A síndrome do impostor e um reconhecimento internacional

  • Maria Inês Ribeiro
  • 8 Março 2023

A síndrome do impostor na carreira das mulheres é significativo. Vários estudos mostram que as mulheres que têm esta perceção são menos propensas a procurar promoções e/ou a negociar salários.

Para todos aqueles que nunca ouviram falar deste fenómeno, passo a explicar. A síndrome do impostor é um fenómeno psicológico que leva as pessoas a duvidarem das suas próprias habilidades e a temerem ser expostos como uma fraude, apesar das evidências das suas competências. Esta condição afeta toda a gente, mas existem vários estudos que sugerem que é mais forte nas mulheres, especialmente em áreas de atividade tendencialmente dominadas por homens.

O impacto desta síndrome na perceção individual das mulheres sobre as suas competências e o seu valor enquanto profissionais não pode ser ignorado. Esta síndrome pode levar à insegurança, a uma baixa autoestima e a uma falta de confiança nas próprias habilidades e, como resultado desta síndrome, as mulheres podem impedir-se de procurar novas oportunidades, de ascenderem aos cargos de sonho, de falar em reuniões ou de se candidatar a posições de liderança.

Recentemente, fui reconhecida por uma das maiores revistas internacionais do setor da moda numa lista que distingue as personalidades mais relevantes da indústria com menos de 30 anos, os Drapers 30 Under 30. Espero que este reconhecimento sirva de exemplo e inspiração para outras mulheres. Enquanto mulheres somos ensinadas a ser e recatadas porque é esse o estereótipo de género que existe e o que a sociedade espera de nós. Exatamente por isto é que a síndrome do impostor é mais frequente nas mulheres, porque esta crença está enraizada, apesar dos progressos que temos feito. Não vivam na sombra, questionem sempre aquilo que vos tentam impor. E acima de tudo, partilhem as vossas conquistas, tenham uma voz ativa nos temas, mas mantenham-se fieis às vossas crenças e aos vossos princípios, e nunca percam a humildade.

Quando entrei na Faculdade de Engenharia Biomédica achei que ia ser cientista, mas rapidamente percebi que o meu caminho não ia passar por aí. Sou uma pessoa de pessoas, e a ideia de viver dentro de um laboratório e para as minhas pesquisas não era de todo algo em que me revia. Entrei na Farfetch através do Plug-In Graduates, o programa de estágios da empresa e foi aqui que se deu o chamado clique: enquanto amante de moda esta foi a oportunidade perfeita para começar a trabalhar na minha área, ainda por cima numa indústria que me apaixonava. Depois de um ano e meio a trabalhar enquanto trainee, fui promovida a gestora de produto e a surgiu oportunidade de liderar uma equipa dentro da empresa.

A verdade é que, apesar de não ter muita experiência na área, sempre procurei ser proativa, perceber como podia trazer mais valor para a equipa e nunca deixei que a síndrome do impostor me impedisse de crescer. A motivação por ser melhor e aprender cada vez mais foi mais forte que qualquer dúvida que existisse. É importante deixar claro que as dúvidas vão sempre surgir, é normal senti-lo quando estamos sobre pressão, mas nāo podemos deixar que isso nos impeça de evoluir.

A síndrome do impostor na carreira das mulheres é significativo. Vários estudos mostram que as mulheres que têm esta perceção são menos propensas a procurar promoções e/ou a negociar salários mais altos. O que teria acontecido se deixasse que as dúvidas tomassem conta de mim? Para combater estas inquietações, é crucial que as mulheres reconheçam que este sentimento não é exclusivo delas próprias e que existem muitos profissionais bem-sucedidos a experienciarem exatamente o mesmo. Sabiam que a Michelle Obama e a Meryl Streep são duas pessoas que sofrem de síndrome do impostor? Também diria que é essencial procurar apoio de mentores, colegas ou mesmo terapeutas que possam ajudar a combater estas inquietações. Mesmo os empregadores podem desempenhar um papel muito importante na abordagem ao desempenho das mulheres através da oferta de formações específicas ou oportunidades de desenvolvimento para desenvolvimento das habilidades e confiança.

No meu caso, apesar das dúvidas e inquietações típicas do meu próprio contexto profissional e da minha idade face à relevância de uma lista como os Drapers 30 Under 30, foi essencial ter encontrado uma empresa que tenha depositado confiança nas minhas competências. A Farfetch acreditou no meu desenvolvimento e potencial e, no final do dia, na minha liderança. E é tudo aquilo que uma mulher, numa área predominantemente composta por homens, com dúvidas, mas com a motivação certa, precisa.

  • Maria Inês Ribeiro
  • Lead product manager na Farfetch

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