidas e o regresso do BCP

A boa notícia é que agora as cotadas do PSI não necessitam de um esforço pouco recomendável para manterem uma política de pagamento de dividendos atrativa. Podem assim aproveitar a melhoria dos resultados para fortalecerem os seus balanços numa altura em que as taxas de juro estão em máximos.

As seis empresas que aumentam o dividendo face ao ano passado (CTT, Jerónimo Martins, Sonae, EDP, Galp Energia e Mota-Engil) conseguiram crescimentos superiores nos lucros. A empresa dos correios protagoniza o maior aumento do dividendo por ação (36%), ficando ainda assim bem distante do crescimento dos lucros (66%).

A Sonae também merece destaque, sobretudo por cumprir o décimo ano consecutivo de aumento do dividendo, que passou de 3,3 cêntimos em relação aos resultados de 2013 para os 5,639 cêntimos que serão entregues este ano, mediante aumentos anuais que rondaram os 5%. A remuneração por ação aumentou 71% neste período.

O BCP marca o único regresso à remuneração aos acionistas depois dos lucros de 2023 terem aumentado mais de quatro vezes. O banco revelou que vai entregar 30% dos lucros, o que representa dividendo de em redor de 1,7 cêntimos por ação. Entre as três cotadas que baixam os dividendos (Semapa, Nos, Navigator) os lucros baixaram face a 2022. A Corticeira Amorim e a REN optaram por manter o dividendo por ação.

A análise aos payout individuais também confirma que as cotadas portuguesas estão a adotar uma política mais saudável. Já não existem rácios acima de 100% e a Nos é a única que entrega aos acionistas a totalidade dos lucros obtidos. Apenas cinco cotadas apresentam um payout superior a 50%, quando no ano anterior foram nove as que superaram esta fasquia.

A EDP continua a ser, por uma larga margem, a cotada que paga os dividendos mais elevados aos acionistas. O valor por ação aumentou apenas 0,5 cêntimos, mas foi suficiente para superar a fasquia dos 800 milhões de euros. A elétrica definiu no ano passado uma nova política, com um payout entre 60 a 70% e um aumento do dividendo mínimo para 20 cêntimos por ação em 2026. Tendo com conta o lucro recorrente de 1.290 milhões de euros, o payout da EDP foi de 63%, o que está alinhado com a política da companhia.

A Jerónimo Martins e a Galp Energia fecham o pódio das cotadas portuguesas com dividendos totais mais elevados. As duas companhias superam a fasquia dos 400 milhões de euros, com a dona do Pingo Doce a aumentar em linha com os lucros e a petrolífera a ficar um pouco aquém do crescimento dos lucros que superaram pela primeira vez a barreira dos mil milhões de euros. A petrolífera, que já efetuou o pagamento intercalar de metade do dividendo, tem ainda um programa de recompra de ações de 350 milhões de euros a implementar este ano.

Estas três companhias representam 63% do total dos dividendos das cotadas do PSI, evidenciando a concentração da remuneração num escasso número de companhias. Juntando o BCP, o peso sobe para 73%. O regresso do banco ao pagamento de dividendos permitiu mais do que compensar as descidas observadas na Navigator, Semapa e Nos. As duas primeiras são penalizadas por uma conjuntura de resultados mais desfavorável e a operadora de telecomunicações não repetiu o pagamento de um dividendo extraordinário devido à venda de ativos.

 

Dividendos globais sobem para recorde

A subida dos dividendos das cotadas do PSI está longe de ser um exclusivo do mercado português. Segundo a gestora de ativos Janus Hendersen, em 22 países (incluindo Estados Unidos, França, Alemanha e Itália) o valor que as empresas cotadas entregam aos acionistas também atingiu um recorde.

Segundo a mesma fonte, os dividendos globais aumentaram 5,6% para um valor recorde de 1,66 biliões de dólares, sendo que 86% das companhias incrementaram ou mantiveram estável a remuneração aos acionistas.

O aumento dos dividendos foi quase generalizado, sendo sentido em particular na Europa, com um crescimento de 10,4% para um nível recorde. Para 2024, a Janus Hendersen estima um novo aumento dos dividendos globais, em 3,9% para 1,72 biliões de dólares, antecipando um decréscimo no pagamento de dividendos extraordinários.

O pagamento de dividendos atrativos tem sido uma arma utilizada por muitas cotadas, sobretudo de setores mais tradicionais, por forma a estancar a fuga dos investidores para cotadas com potencial de crescimento mais elevado, como é o caso do tecnológico.

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