A China e a Rússia estão a aproveitar a pandemia para disseminar desinformação em massa e as plataformas sociais não estão a fazer o suficiente para resolver o problema.

O cenário traçado pela União Europeia na comunicação sobre desinformação, apresentada esta semana, é preocupante. O Covid-19 revelou ser a situação ideal para propagar desinformação e foi devidamente aproveitada pela China e pela Rússia para agitar as democracias do Ocidente.

As características desta pandemia configuram um cenário de tempestade perfeita para manobras de desinformação: O facto de ser uma doença nova com pormenores por conhecer permitem que se manipulem dados e se contrariem verdades científicas; Por implicar tantas disrupções na forma de vida recolhe mais adeptos que tentam adaptar a realidade às suas expectativas, embarcando em teorias da conspiração; e, ao forçar prolongadas estadias em casa, aumenta a relevância das redes sociais, que são o terreno favorito dos especuladores de informação.

Pela primeira vez, a UE ganhou coragem e decidiu chamar a atenção para o papel da China na guerra da desinformação. Tudo isto justifica uma renovada atenção sobre as ações da China, como a UE parece finalmente agora estar a preparar. Mas isso precisa de ter implicações na política real – e o Serviço de Ação Externa coordenado por Josep Borrell tem tido demasiadas falhas neste setor.

Se Von der Leyen ainda deseja que a sua comissão seja a da política externa, vai ter de integrar as conclusões desta comunicação na sua ação política e começar a punir os infratores. Até porque, como referiu o diretor do centro de comunicações Estratégicas da NATO, “se a Rússia é uma tempestade tropical, a China é toda a crise climática”. De facto, são vários os sinais que apontam para uma decisão concertada por parte de Pequim de começar a jogar o jogo da desinformação, com a entrada em cena de diversos canais oficiais (como embaixadas e detentores de cargos políticos) a espalhar desinformação que depois é distribuída por exércitos de bots.

O outro lado do problema está nas redes sociais, que são as plataformas onde tudo isto decorre e que funcionam como uma correia de distribuição de informação contaminada. Como de costume, o Facebook, o Youtube e o Twitter só se mexeram quando foram instados pelas autoridades europeias – e mesmo assim pouco fizeram. Uma rede social hoje é como um supermercado que promove a venda de produtos alimentares estragados no meio dos outros. E a pergunta é: deve o Estado permitir que este supermercado que faz objetivamente mal à saúde continue aberto sem controlo?

A UE parece ter concluído que não, e tem convidado as várias plataformas a aderir a um código de conduta voluntário (ao qual curiosamente, a última a aderir foi a chinesa TikTok). A adesão tem sido grande, mas isso não se concretiza em grandes melhorias no serviço, razão pela qual nova legislação para regular as plataformas deverá ser introduzida no final do ano. Na verdade, se o cenário da pandemia é o mais fácil para espalhar desinformação, também é o argumento ideal para viabilizar essa legislação. A sua necessidade é evidente, falta conseguir uma formulação eficiente que não afete a liberdade de expressão nem a representação democrática plural.

Ler mais: Para quem se interessa pelo tema da desinformação, uma das referências tem de ser o First Draft. Esta ONG de impacto global tem desenvolvido trabalho na área da desinformação de forma consistente desde 2015, e o seu guia Understanding Information Disorder é de leitura essencial.

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