A aliança de Pedro Nuno Santos a Ventura
O frente-a-frente entre Luís Montenegro e André Ventura será decisivo para o resultado eleitoral de 10 de março. Pedro Nuno Santos vai estar no sofá a assistir.
Começa hoje a segunda parte desta campanha para as legislativas com o mais importante dos debates, entre Luís Montenegro e André Ventura. As cartas vão ficar marcadas na disputa à direita depois deste frente-a-frente, porque cada voto que o líder do Chega roubar à Aliança Democrática será também um voto a favor de Pedro Nuno Santos.
A primeira semana de debates, não é arriscado dizer, foi favorável a Luís Montenegro. Embalado pelas sondagens, conseguiu marcar pontos em todos os debates realizados, esteve seguro, sem particulares rasgos, mas consistente. Pedro Nuno Santos ainda não encontrou o seu novo registo, ou melhor, o que encontrou não lhe assenta, é artificial, não acrescenta moderação e tira-lhe espontaneidade, a que lhe deu a fama e proveito. Ventura, esse, está claramente aquém das expectativas geradas por intenções de voto que apontam até para uma reconfiguração do atual sistema político-partidário. Populista, à procura de todas as oportunidades, mas sem conseguir passar um teste mínimo de credibilidade.
Por outro lado, a segunda metade dos debates televisivos será realizada com os programas eleitorais já apresentados, o que é obviamente útil para a discussão.
- Pedro Nuno Santos tenta o equilíbrio impossível entre a defesa de uma herança — com tantos ministros a dar a cara, seria difícil de outra forma — que deixou a saúde, a educação e a habitação em situação muito difícil, e a mudança. Mas inova pouco, tem pouca ambição, joga pelo seguro, mas não entusiasma. Mais Estado, mais dependência.
- Luís Montenegro arrisca — é o próprio a reconhecê-lo na intervenção no Fábrica 2030, do ECO — e por isso apresenta o slogan ‘mudança segura’. Para não assustar uma sociedade tão dependente do Estado, dos subsídios, capturada por uma rede pública reforçada pelo PS. Mas o crescimento económico apontado, de 3,4% para 2028, é o número que permite tudo o resto. E não se vê as condições na economia portuguesa que sustentem um aumento estrutural do PIB potencial.
- André Ventura não apresentou um programa eleitoral de um partido, mas uma agenda de uma polícia política. Até o texto de abertura de Ventura no programa é sobre a corrupção. E nas outras áreas, promete muito a grupos eleitorais relevantes como os pensionistas, a paga pelo confisco antes de decisões judiciais ou a cobrar por uma economia paralela (vá lá saber-se de que forma).
O debate entre os verdadeiros candidatos a primeiro-ministro será, como é óbvio, muito importante, terá até uma duração especial, de uma hora e um quarto, e transmitido em simultâneo em todas as televisões, mas com a diferença vistas nas sondagens, qualquer ponto a favor de Montenegro poderá dar-lhe mesmo a vitória.
Pedro Nuno Santos vai apostar tudo no voto útil, já se viu isso nos debates com os seus ‘camaradas’ de esquerda, o próprio pressente que está no limite do seu potencial eleitoral e começou a dramatização. Há mesmo o risco de a AD ganhar as eleições, disse a Rui Tavares. É uma evidência que Montenegro pode mesmo ganhar, mas ouvir o próprio líder do PS a dizê-lo é, paradoxalmente, um apoio inesperado ao líder do PSD.
Luís Montenegro joga neste debate com Ventura uma clarificação política decisiva. Junto de indecisos, entre os que querem o PS a fazer uma cura de poder e os que dão prioridade a uma certa agressividade política, cada ponto fará a diferença no dia 10 de março.
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