Empresários estimam impacto “muito negativo” da “bomba” das tarifas. Ameaça vai além das exportações de cinco mil milhões

Onda protecionista criada pelos EUA deverá afetar todos os setores e penalizar as exportações de mais de cinco mil milhões para o país. Setores mais expostos forçados a procurar novos mercados.

“Neste momento rebentou uma bomba e estamos em modo de espera para ver para onde nos podemos dirigir”. As palavras são de Filipe de Botton, chairman da Logoplaste. Para o empresário português, que tem várias fábricas instaladas nos Estados Unidos — escapando assim às tarifas — , a imposição de taxas aduaneiras recíprocas vai levar a uma paragem na economia mundial. “Entramos numa guerra global que vai redesenhar todas as economias”, avisa. Com mais de cinco mil milhões de bens exportados para os EUA, as empresas portuguesas antecipam um impacto muito negativo, que deverá traduzir-se numa retração das vendas para os EUA e que vai afetar todos os setores, direta ou indiretamente.

Foi a partir do Rose Garden na Casa Branca que Donald Trump anunciou, esta quarta-feira, a imposição de taxas aduaneiras recíprocas sobre todos os bens que chegam aos Estados Unidos, partindo de uma base de 10%. No caso da União Europeia será aplicada uma taxa de 20%. Um golpe duro para as empresas, para a economia e para os consumidores, que terão que pagar a fatura destes aumentos. No caso das empresas portuguesas, que no ano passado exportaram 5,3 mil milhões de euros para os EUA, estas medidas terão “um impacto muito negativo“, afirma Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP.

Por um lado, explica, “por via direta, porque as exportações de bens ficarão mais caras para o mercado americano, o nosso quarto principal cliente e o primeiro não europeu, com um peso de cerca de 7% no valor global das exportações portuguesas de bens”. Mas, além do impacto direto, há que considerar ainda efeitos indiretos, que vão afetar todos os setores. “Os efeitos sentir-se-ão, também, por via indireta, sobretudo pelo impacto que os nossos principais parceiros comerciais possam sofrer e que se repercutirá na dinâmica da procura externa dirigida à economia portuguesa”, acrescenta o presidente da AEP.

Os efeitos sentir-se-ão, também, por via indireta, sobretudo pelo impacto que os nossos principais parceiros comerciais possam sofrer e que se repercutirá na dinâmica da procura externa dirigida à economia portuguesa.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

A taxa de 20% representa um grave agravamento face à tarifa efetiva média nas exportações portuguesas para os EUA, que oscilou em torno de 4% até 2015, com uma redução para valores próximos de 3,5% após 2016 e que se acentuou mais recentemente, de acordo com cálculos do Banco de Portugal. No “Boletim Económico” de março, a instituição liderada por Mário Centeno assinalou que perto de 70% do valor dos bens exportados por Portugal para os EUA enfrentam tarifas entre 0% e 2%, mas 6% do valor das exportações está afetado por tarifas iguais ou superiores a 10%.

“O impacto sobre as empresas exportadoras portuguesas em resultado das tarifas ontem anunciadas pelo Presidente norte-americano será acentuado, quer de forma direta, quer devido aos efeitos sobre a economia europeia e mundial, quer ainda por um desvio dos fluxos comerciais do resto do mundo para os mercados europeus, aumentando deste modo os desafios para as empresas portuguesas”, reforça Rafael Alves Rocha, diretor-geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal.

Para Alves Rocha, “mesmo os setores em que o mercado norte-americano tem pouca expressão não deixarão de ser afetados, pelo impacto que tal agravamento terá sobre a indústria europeia”. O especialista explica que isso verifica-se sobretudo no caso de “setores que não têm uma grande exposição direta ao mercado norte-americano, mas que exportam para empresas europeias muito dependentes deste mercado. Note-se, por exemplo, que os EUA são o principal destino do setor automóvel europeu, representando 20% das exportações”.

O responsável alerta que “as medidas anunciadas vão desestabilizar o comércio internacional, promover a desglobalização económica e ameaçar as cadeias de abastecimento internacionais, provocando uma forte degradação das condições económicas à escala global”. Por outro lado, as contramedidas que deverão ser anunciadas pela União Europeia (UE) e outros países “aumentarão as pressões inflacionistas, levando à persistência de taxas de juro elevadas, com um óbvio impacto recessivo”.

