2023, Odisseia na consultoria e os desafios da Inteligência Artificial

A mudança em curso é vertiginosa e a ficção parece ultrapassar a realidade, mas cabe à inteligência natural minimizar riscos e maximizar benefícios.

Nesta estreia da minha crónica mensal, venho dar ECO a um dos grandes desafios da atualidade na consultoria: As implicações, benefícios e riscos do recurso a IA para este setor.

Em 1968, quando Arthur C. Clarke escreveu e Stanley Kubrick realizou “2001, Odisseia no Espaço”, o Heuristic Algorithmic Computer ou HAL 9000 foi uma das primeiras representações de um medo real: o potencial perigo da IA, capaz de ignorar diretivas e dominar a humanidade. À época, o receio era sobretudo dos cientistas. Nós achámos que a insurgência do HAL contra a tripulação da Discovery One era ficção demasiado longínqua: na estreia mundial do filme, em Washington, 241 pessoas saíram da sala a meio, incluindo o ator Rock Hudson que afirmou que o filme não fazia sentido algum.

E se o HAL gostava de jogar xadrez, que dizer do supercomputador da IBM Deep Blue, que em 1996 derrotou Garry Kasparov, campeão do mundo de xadrez, então no auge das suas faculdades? Extrapolava-se a supremacia da inteligência artificial sobre a do homem, para outros tabuleiros.

Passaram 55 anos e já não há como sair deste filme a meio: a IA está a ter uma adoção vertiginosa, que o GPT, o Generative Pre-Trained Transformer lançado em novembro de 2022, ilustra bem (com a versão GPT-4 da OpenAI a sair em março deste ano). Os cientistas continuam em alerta e inúmeros responsáveis sublinham os riscos desta democratização (demasiado) acelerada e (ainda) sem regulação – como Tristan Harris (ex-Google), no documentário “The AI Dilemma”, em março deste ano.

Mas aqui chegados, que dizer da aplicação da IA ao tabuleiro onde jogo, o da consultoria? Podem elencar-se vários benefícios:

  1. Análise de dados: a IA pode processar grandes quantidades de dados rapidamente, permitindo que os consultores extraiam insights valiosos, identifiquem padrões e tomem decisões baseadas nesses dados;
  2. Eficiência e produtividade: a IA automatiza tarefas repetitivas, economizando tempo e recursos, permitindo que os consultores se concentrem em atividades mais estratégicas e de valor acrescentado;
  3. Personalização: as ferramentas baseadas em IA podem personalizar recomendações e soluções com base nas necessidades individuais do cliente, fornecendo serviços de consultoria personalizados;
  4. Análise preditiva: os modelos de IA podem prever tendências de mercado e possíveis resultados, ajudando os consultores a antecipar mudanças e planear adequadamente;
  5. Economia de custos: ao automatizar determinados processos, a IA pode levar a reduções de custos e otimizar a alocação de recursos nas empresas e nas próprias consultoras.

Mas o recurso à IA na consultoria também pode trazer riscos:

  1. Privacidade e segurança de dados: o tratamento de dados confidenciais de clientes exige medidas de segurança rígidas para evitar violações de dados e proteger a confidencialidade do cliente;
  2. Bias e imparcialidade: os algoritmos de IA podem ser enviesados se treinados com dados tendenciosos, podendo levar a recomendações ou decisões enviesadas;
  3. Dependência da tecnologia: a dependência excessiva de ferramentas de IA pode reduzir a intuição e a criatividade humanas, limitando abordagens;
  4. Falta de interação humana: confiar apenas na IA pode levar à falta de contato humano e à falta de compreensão das emoções e nuances do cliente;
  5. As considerações éticas: o uso de IA em consultoria levanta questões relacionadas com o uso de dados, transparência do algoritmo e a potencial demissão do trabalho.

E sabem quem é que aponta estes cinco benefícios e outros tantos riscos? Perguntei ao ChatGPT: “Quais são os principais benefícios e riscos de AI em Consultoria?” – et voilá, em menos de um segundo estes pontos que transcrevi apareceram no ecrã do meu smartphone!

A mudança em curso é vertiginosa e a ficção parece ultrapassar a realidade, mas cabe à inteligência natural minimizar riscos e maximizar benefícios. A aplicação da IA na consultoria pode levar à eliminação de postos de trabalho, em funções mais facilmente automatizáveis, pelo que cabe às consultoras gerir proativamente a transição, requalificando e adaptando a sua força de trabalho a novas funções e responsabilidades. Cabe também às consultoras implementar políticas robustas de governance da IA, auditando regularmente os algoritmos, corrigindo enviesamentos, garantindo a transparência nos processos orientados por IA, e os direitos, segurança e a privacidade de dados. Sobretudo, cabe-nos manter o equilíbrio entre a experiência humana e os insights das máquinas. Para não acabarmos como o astronauta Frank – que o HAL 9000 tenta manter fora da nave – a travar uma luta pela sobrevivência com a máquina.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

2023, Odisseia na consultoria e os desafios da Inteligência Artificial

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião