Remunerações dos CEO do PSI baixam 39% em 2022

Nove CEO do PSI receberam acima de um milhão de euros cada um em 2022, com Soares dos Santos a continuar no topo. Ainda assim, os presidentes executivos auferiram menos 12,5 milhões em remunerações.

Num ano em que os lucros das empresas do PSI renovaram máximos históricos por larga margem, os presidentes executivos (atuais e antigos) das companhias que integram o principal índice da bolsa portuguesa foram alvo de um corte nas remunerações.

Entre remuneração fixa, variável e outras compensações, os CEO das 14 cotadas do PSI (os administradores da EDP Renováveis são pagos através da EDP e a Ibersol não estava no índice no final de 2022) auferiram 19,4 milhões de euros no ano passado. O valor representa uma descida acentuada de 39,2% face a 2021, ano em que as remunerações tinham quase duplicado.

Em termos absolutos, a queda global foi de 12,5 milhões de euros, uma soma que reflete algumas dinâmicas nas empresas de maior dimensão, sobretudo Jerónimo Martins, Galp Energia e EDP e que tinham empolado os montantes totais pagos pelas empresas aos seus CEO há dois anos.

Em 2021, a Jerónimo Martins efetuou uma contribuição extraordinária de 9,3 milhões de euros para o plano de pensões do CEO Soares dos Santos; a Galp Energia pagou uma compensação de 3,75 milhões de euros a Carlos Gomes da Silva (foi substituído por Andy Brown logo no início desse ano); e o antigo CEO da EDP, António Mexia, recebeu 1,3 milhões de euros no âmbito dos acordos de cessação de funções e de não-concorrência celebrados entre o gestor e a cotada.

Tendo em conta estes fatores extraordinários, em 2022 a Jerónimo Martins gastou menos 70% a remunerar o seu CEO, a Galp Energia reduziu o custo em 66% e a EDP baixou 43,2%. Variações que foram determinantes para reduzir o valor global das empresas do PSI.

Estas evoluções nas três maiores cotadas portuguesas também se traduziram numa redução substancial do peso da remuneração variável no total. Atingiu 72% em 2021 e baixou para 52,1% no ano passado, representando ainda assim mais de metade do total. Enquanto a remuneração fixa aumentou 4,8%, para 9,2 milhões de euros, a variável baixou 56,1%, para 10,1 milhões de euros.

Nove CEO ganham mais de um milhão

Olhando para a dinâmica de cada empresa e não para o valor global, as conclusões sobre as remunerações dos gestores de topo da bolsa portuguesa são diferentes. Além das três empresas referidas, também a Sonae, Navigator e Semapa baixaram a remuneração dos CEO, embora com reduções mais ténues.

Os outros oito CEO do PSI auferiram remunerações mais elevadas em 2022. O maior aumentou beneficiou António Rios Amorim, sendo que o crescimento de 79,4% é explicado pelo facto de o CEO da Corticeira Amorim não ter recebido remuneração variável em 2021. Ainda assim, o líder da empresa de cortiça recebe a remuneração mais baixa entre todos os CEO do PSI, ficando a pouco mais de metade do que surge no lugar acima. João Bento (CTT) recebeu uma remuneração de 758 mil euros em 2022, sendo o CEO do PSI com o peso mais baixo dos variáveis na remuneração total (25%).

Gonçalo Moura Martins (Mota-Engil), Rodrigo Costa (REN) e José Pina (Altri) são os outros CEO que receberam uma remuneração abaixo de um milhão de euros no ano passado. O montante auferido por nove CEO do PSI tem sete dígitos. Em 2021, apenas seis recebiam mais de um milhão.

Miguel Maya, Manso Neto e Miguel Almeida entraram no lote no ano passado. A remuneração do CEO do BCP aumentou 67% depois da componente variável ter mais do que triplicado. O líder da Greenvolt ganhou mais 56% uma vez que só assumiu a liderança da empresa de energias renováveis em março de 2021. A Nos pagou mais 5% ao seu CEO devido ao aumento da componente fixa.