O impacto sobre as empresas exportadoras portuguesas em resultado das tarifas ontem anunciadas pelo presidente norte-americano será acentuado, quer de forma direta, quer devido aos efeitos sobre a economia europeia e mundial, quer ainda por um desvio dos fluxos comerciais do resto do mundo para os mercados europeus, aumentando deste modo os desafios para as empresas portuguesas.

Rafael Alves Rocha

Diretor-geral da CIP

A esta altura as consequências são na verdade imprevisíveis pois a atuação do presidente norte-americano não consta de qualquer compêndio de economia. Tanto a UE como Portugal são capazes de reagir, sendo que o protecionismo não é o caminho para a economia mundial. Devemos privilegiar o multilateralismo, os acordos de comércio livre, e novas geografias do ponto de vista comercial”, afiança.

“Para onde vamos ninguém sabe”, destaca Filipe de Botton, realçando que considera que traçar cenários sobre o impacto destas medidas, para já, é “pura futurologia”. Certo é, nas suas palavras, um cenário marcado pelo “aumento das tarifas, de todos para todos”. “O que vai fazer é um levantar de preços que vai ser dramático para os consumidores”, avisa. O empresário alerta que “alguns países vão ficar sob uma pressão fortíssima”, apontando que no caso europeu, “vai haver um enfraquecimento da Europa e do mundo todo“, com impacto direto nas decisões de investimento das empresas.

Filipe de Botton, Chairman Executivo Logoplaste, avisa que guerra de tarifas vai provocar paragem na economia.Hugo Amaral/ECO

Na visão do dono da Logoplaste, “os investimentos de médio e longo prazo são postos em pausa. Ninguém vai investir milhões de milhões na base de um decreto que daqui a quatro anos pode ser posto em causa”.

Para Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, “este anúncio de Donald Trump, embora expectável, é bastante prejudicial ao comércio internacional, à economia europeia e, por arrasto, às empresas exportadoras nacionais“. O responsável destaca que, “no caso português, o impacto mais negativo que este anúncio pode trazer às nossas empresas é o arrefecimento das exportações para o mercado norte-americano, que estava numa trajetória francamente positiva”, diz, quantificando que, entre 2020 e 2024, as exportações de bens para os EUA cresceram de 2,6 para 5,3 mil milhões de euros, contribuindo para um excedente comercial muito interessante, superior a 2,9 mil milhões de euros no último ano.

No caso português, o impacto mais negativo que este anúncio pode trazer às nossas empresas é o arrefecimento das exportações para o mercado norte-americano, que estava numa trajetória francamente positiva.

Nuno Botelho

Presidente da Associação Comercial do Porto

“Os EUA têm-se vindo a posicionar como um importante parceiro comercial das empresas nacionais, especialmente no período pós-covid 19, contribuindo para a recuperação da nossa economia e para aumentarmos significativamente o peso das exportações no PIB”, lembra Nuno Botelho.

“Nos últimos anos, as exportações para os EUA cresceram 73%. O aumento das taxas sobre os produtos exportados da UE tem graves consequências no comércio transatlântico que representa até ao momento, 30% do comércio mundial de mercadorias e serviços”, acrescenta José Eduardo Carvalho. Para o presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), “vão ser inevitáveis as consequências nos principais produtos de exportação portugueses para os EUA: indústria farmacêutica (os EUA absorvem 48% do total das exportações), combustíveis minerais, máquinas e aparelhos, plástico e borracha, agroalimentar”.

O presidente da AIP realça ainda que “a guerra comercial anunciada desacelera e compromete a globalização e os benefícios que dela resultaram. Todos os setores de bens transacionáveis ficarão penalizados“.

Vão ser inevitáveis as consequências nos principais produtos de exportação portugueses para os EUA: indústria farmacêutica (os EUA absorvem 48% do total das exportações), combustíveis minerais, máquinas e aparelhos, plástico e borracha, agroalimentar.

José Eduardo Carvalho

Presidente da AIP

Em termos de setores mais expostos, Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, destaca “vários setores com elevado grau de especialização produtiva da economia portuguesa, como os bens alimentares, os têxteis e o calçado, mas, também, os produtos das indústrias químicas, metalomecânica e de equipamentos, entre muitos outros”.

