
A eleição mais decisiva para Ventura
O Chega está a tentar fugir à pressão do voto útil, está a atirar para todo o lado, sem coerência.
André Ventura apresenta-se a estas eleições como “candidato a primeiro-ministro”. Foi isso mesmo que afirmou no primeiro debate televisivo com a porta-vaz do PAN, Inês de Sousa Real, vincando os objetivos diferentes de cada partido nestas legislativas. Mas se o PAN está a lutar pela sobrevivência, o Chega está também na sua pior fase, numa luta pela sua relevância política.
André Ventura chega a estas eleições depois de duas ‘derrotas’, nas Europeias e na Madeira, atos eleitorais que interromperam o ciclo de crescimento do partido. E após um ano trágico, com uma sucessão de casos judiciais envolvendo deputados escolhidos por Ventura, desde o roubo de malas a suspeitas de pedofilia e burla. E confrontou-se com um primeiro-ministro e líder do PSD que foi capaz de manter o “não é não” até às últimas consequências, isto é, a realização de eleições antecipadas. E com razão, tendo em conta o desempenho de Ventura e do seu grupo parlamentar.
Neste curta legislatura de um ano, 50 deputados (agora reduzidos a 49) limitaram-se a acenar com meia dúzia de bandeiras populares, e populistas, medidas que custam centenas de milhões, não contribuíram com nada para a governação, não serviram para nada, foram um antro de instabilidade.
Num ato eleitoral em que se percebe a vontade dos eleitores em garantir estabilidade de governação, para que servirá um partido que dá a maioria à direita, mas com qual toda a outra direita não quer sequer falar?
Neste primeiro debate, André Ventura não trouxe uma ideia nova, uma visão do país, um plano que pudesse ser percecionado como complementar a uma eventual vitória da AD, alguma coisa que acrescentasse governabilidade. Por um lado, critica Luís Montenegro por falhas éticas graves, por outro, disponibiliza-se a fazer acordos de governação se o líder do PSD assim o quiser. É uma contradição nos termos que mostra como é que esta eleição é a mais difícil da vida política de André Ventura.
O Chega está a tentar fugir à pressão do voto útil e isso vai levá-lo a aumentar o tom de agressividade e de retórica demagógica — Rui Rocha está a fazer exatamente o contrário, sem deixar de ser crítico e exigente com Luís Montenegro e com o Governo. Está a atirar para todo o lado, sem coerência, e a afastar aqueles eleitores que se deixaram enganar há um ano com soluções fáceis para problemas complexos, aqueles que passaram do PSD para o Chega, aqueles que saíram da abstenção para o Chega, e que percebem ter desperdiçado o seu voto.
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