O CEO do BCP saltou para o quinto lugar dos CEO mais bem pagos do PSI, sendo que à sua frente estão gestores que sofreram cortes no ano passado. A tabela é liderada por Soares dos Santos (3,7 milhões), que recebeu uma remuneração superior à soma dos dois CEO que lhe seguem (Miguel Stilwell e Andy Brown receberam 1,8 milhões cada um). A remuneração do líder da Jerónimo Martins é idêntica à que foi recebida pelos cinco CEO menos bem pagos do PSI.

Em termos médios, o CEO do PSI recebeu uma remuneração de 1,38 milhões de euros em 2022. Se excluirmos o líder da Jerónimo Martins desta análise, o valor baixa para 1,2 milhões de euros.

Comissões executivas custam menos 16%

As remunerações extraordinárias pagas a alguns CEO também foram determinantes para o valor que as empresas do PSI pagaram aos membros das suas comissões executivas no ano passado. O valor global desceu 16,6% para 55,3 milhões de euros, com as remunerações fixas a descerem 1,3% e as variáveis a caírem 26,3%.

Este montante total também é influenciado por fatores extraordinários que ocorreram o ano passado. A Galp Energia gastou 2,33 milhões de euros a indemnizar gestores que deixaram a petrolífera e a EDP continuou a pagar a gestores que deixaram a elétrica há mais tempo, devido às remunerações variáveis relativas a exercícios anteriores.

As empresas têm políticas de remuneração distintas, mas as variáveis são grande parte das vezes diferidas no tempo, pelo que os valores pagos no ano passado dizem muitas vezes respeito ao desempenho de anos anteriores e atribuídos a gestores já não estão nas companhias.

Por exemplo, João Castello Branco já não era CEO da Semapa em 2022, mas no ano passado recebeu perto de 850 mil euros de remuneração variável referente a 2021. António Mexia auferiu 692 mil euros pelo desempenho com líder da EDP em 2019.

Outro fator também dificulta a comparação entre companhias. Há empresas do PSI que têm apenas um administrador executivo (Jerónimo Martins e Greenvolt) e outras com comissões executivas bastante preenchidas. A Nos tem sete administradores executivos e o BCP e Navigator seis cada um.

Apesar do corte de 20% em 2022, a EDP continua a ter a comissão executiva com as remunerações conjuntas mais elevadas do PSI (8,5 milhões de euros), seguindo-se BCP e Galp Energia.

Excluindo os CEO desta análise, os administradores executivos das empresas do PSI receberam 35,9 milhões de euros em 2022, ligeiramente acima do montante de 2021 (34,4 milhões de euros).

Administradores recebem mais de 70 milhões

Fazendo agora as contas aos conselhos de administração, os custos das empresas do PSI com os seus administradores executivos e não executivos baixaram 12,9% para 70,3 milhões de euros no ano passado. A redução de 10,3 milhões face a 2021 reflete um aumento de 0,8% nas remunerações fixas e corte de 25,2% nas variáveis.

Apesar dos administradores não executivos receberem sobretudo remunerações fixas, as compensações variáveis representam 43,7% do total recebido pelos membros dos conselhos de administração das empresas do PSI. O peso diminuiu face a 2022 (50%), mas continua bem acima do registado em 2020 (31%).

Isolando apenas os administradores sem funções executivas, receberam 15 milhões de euros no total, ligeiramente acima de 2021 (14,4 milhões de euros). O valor representa 21% do total de todos os administradores, contra 18% em 2021.

A EDP tem o conselho de administração mais “caro” do PSI e o único acima dos dez milhões. Ainda assim bem inferior ao que a elétrica pagou aos seus administradores (executivos e não executivos) em 2021 (13,3 milhões de euros) e 2020 (14,7 milhões de euros).

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