Em 2023, 12% das empresas exportadoras de fabricação de têxteis e de fabricação de produtos minerais não metálicos (que inclui vidro, produtos cerâmicos e cimento) apresentava elevada exposição ao mercado americano, assinala o Banco de Portugal. De acordo com os economistas, as indústrias das bebidas, dos equipamentos informáticos, de comunicações, eletrónicos e ótica e na indústria do couro e seus produtos, apresentavam também uma relevante percentagem de empresas com elevada exposição ao mercado americano.

Com exportações de mil milhões de euros para os Estados Unidos, a metalurgia e a metalomecânica é um dos setores mais expostos às tarifas. “Estamos a entrar no domínio do muito pouco racional, mas surpreendidos já não ficamos”, lamenta Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP). Perante esta nova realidade, Rafael Campos Pereira admite que “temos que procurar soluções alternativas. Nos últimos anos temos estado a crescer nos EUA”, acrescenta, admitindo que no caso dos clientes que compram produtos de maior valor acrescentado, estes “vão querer continuar a comprar”.

Vamos ter que procurar novos mercados e continuar a apostar no valor acrescentado“, defende o vice-presidente da AIMMAP. “A forma de acautelar tarifas é a procura de outros mercados. As empresas estão a apostar em processos de internacionalização”, defende.

“A Europa vai ter que encontrar outros mercados para colocar os seus produtos. O que Trump está a fazer é a isolar os EUA”, atira Mário Jorge Machado. Para o presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, as medidas anunciadas pela nova administração norte-americana vão resultar num aumento dos preços para os consumidores, o que poderá levar a uma quebra das vendas do setor, que, em 2024, exportou 500 milhões de euros, o equivalente a 10% das exportações do têxtil e vestuário.

A ideia que as empresas vão levar a produção para os EUA não se aplica ao setor do têxtil e vestuário. Não é razoável pensar que os EUA vão montar investimentos na área da tecelagem, fiação, por causa das taxas.

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP

O representante do setor realça que “o que as empresas têm vindo a fazer com os seus clientes é tornar a produção mais competitiva, com matérias-primas mais baratas e processos de produção mais simples”, acrescentando que o setor registou uma antecipação de encomendas, perante a ameaça de tarifas no país.

Quanto à possibilidade de levar investimentos para solo americano, Mário Jorge Machado afasta essa ideia. “A ideia que as empresas vão levar a produção para os EUA não se aplica ao setor do têxtil e vestuário. Não é razoável pensar que os EUA vão montar investimentos na área da tecelagem, fiação, por causa das taxas”, atira, acrescentando que montar uma fábrica destas é um projeto de 4 ou 5 anos.

César Araújo, CEO da Calvelex, defende reciprocidade, nomeadamente com a Ásia.Ricardo Castelo/ECO

César Araújo, CEO da Calvelex e presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e de Confecção (ANIVEC), diz que é a favor da reciprocidade, notando que “o mundo está desequilibrado, a Ásia começa a dominar os vários mercados da UE, EUA e Canadá e Trump quer reciprocidade”. “Se a UE vai tomar medidas, a única que deve tomar é aproximar as taxas para que os setores europeus não sejam penalizados”, defende.

“As taxas aduaneiras para os EUA variam entre 17 e 27% ao nível do têxtil e vestuário. Como o nosso setor é tão penalizado? A União Europeia fez isto para equilibrar a sua balança de transações e prejudicou o nosso em detrimento do automóvel e farmacêutico”, critica. César Araújo destaca ainda que “no último mandato de Obama, o TTIP era um acordo de abolição das tarifas entre a UE e os EUA. O que Trump quer é reciprocidade dos mercados. No fundo é uma espécie de TTIP“, explica.

“Não me importa que a UE negoceie para que as taxas desçam de ambos os lados”, diz. Virando atenções para a Ásia, o empresário atira-se à concorrência chinesa, que “introduz na UE tudo e a Europa condena a sua indústria colocando legislação proibitivas que faz com que as empresas percam competitividade. Importa sem controlo e impõe regras à sua indústria”, remata. “Pode ser que Trump obrigue a uma nova ordem mundial com os mercados a vender mas também têm de comprar”, refere.

Vamos ter, nos próximos dias, provas organizadas por nós em Boston e Atlanta. Com a mensagem do Presidente dos EUA de imposição de tarifas de 200% aos vinhos da Europa, houve uma suspensão de encomendas por parte dos importadores nos EUA.

