Editorial

1,395 mil milhões de prejuízo? O pior não é isso

Pode parecer estranho, mas a verdadeira má notícia nas contas do Novo Banco de 2017 não é o prejuízo histórico. Chegou a hora do Lone Star assumir as responsabilidades como acionista.

O Novo Banco registou um prejuízo histórico de 1,395 milhões de euros em 2017, e vai receber do Fundo de Resolução 792 milhões de euros para o reforço dos seus rácios de capital. Por mais que que se surpreenda, o sinal amarelo não está neste prejuízo – que o ECO revelou, de resto, em primeira mão -, está na queda do produto bancário, que resulta diretamente da sua atividade operacional.

Os prejuízos históricos do Novo Banco não são de hoje, nem de ontem. Vêm do passado, de créditos do passado, ainda do BES, que ainda estavam no balanço como se fossem recuperáveis. Não eram, e todas as administrações do Novo Banco sabiam disso. Pode perguntar, claro, que Novo Banco é este, um banco que nos foi vendido como o ‘banco bom’, enquanto o ‘banco mau’ teria ficado para trás, no chamado ‘BES mau’. Infelizmente, não foi bem assim. E como não havia capital, o crédito malparado ficou debaixo do tapete. Passou por administrações, por auditores, pelo crivo do Fundo de Resolução e do próprio Banco de Portugal e do BCE. Até agora, até à venda do Novo Banco à Lone Star, até à sua capitalização com mil milhões de euros, e até à existência de uma garantia do Fundo de Resolução de 3,9 mil milhões de euros. Só nas contas de 2017, o Novo Banco registou imparidades superiores a dois mil milhões de euros de créditos que vinham de trás.

O que justifica preocupação nas contas de 2017 não é, por isso, o reconhecimento de prejuízos que já lá estavam, só não estavam reconhecidos publicamente. O pior, mesmo, é que o Novo Banco não está a ganhar dinheiro na sua operação core. O que mostram os números? O produto bancário caiu quase 9% e a margem financeira (diferença entre juros pagos pelos depósitos e juros recebidos dos empréstimos) também registou uma variação negativa. O algodão não engana.

É claro que este é um ano especial. O Novo Banco foi um banco de transição até ao dia 17 de outubro e só desde ai é que tem um dono ‘a sério’. Por isso, é até justo reconhecer que alguns indicadores até surpreendem pela positiva, tal foi o volume de notícias e factos que pressionaram a gestão de António Ramalho. E o Novo Banco conseguiu em 2017 dois objetivos fundamentais para a sua viabilidade: mais depósitos – mais quatro mil milhões, o que é um número extraordinário, tendo em conta as circunstâncias – e liquidez. Não chega. E todos nos lembrámos das dúvidas, para não dizer outra coisa, expressas pela Comissão Europeia sobre o futuro do Novo Banco e sobre a sua viabilidade.

O Lone Star começa, também, a ser co-responsável pelos resultados, e pelo que se passa este ano, pelas dificuldades na gestão operacional do Novo Banco. Porquê? Porque ainda não se viu como acionista, porque mantém uma administração em suspenso há meses sem saber se vai ou não continuar, porque mantém um CEO em dúvida sobre o seu próprio futuro. Será que estão a usar o gestor para fazer o trabalho sujo para, depois, o substituírem?

Chegou, para o fundo americano, a hora da verdade, de fazer opções, de dizer se quer mesmo gerir um banco, ou se o comprou para ser um gestor imobiliário e para aproveitar a garantia de 3,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução, financiado pelos outros bancos, mas a precisar de um empréstimo parcial dos contribuintes (só este ano são 450 milhões). Sim, aquela garantia que António Costa e Mário Centeno, de forma solene, juram que não é uma garantia. Vão sair, agora, 800 milhões, já sabemos que mais sairão dentro de um ano. Mas se a operação não der a volta, não haverá capital que chegue. É isso que quer o Lone Star?

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