O volume de negócios de fusões e aquisições de empresas portuguesas contraiu 33% este ano no valor mais baixo desde 2016. Porém, num mercado anémico, há 10 negócios que brilharam mais que os outros.
O mercado de fusões e aquisições (M&A) em Portugal encerrou 2024 com um desempenho dececionante, confirmando as tendências negativas observadas no primeiro semestre e frustrando as expectativas de recuperação para a segunda metade do ano.
Desde janeiro, foram contabilizadas apenas 584 operações de M&A, representando uma queda de 21% face a 2023, segundo dados da consultora TTR Data. Este número marca o pior desempenho desde 2020, ano fortemente afetado pela pandemia de Covid-19.
O volume de negócios global que estas operações geraram também sofreu uma contração significativa, totalizando pouco mais de 10 mil milhões de euros, menos 33% face aos números de 2023, constituindo assim o volume global de negócios mais baixo desde 2016 associado à ocorrência de nenhuma operação acima dos 1.000 milhões de euros.
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O desempenho anémico do mercado de M&A este ano já se anunciava desde o primeiro semestre. Dados da TTR Data já davam nota de que nos primeiros seis meses do ano tinham sido registados apenas 295 negócios, uma redução de 22% face ao mesmo período de 2023, marcando a maior queda homóloga de um primeiro semestre em pelo menos 10 anos. Além disso, o primeiro semestre de 2024 fechou com apenas 7.513 milhões de euros contabilizados em operações de M&A envolvendo empresas nacionais, um mínimo de oito anos.
O fraco desempenho do mercado português de fusões e aquisições de empresas este ano contrasta com um cenário global mais positivo. Segundo o relatório “Look Back at M&A in 2024: Dealmakers Adapt as the Market Idles” da consultora Bain & Company, o mercado global de M&A deverá atingir os 3,5 biliões de dólares até ao final de 2024, um aumento de 15% face a 2023.
O estudo da Bain destaca que o crescimento global foi impulsionado principalmente pelos setores de energia e tecnologia. No setor energético, as grandes operações de consolidação foram predominantes, refletindo a contínua dependência de recursos fósseis da economia mundial.
Esta tendência setorial foi também visível no mercado nacional, com o setor energético a destacar-se amplamente entre os 10 maiores negócios do ano. Um dos negócios mais relevantes foi a concretização da venda por mais de 480 milhões de euros de vários ativos da EDP no Brasil à Edify Empreendimentos e Participações. Esta operação fez parte da estratégia da EDP de desinvestimento em ativos não estratégicos e reforço da sua posição em mercados prioritários.
Outro negócio de destaque foi o investimento de 453 milhões de euros da GVK Omega, uma empresa do private equity KKR, na aquisição de 33,4% detidas pelos pequenos investidores da Greenvolt após o lançamento de uma oferta pública de aquisição (OPA) voluntária e, mais tarde, a uma oferta potestativa, que posteriormente resultou no controlo total do capital da empresa de energias renováveis pela KKR e na sua saída de bolsa a 21 de novembro.
Também no setor da energia, mas de fora do leque dos maiores negócios do ano por ainda não se ter concretizado, está a venda de 10% da posição que a Galp detém na exploração da concessão da Area 4 na Bacia do Rovuma à Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC). Este negócio, que em agosto recebeu “luz verde” da Autoridade Reguladora da Concorrência moçambicana, deverá gerar um encaixe de aproximadamente 650 milhões de dólares para a Galp, com pagamentos contingentes adicionais de 500 milhões de dólares esperados.
O ano que chega agora ao fim foi marcado por uma contração significativa no mercado de M&A em Portugal, contrastando com um cenário global mais dinâmico. No entanto, foram feitos grandes negócios ao longo do ano. Estes são os 10 maiores que ficam para a posterioridade:
1. Ciência ao mais alto nível no Porto em negócio recorde
Comprador: Partners Group
Vendedor: GHO Capital
Alvo: FairJourney Biologics
Valor: 900 milhões de euros
Setor: Biofarmacêutico
Negócio: A Partners Group, um dos maiores fundos de private equity do mundo, adquiriu uma participação maioritária na portuense FairJourney Biologics, uma empresa de biotecnologia especializada em descoberta e desenvolvimento de anticorpos. A transação foi concluída em julho e tem como objetivo impulsionar o crescimento do negócio, aproveitando as tendências favoráveis no mercado de descoberta de anticorpos, incluindo o aumento dos gastos em investigação e desenvolvimento (I&D) farmacêutico e a crescente terceirização do setor. A GHO Capital Partners, anterior acionista maioritário da FairJourney Biologics, mantém uma participação minoritária da empresa, assim como o fundador e CEO António Parada.
2. EDP vende ativos no Brasil
Comprador: Edify Empreendimentos e Participações
Vendedor: EDP Brasil
Alvo: EDP Transmissão SP-MG e Mata Grande Transmissora de Energia
Valor: 482 milhões de euros
Setor: Energia
Negócio: A EDP Brasil, subsidiária da EDP, concluiu a venda de duas linhas de transmissão (EDP Transmissão SP-MG e Mata Grande Transmissão de Energia) com uma extensão total de 857 quilómetros à brasileira Edify Empreendimentos e Participações. A EDP revelou que “esta operação faz parte da estratégia de rotação de ativos de transmissão no Brasil, definida no plano de negócios da companhia.”
3. Cimpor passa a ser uma empresa taiwanesa
Comprador: Taiwan Cement Corporation (TCC)
Vendedor: Oyak
Alvo: Cimpor
Valor: 480 milhões de euros
Setor: Construção
Negócio: Os turcos da Oyak acordaram vender os 60% que detinham na Cimpor à Taiwan Cement Corporation (TCC), que já controlava 40% do capital da empresa portuguesa. Dessa forma, a TCC tornou-se no único acionista da Cimpor a partir de março, alavancando ainda mais a sua posição como terceiro maior player internacional no mercado de cimento. “A TCC reconhece um potencial de crescimento substancial na Cimpor, particularmente no desenvolvimento de uma estratégia abrangente de descarbonização”, referiu Nelson Chang, presidente do conselho de administração da empresa natural de Taiwan.
4. KKR compra Greenvolt e tira empresa de bolsa
Comprador: Kohlberg Kravis Roberts
Vendedor: Acionistas de referência da Greenvolt
Alvo: Greenvolt
Valor: 453 milhões de euros
Setor: Energia
Negócio: O private equity norte-americano KKR concluiu com sucesso a aquisição da Greenvolt, investindo na reta final da operação cerca de 453 milhões de euros na aquisição das ações da empresa de energias renováveis que não detinha e que estavam na posse dos pequenos investidores. A operação iniciou-se com uma OPA voluntária, após um acordo com os principais acionistas que detinham 60,86% do capital. A KKR adquiriu 78,90% da empresa, lançando posteriormente uma OPA a 8,30 euros por ação. Após garantir 97,64% do capital, os norte-americanos avançaram com uma oferta potestativa sobre os restantes 2,36%. Esta série de movimentos estratégicos culminou na saída da Greenvolt da bolsa a 21 de novembro.
5. EDP Renováveis vende ativos no Canadá
Comprador: Connor, Clark & Lunn Infrastructure (CC&L)
Vendedor: EDP Renováveis
Alvo: Projeto eólico em Alberta
Valor: 413 milhões de euros
Setor: Energia
Negócio: A EDP Renováveis concluiu em fevereiro a venda de 80% da participação que detinha num parque eólico de 297 megawatts em Alberta, no Canadá, à Connor, Clark & Lunn Infrastructure (CC&L). O projeto, denominado de Sharp Hills, tem capacidade para abastecer mais de 160 casas. Esta transação, avaliada em aproximadamente 600 milhões de dólares canadianos, alinha-se com o programa de rotação de ativos da EDP Renováveis, que visa 7 mil milhões de euros para o período 2023-2026.
6. Uma parceria no universo dos biocombustíveis
Investidores: Galp Energia e Mitsui
Valor: 400 milhões de euros
Setor: Biocombustíveis
Negócio: Após anunciada em setembro do ano passado, a parceria entre a petrolífera nacional e os japoneses da Mitsui & Co (75%/25%) foi concretizada a 14 de fevereiro deste ano. Esta operação permitirá o desenvolvimento de uma unidade adjacente à refinaria de Sines com capacidade de 270 mil toneladas para produzir e comercializar biocombustíveis avançados. “Esta parceria reúne a extensa experiência industrial das duas empresas, combinando as sinergias operacionais e de mercado da Galp com a presença global da Mitsui”, destaca a empresa nacional em comunicado.
7. Portefólio de autoestradas na região Norte
Comprador: IIP Platinum Fibre
Vendedor: Field Point Acquisitions, Ringsend, Yellow Sapphire, Rathgar, Kings Forest e Cross Ocean
Alvo: Noae Investments
Valor: 400 milhões de euros
Setor: Infraestruturas
Negócio: A IIP Platinum Fibre, uma subsidiária do grupo Finerge, concretizou em outubro a aquisição da Noae Investments, detentora da Autoestradas do Douro Litoral (o seu único ativo) e controlada por um grupo de investidores constituído por Field Point Acquisitions, Ringsend, Yellow Sapphire, Rathgar, Kings Forest e Cross Ocean. A Autoestradas do Douro Litoral, responsável pela gestão de 79 quilómetros de autoestradas na região do Porto, incluindo os troços das A32, A41 e A43, passa assim para as mãos de um grupo com forte presença no setor das energias renováveis. Esta aquisição reflete uma tendência crescente de investimento em ativos de infraestruturas por parte de grupos empresariais diversificados.
8. Rotação de ativos da EDP Renováveis
Comprador: PLT Rew 2
Vendedor: EDP Renováveis
Alvo: Ativos eólicos em Itália
Valor: 400 milhões de euros
Setor: Energia
Negócio: A EDP Renováveis concretizou no final de junho um negócio de 400 milhões de euros com a venda de um portefólio eólico de 191 megawatts em Itália à PLT Rew. Este acordo insere-se na estratégia de rotação de ativos da empresa, que visa “reciclar” capital para reinvestimento em novos projetos renováveis. O portefólio de ativos inclui parques eólicos em operação, reforçando o compromisso da empresa com a transição energética e a expansão sustentável do setor das energias renováveis.
9. Vision-Box voa para Espanha
Comprador: Amadeus
Vendedor: Vision-Box Holding
Alvo: Vision-Box
Valor: 320 milhões de euros
Setor: Tecnologia
Negócio: Os espanhóis da Amadeus chegaram a acordo com o fundo de capital de risco Keensight Capital e outros acionistas da Vision-Box para adquirirem a totalidade do capital da empresa portuguesa, líder na oferta de soluções biométricas para aeroportos e companhias aéreas. Miguel Leitmann, fundador e até então CEO da Vision-Box, juntamente com os 470 funcionários da empresa transitaram para a Amadeus, refere a empresa em comunicado.
10. Abanca fecha compra do Eurobic
Comprador: Abanca
Vendedor: Acionistas particulares do Eurobic
Alvo: Eurobic
Valor: 300 milhões de euros
Setor: Financeiro
Negócio: Após vários meses a aguardar luz verde dos reguladores, os galegos do Abanca concretizaram a compra da totalidade do capital do Eurobic, tornando-se assim na sétima maior instituição bancária em Portugal. No decorrer da apresentação de resultados do segundo trimestre, Juan Carlos Escotet Rodríguez, presidente do banco espanhol, referiu que, “ao contrário de algumas das outras aquisições que fizemos, trata-se de uma integração de uma posição absolutamente complementar, de modo que o que faz sentido é reforçar a rede e a nossa capacidade de competir”, afastando assim cortes de funcionários e encerramento de agências bancárias.
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Os dez maiores negócios de M&A de empresas nacionais em 2024
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