Frederico Falcão

Presidente da ViniPortugal

Uma situação complicada atravessa também o setor do vinho, que chegou a ver Trump ameaçar a indústria com taxas de 200%, uma declaração que teve impacto nas vendas do setor no país. “Vamos ter, nos próximos dias, provas organizadas por nós em Boston e Atlanta. Com a mensagem do Presidente dos EUA de imposição de tarifas de 200% aos vinhos da Europa, houve uma suspensão de encomendas por parte dos importadores nos EUA“, adianta Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal. O responsável, que responde ao ECO precisamente a caminho de Boston, explica que “esta suspensão (e não cancelamento) deveu-se à incerteza sobre a taxa que viria a ser aplicada e sobre o momento em que se aplicava”.

“Com a notícia de ontem ficámos a saber que existirá uma tarifa de 20% e que inclui os vinhos”, acrescenta, adiantando que o mercado dos EUA é o segundo mercado de exportação do setor, representando 102 milhões de euros e 10,58% da quota de exportação. “Ou seja, é um mercado de enorme importância para o nosso setor e de difícil substituição, pelo menos nos próximos anos“, reconhece.

Frederico Falcão diz que “é cedo para perceber as consequências diretas, mas é altamente preocupante para o nosso setor”. “Uma coisa parece certa: o preço do vinho vai chegar mais caro aos consumidores americanos e tal poderá levar a quebras de consumo”, admite, acrescentando que “é vital que a Europa não entre numa luta comercial, ao nível de tarifas, para evitar nova escalada na subida das tarifas por parte dos EUA”.

No imediato estamos a prever alguma quebra nas exportações, com alguns cancelamentos de encomendas. Da nossa parte, vamos (para já), continuar a trabalhar o mercado para abrir portas aos Vinhos de Portugal”, refere.

Os EUA, onde as vendas cresceram 25% nos últimos três anos para dois milhões de pares, ou 97 milhões de euros, são atualmente o sexto maior mercado da indústria portuguesa de calçado, que no ano passado exportou 1.724 milhões de euros para 174 países nos cinco continentes. E o setor não pretende desistir deste mercado.

Para Paulo Gonçalves “o setor do calçado tem hoje muito melhores condições para abordar ao mercado norte-americano, nomeadamente na sequência dos investimentos em curso nas áreas da automação e sustentabilidade”. “Estamos no mercado americano para durar”, adiantou o porta-voz da APICCAPS.

Diversificar é solução

Perante o aumento das tarifas americanas, os empresários veem na diversificação de mercados a resposta a esta ameaça. “A AEP reforça a importância da diversificação dos mercados de exportação das empresas, que contribuirá para minimizar alguns riscos, pelo que está fortemente empenhada em continuar a apoiar as empresas no seu processo de diversificação dos mercados de exportação”, refere Luís Miguel Ribeiro.

“Existem diversas medidas equacionáveis neste cenário, sendo que todas elas dependem da realidade e conjuntura das empresas e atividades em causa. A opção por criar plataformas em solo americano para produção e distribuição podem ser uma hipótese, se o volume justificar”, considera Ramiro Brito, presidente da AEMinho. “Por outro lado, a diversificação de mercados é sempre importante em termos globais para limitar o impacto de situações como a que vivemos hoje”, acrescenta o responsável.

O diretor-geral da CIP concorda que “uma via para responder ao impacto destas medidas será o reforço de estratégias de diversificação de mercados de exportação, procurando diminuir a exposição ao mercado norte-americano”, identificando oportunidades em “mercados como a América Latina (onde esperamos que o Acordo com o Mercosul venha a ajudar) e outros mercados emergentes. Note-se que, em mercados de grande dimensão, pequenos aumentos das nossas quotas permitem grandes incrementos dos valores exportados”, destaca.

“Importa também reforçar a aposta na relação de confiança que as empresas que exportam para os EUA mantêm com os seus clientes, bem como na qualidade e inovação dos seus produtos, por forma a manterem, tanto quanto possível, as suas vendas naquele mercado, vencendo a concorrência face a produtores locais, apesar dos aumentos das tarifas as tornarem mais caras. Isto é, devemos concentrar-nos nas variáveis que controlamos, eliminando ineficiências e potenciando eficiências, escalando a cadeia de valor, apostando em I&D, em tecnologia, na inovação”, remata Rafael Alves Rocha.

