A saúde mental constrói-se com confiança

  • Paula Peixoto
  • 14 Agosto 2025

A produtividade, a criatividade, a resiliência e a qualidade do trabalho são impactadas diretamente quando os profissionais não estão a 100%.

Atualmente, fala-se cada vez mais de saúde mental nas empresas – e ainda bem. Mas falar não chega. Para que este tema passe a fazer parte do quotidiano da cultura organizacional, é preciso ação, estrutura e compromisso. Segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde de 2016, por cada dólar investido em tratamentos para perturbações mentais comuns, o retorno é de quatro dólares em melhoria de saúde e produtividade. Este dado é claro – e, ainda assim, tantas vezes ignorado.

Apesar de falarmos cada vez mais abertamente sobre o tema, a saúde mental continua a ser tratada, na prática, como uma questão privada, quase invisível dentro das empresas. Muitos colaboradores não sentem que têm um espaço seguro para expressar aquilo que sentem e têm receio de ser julgados, de ficarem associados à ideia de menor produtividade ou fragilidade. E, por isso, optam pelo silêncio. Não por falta de coragem, mas porque ainda não existe confiança suficiente no ambiente que os rodeia.

Esta ausência de um ambiente seguro e empático pode custar caro às empresas. A produtividade, a criatividade, a resiliência e a qualidade do trabalho são impactadas diretamente quando os profissionais não estão a 100%. E ainda assim, muitas empresas continuam sem criar mecanismos eficazes de escuta, acompanhamento e resposta. Criar estes canais seguros deve ser uma prioridade estratégica.

O bem-estar psicológico não pode ser tratado como uma exceção ou uma resposta a uma crise. Deve ser uma parte integrante da gestão diária de equipas. Assim, é fundamental perceber que cuidar da saúde mental exige compromisso e ação. Requer que os líderes estejam atentos, preparados e disponíveis. Que estabeleçam processos claros, acesso a apoio técnico especializado e linhas de ajuda anónimas e acessíveis. No fundo, que promovam uma cultura que esteja de braços abertos para acolher.

Porém, nem todos os líderes de equipa, por exemplo, têm as competências necessárias para fazer este caminho. E é precisamente por isso que o papel das organizações é tão relevante, especialmente através do investimento em formação. Estas são as pessoas que estão na linha da frente e devem ser capazes de identificar sinais, encaminhar e acompanhar os seus colaboradores – mesmo quando não existe uma partilha direta. Um líder atento é, muitas vezes, o primeiro ponto de contacto entre um colaborador e o apoio que precisa.

Por outro lado, é também importante capacitar cada pessoa para reconhecer e gerir a sua saúde mental de forma autónoma, segura e confidencial e anónima, a reconhecer e gerir o seu bem-estar mental. A realidade é que a saúde mental deve ser trabalhada de forma constante, com medidas que promovam equilíbrio, segurança e qualidade de vida para todos – empresa e colaborador.

Na minha experiência, o que transforma verdadeiramente uma empresa num espaço seguro é a forma como as pessoas se sentem vistas, ouvidas e respeitadas. O desafio não é técnico, é cultural. E é neste aspeto que temos de trabalhar: como podemos construir uma cultura assente na confiança? Porque sem ela, não há espaço para que estas questões sejam identificadas, sinalizadas, apoiadas ou encaminhadas. Se não existir uma relação próxima e verdadeira entre a empresa e os seus colaboradores, não haverá momentos de escuta real nem empatia genuína. Nesse cenário, iremos continuar a ver a saúde mental como algo externo à organização. E isso, é um erro.

A verdade é que sem pessoas, não há equipas. Sem equipas, não há projetos. E sem projetos, não há empresas. É um ciclo longo, mas que começa sempre da mesma forma: com as pessoas. Cuidar da saúde mental dos colaboradores e das equipas não é apenas uma responsabilidade – é uma condição essencial para o sucesso de qualquer organização.

  • Paula Peixoto
  • Diretora de People and Culture da Olisipo

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