Fundo que lançou OPA à Greenvolt “tira” 17% ao preço a que avaliou empresa de energia há 11 meses

Em janeiro, os norte-americanos da KKR avaliaram a Greenvolt em 10 euros por ação, mas agora oferecem apenas 8,3 euros. A pressão para uma revisão em alta do preço da OPA é grande.

Os norte-americanos da Kohlberg Kravis Roberts (KKR) apresentaram esta quarta-feira uma oferta pública de aquisição (OPA) para adquirirem a Greenvolt GVOLT 0,00% por 8,3 euros por ação. A oferta da KKR será garantida exclusivamente por via de capitais próprios, segundo fontes ligadas ao processo ouvidas pelo ECO, e avalia a empresa de energias renováveis em 1,16 mil milhões de euros.

Apesar do preço oferecido pelo fundo norte-americano apresentar um prémio de 11% face à cotação de fecho de quarta-feira e um prémio de 32,1% em relação ao preço médio ponderado das ações nos últimos seis meses até ao dia do anúncio da OPA (20 de dezembro de 2023), é 17% inferior aos 10 euros com que a KKR avaliou a empresa liderada por João Manso Neto há 11 meses, quando investiu 200 milhões de euros na aquisição de obrigações convertíveis em ações da Greenvolt.

Segundo o prospeto destes títulos, as obrigações tinham uma maturidade a sete anos, com a possibilidade de serem convertidas em ações a partir do terceiro ano. No entanto, como a KKR nota agora no projeto de prospeto da OPA, os termos e condições destas obrigações convertíveis concedem à KKR a possibilidade de serem convertidas em ações no imediato, numa situação de alteração do controlo da empresa.

E é exatamente essa a situação que a oferta da KKR assume. Desde logo porque a empresa norte-americana já tem firmado um pré-acordo com os sete principais acionistas da Greenvolt que controlam 60,9% do capital da empresa para comprar as suas posições por 8,3 euros por ação.

Caso a KKR exerça o direito de converter as obrigações em ações antes do término da oferta, como está a ser ponderado pela empresa americana, o preço oferecido pela KKR aos acionistas da Greenvolt terá de ser revisto em 20% para os 10 euros.

De acordo com o ponto 9 do projeto de prospeto da OPA, a KKR, através da GV Investor Bidco S.à.r.l. (uma afiliada dos fundos de investimento assessorados pela KKR), revela que já informou a Greenvolt “de que considera a possibilidade de exercer o direito de converter as obrigações convertíveis em ações caso ocorra uma alteração de controlo” até ao final da oferta, podendo ainda “considerar bloquear as ações” da Greenvolt.

Caso a KKR exerça o direito de converter as obrigações em ações antes do término da oferta, como está a ser ponderado pela empresa norte-americana, o preço oferecido pela KKR aos acionistas da Greenvolt terá de ser revisto em 20% para os 10 euros, porque o preço da OPA tem de respeitar o preço mais elevado pago pelo oferente nos últimos seis meses à operação, segundo rege o artigo 188.º do Código de Valores Mobiliário (CVM).

Tendo em conta que na conversão das obrigações é feita a aquisição das ações, caso a oferente [KKR] exerça o seu direito potestativo de converter as obrigações em ações ao preço de 10 euros, e sendo esse direito facultativo à oferta, trata-se de uma aquisição à data da conversão e, portanto, o preço da oferta terá de ser de 10 euros”, refere Octávio Viana, presidente da ATM – Associação de Investidores, ao ECO.

Acionistas e KKR “abrem a porta” para subida do preço

Para a KKR, o exercício da conversão das obrigações em ações, que lhe conferem cerca de 12,6% do capital da empresa, irá depender do apetite dos investidores pela atual oferta, que decorrerá até ao final de maio. Com o pré-acordo feito com os sete principais acionistas da Greenvolt, a KKR tem, para já, garantido os 60,9% do capital da empresa que se encontra na posse destes acionistas.

Para lançar uma oferta potestativa, como é seu desejo, necessita de atingir os 90% dos direitos de voto correspondentes ao capital social até ao apuramento dos resultados da OPA, como refere o artigo 194.º da CVM, e pelo menos 90% do capital com direito de voto, como obriga a diretiva europeia relativa às ofertas públicas de aquisição.

Isto significa que, chegando ao último dia da oferta e ficando a faltar 12,6% das ações para alcançar estas metas, a KKR deverá exercer o direito de conversão das obrigações em ações, por forma a alcançar o seu objetivo de retirar a Greenvolt de bolsa e integrá-la por inteira no seu portefólio, que conta atualmente com quase 300 mil milhões de euros de ativos sob gestão.

Também a aguardar até ao último momento para tomar uma decisão estarão muitos dos fundos de investimento que têm posições na Greenvolt, como sucede com o Norges Bank, que detém 1,9% do capital da empresa, e dos seis fundos de ações nacionais que, no final do mês passado, tinham mais de 2 milhões de ações da empresa nacional nas suas carteiras, num montante equivalente a 1,5% do capital da Greenvolt.

Apesar da avaliação relutante dos gestores de fundos à oferta da KKR, o preço da OPA proposta pelo fundo americano está próximo do preço médio dos últimos 12 meses das avaliações dos analistas (8,5 euros).

“Sobre a possível venda da nossa posição, a decisão ainda não está tomada”, refere Pedro Barata, gestor do GNB Portugal Ações, notando que “a empresa tem potencial para acrescentar um valor superior àquele que o preço oferecido pressupõe, mas face à realidade vamos esperar um pouco mais tomar uma decisão definitiva.” No entanto, Pedro Barata, que este ano aumentou em 20% o número de ações da Greenvolt em carteira e que no final de novembro entre as cinco maiores posições do fundo a empresa de energias renováveis, salienta que, “claramente, este não é um preço que elimine dúvidas quanto à venda.”

Sem pressas para tomar uma decisão está também Carlos Pinto, gestor do Optimize Portugal Golden Opportunities, que atualmente tem 4% do portefólio do fundo investido em ações da Greenvolt. “Ainda vamos falar internamente sobre o que fazer, mas parece-me que há margem para subirem a oferta, apesar de ser tentador aceitá-la”, refere o gestor ao ECO, sublinhando que a “KKR não tem no seu portefólio ativos cotados e que por isso deverão ter de persuadir melhor os investidores para venderem as ações da Greenvolt.”

Apesar da avaliação relutante dos gestores de fundos quanto à oferta da KKR, o preço da OPA proposta pelo fundo norte-americano está próximo do preço médio dos últimos 12 meses das avaliações dos analistas (8,5 euros), segundo dados da Bloomberg. Ao ECO, um desses analistas refere também que a oferta da KKR “está enquadrada com os pressupostos das avaliações dos analistas”. Além disso, lembra que os acionistas minoritários “devem também ter em conta que, caso a KKR consiga uma parte muito significativa do capital, o free float [percentual de ações da empresa em circulação e disponível para negociação na bolsa] será mais baixo e isso torna o título menos apelativo”.

Tendo em conta o ciclo em que a empresa está, em que consome muito capital, parece-me um preço indicado.

João Queiroz

Head of trading na Banco Carregosa

Para João Queiroz, head of trading na Banco Carregosa, “tendo em conta o ciclo em que a empresa está, em que consome muito capital, parece um preço indicado”. O responsável do Banco Carregosa refere ainda que, “mais 10 ou 15 cêntimos face ao price-target dos analistas não parece um preço desajustado. Parece ter um equilíbrio.”

A mesma opinião é partilhada por Nuno Mello, analista da XTB, que aponta para “um prémio interessante para os investidores”. Não apenas para os mais recentes investidores, mas sobretudo para os acionistas da empresa desde o primeiro dia de negociação das ações em bolsa, a 15 de julho de 2021, com a oferta de 8,3 euros por ação feita pela KKR a traduzir-se num prémio de 95,3% face aos 4,25 euros do preço inicial de admissão da oferta pública inicial das ações.

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