“A reação das empresas exportadoras, num contexto dinâmico em que se procuram novos mercados e em que existem alterações nos níveis de rendimento dos consumidores e nos preços relativos dos bens transacionados internacionalmente, determinará também o impacto das novas tarifas”, assinala o Banco de Portugal, no seu Boletim Económico de março.

Na leitura do Banco de Portugal, a previsível redução no rendimento dos consumidores a nível global vai diminuir as exportações, “mas a imposição de tarifas retaliatórias sobre bens americanos por parte de alguns países, pode favorecer a capacidade competitiva dos bens nacionais nesses mercados”. Porém, “o aumento da concorrência num mercado global menor (sem os EUA) aumentará os desafios para as empresas (portuguesas)”.

O Banco de Portugal alerta que, “a efetivação de novas medidas protecionistas por parte dos EUA e o agravamento das barreiras ao comércio a nível global constitui um risco importante e exigirá uma adaptação por parte das empresas e das políticas públicas”.

Tarifas abrandam crescimento

As tarifas deverão afetar a economia portuguesa por via indireta, através da desaceleração do crescimento global e de alguns dos principais parceiros comerciais do país, consideram os economistas ouvidos pelo ECO.

“Os riscos para economia portuguesa vêm muito mais da desaceleração da economia global do que riscos diretos. O efeito para Portugal poderá vir ou não muito das retaliações que a Europa quiser fazer. O caminho para já é de cautela, o que me parece correto e congruente”, assinala Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros em declarações ao ECO. O economista sublinha que se a União Europeia optar por uma estratégia agressiva na resposta “estará a colocar essas tarifas em cima dos consumidores europeus”.

Filipe Garcia reconhece que “há setores e empresas [portuguesas] mais expostas aos Estados Unidos que vão ter de se adaptar, encontrar outros mercados ou diminuir as margens”, mas destaca que o setor mais representativo para as exportações portuguesas para terras de ‘Uncle Sam’ ficou isento das tarifas: o farmacêutico. Assinala, contudo, que para compreender os efeitos na economia portuguesa é importante conhecer a “dimensão da retaliação”.

No entanto, destaca que um choque maior “oneraria todas as cadeias de abastecimento” e, por exemplo, “grandes empresas tecnológicas podem ter um conjunto de impactos negativos se houver um encarecimento desses produtos”.

Certo é que descarta, para já, que o impacto na inflação seja uma preocupação para a economia portuguesa, até porque “a desaceleração da economia também é inflacionista”.
Ricardo Ferraz, professor no ISEG e na Universidade Lusófona, sublinha que “é inevitável que haja um impacto direto destas tarifas na economia portuguesa, sendo que haverá setores a sentir mais do que outros”.

“Agora, a expectativa é a de que esse choque não nos irá impedir de continuar a crescer e a convergir com a média europeia. Contudo, há uma enorme incerteza em tudo isto. A Alemanha, que é o principal motor da área do euro, será certamente bem mais penalizada”, adverte.
Para o economista, num cenário desfavorável, “em que tudo corre mal, isto é se houver sucessivas reações de parte a parte, e se a conjuntura externa se agravar, então surgirão problemas muito sérios – não só para nós como para toda a gente, incluindo para os EUA”.

Banco de PortugalLusa

No “Boletim Económico” de março, o Banco de Portugal estimou que um aumento de 25 pontos percentuais (pp.) das tarifas impostas pelos EUA, em particular, sobre os bens importados da União Europeia, acompanhado por uma retaliação de igual magnitude por parte dos países afetados, aliada à incerteza, levaria a uma redução cumulativa do Produto Interno Bruto (PIB) português de cerca de 1,1% no final de três anos, com os efeitos concentrados nos dois primeiros anos. Neste cenário adverso, a economia portuguesa cresce apenas 1,4% este ano, ao invés dos 2,3% estimados no cenário base.

Em 2026, o impacto é contudo menor: neste cenário a economia cresce 1,7%, ao invés dos 2,1% previstos no cenário base. Por outro lado, o impacto em 2027 seria positivo, significando mais 0,2 pontos percentuais face aos 1,7% estimados.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Empresários estimam impacto “muito negativo” da “bomba” das tarifas. Ameaça vai além das exportações de cinco mil milhões

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião