O que está em jogo para os pequenos investidores na OPA da Greenvolt
Os pequenos acionistas da Greenvolt têm até 24 de outubro para decidirem se aceitam a oferta de 8,31 euros. Os fundos de ações nacionais não quiseram esperar e já venderam grande parte dos títulos.
Os norte-americanos da Kohlberg Kravis Roberts (KKR) deram mais um passo decisivo na intenção de adquirirem e retirarem de bolsa a Greenvolt GVOLT 0,06% , com a concretização do registo da operação pública de aquisição (OPA) sobre a empresa liderada por João Manso na sexta-feira, na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
A oferta, que representa um investimento potencial de 452,7 milhões de euros por parte dos gigantes norte-americanos do private equity, foi lançada através da GVK Omega (uma empresa da KKR), e visa adquirir cerca de 54,5 milhões de ações da Greenvolt, representativas de 33,37% do capital social, a um preço de 8,3107 euros por ação, que estão na mão dos pequenos acionistas.
Este valor, que avalia a empresa em cerca de 1,36 mil milhões de euros, representa um prémio de 11,6% face ao preço de fecho das ações da Greenvolt no dia anterior ao anúncio preliminar da oferta, a 21 de dezembro de 2023. E é também um preço 13,8% superior à contrapartida mínima e 7,7% abaixo da contrapartida máxima fixada pelos consultores da EY como perito independente nomeado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para avaliar a operação.
Com o registo da oferta, inicia-se a contagem decrescente de 14 dias úteis para a concretização da OPA. O período da oferta decorrerá entre esta segunda-feira e 24 de outubro, podendo os acionistas da Greenvolt decidir se aceitam vender as suas ações à KKR.
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A KKR já detém, direta e indiretamente, 85,42% dos direitos de voto na Greenvolt. Se atingir 90% dos direitos de voto, poderá avançar para um squeeze-out, forçando a venda das ações remanescentes através de uma oferta potestativa e retirando a empresa de bolsa.
Mesmo que não atinja esse patamar, a KKR admite convocar uma assembleia-geral para propor a perda de qualidade de sociedade aberta. Isto significa que os acionistas que não vendam na OPA poderão ver-se numa posição minoritária numa empresa não cotada, com menor liquidez para as suas ações. Face a este cenário, os pequenos acionistas da Greenvolt têm essencialmente duas opções:
- Aceitar a oferta: Vendem as ações a 8,3107 euros cada, garantido a realização de um encaixe financeiro imediato.
- Manter as ações: Apostam no potencial de valorização futura da empresa, mas arriscam ficar numa posição minoritária numa empresa não cotada, caso a KKR seja bem-sucedida nos seus planos.
Entre os investidores que se têm desfeito dos títulos da Greenvolt estão os gestores dos seis fundos nacionais de ações portuguesas (em que se inclui o ibérico Caixa Ações Portugal Espanha), que reduziram, em média, para metade a sua exposição à empresa de energias renováveis desde o anúncio preliminar da OPA.
Os “mais drásticos” foram o Optimize Portugal Golden Opportunities e o GNB Portugal Ações, que eliminaram completamente a sua exposição à empresa, não detendo qualquer título da Greenvolt no final de agosto. No caso do GNB Portugal Ações, liderado por Pedro Barata, a Greenvolt passou de uma das cinco maiores posições do fundo no final de novembro do ano passado como resultado de um aumento de 20% do número de ações da empresa em 2023, para uma posição nula desde abril.
“Chegámos à conclusão que o preço oferecido poderia não sofrer grandes alterações e haver outras alternativas de investimento que nos pareceram mais interessantes na altura”, revela Pedro Barata ao ECO.
Esta reação generalizada por parte dos fundos de ações nacionais pode ser interpretada como um sinal de que os gestores consideram improvável uma contraoferta ou uma melhoria significativa das condições por parte da KKR.
Os planos da KKR para a Greenvolt
Os planos dos norte-americanos da KKR para a Greenvolt não são conhecidos de forma detalhada. No entanto, o prospeto da OPA refere que pretendem “contribuir para o desenvolvimento a longo prazo e crescimento sustentável da Greenvolt”, não descartando com isso uma revisão do plano estratégico anunciado em 2022 pela administração de João Manso Neto.
O private equity norte-americano que fechou 2023 com mais de 500 mil milhões de euros de ativos sob gestão (quase o dobro do PIB de Portugal) e pretende duplicar esse montante nos próximos cinco anos acredita que poderá acelerar o crescimento da Greenvolt através de três vertentes:
- Venda cruzada de produtos entre o Grupo KKR e a Greenvolt, começando pela geração distribuída.
- Disponibilização de fundos pela KKR para acelerar o crescimento da Greenvolt, como sucedeu no início deste mês por via da contratação de um financiamento sindicado no montante de 350 milhões de euros e com reembolso bullet em três anos. Entretanto, esta operação foi aumentada em mais 50 milhões adicionais que foram subscritos por “dois bancos, um dos quais é um novo financiador da Greenvolt”, refere a empresas num comunicado publicado na CMVM este domingo.
- Acesso da Greenvolt a um vasto leque de empresas parceiras da KKR, permitindo à empresa portuguesa obter e negociar soluções de financiamento com bancos e outras entidades.
João Manso Neto, CEO da Greenvolt, numa recente entrevista ao ECO, confirmou que já existem sinergias em desenvolvimento com a KKR: “Já temos um contrato assinado com um cliente do grupo KKR”. Esta afirmação sugere que a estratégia de venda cruzada já está a ser implementada.
O CEO da Greenvolt também destacou o potencial de crescimento que a parceria com a KKR pode trazer: “A KKR tem uma capacidade de investimento brutal e tem uma carteira de empresas muito grande. Portanto, há aqui um potencial de crescimento muito grande”.
Quanto à continuidade da gestão e estratégia atual da Greenvolt, o prospeto da OPA indica que se perspetiva que a empresa de Manso Neto (que foi reconduzido como CEO da empresa em junho), continue “a exercer as suas atividades de acordo com a orientação estratégica definida pelo conselho de administração da sociedade visada [Greenvolt] em 2022”.
No entanto, a KKR também deixa em aberto a possibilidade de ajustes futuros, mencionando que “não sendo de excluir que tal aceleração do crescimento (a ter lugar) possa levar, no futuro, a uma revisão do plano estratégico anunciado em 2022 pela administração da sociedade visada [Greenvolt”].
A sociedade norte-americana fundada em 1976 por Henry Kravis, Jerome Kohlberg e George Roberts parece estar a posicionar-se para impulsionar o crescimento da Greenvolt, aproveitando as sinergias entre as duas empresas e fornecendo recursos financeiros e experiência adicional, mantendo, por enquanto, a orientação estratégica existente, mas com a flexibilidade para adaptações futuras conforme necessário.
À medida que o relógio avança para o período crucial da OPA da KKR sobre a Greenvolt, os pequenos acionistas encontram-se numa encruzilhada decisiva. Por um lado, a oferta de 8,3107 euros por ação representa um prémio atrativo de 11,6% face ao preço anterior ao anúncio da oferta. Por outro, a promessa de um futuro potencialmente brilhante sob a égide da KKR, com a sua “capacidade de investimento brutal”, como destacado pelo CEO Manso Neto na entrevista ao ECO, pode fazer alguns investidores hesitarem em vender.
Com os fundos nacionais a reduzirem drasticamente as suas posições na Greenvolt ao longo deste ano, parece haver um sinal claro do mercado. No entanto, a decisão final recai sobre cada investidor, que deve avaliar o seu apetite ao risco e as suas expectativas para o futuro da empresa.
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