A tecnologia no topo da agenda política

Os candidatos à chefia da Comissão Europeia já assumiram posições no que toca às grandes questões da tecnologia, confirmando a sua dimensão política incontornável.

Esta semana assistimos a um magnífico debate sobre temas europeus, que colocou à prova os principais candidatos ao cargo de presidente da Comissão Europeia (tirando Manfred Weber, do Partido Popular Europeu). O debate decorreu na Universidade de Maastricht, foi organizado pelo site Politico.eu e teve uma plateia cheia de jovens – que ajudaram a escolher os três temas que foram a debate.

Ora qual foi o tema mais importante e que ocupou bem mais de um terço da conversa? A tecnologia, pois claro. Os candidatos foram obrigados a apresentar ideias sobre o controlo das plataformas sociais, o atraso tecnológico europeu, um imposto sobre os gigantes americanos, a desinformação e o discurso do ódio. Na conversa foram apresentadas ideias claras, consolidadas, que permitem antever uma Comissão ainda mais atenta a estas questões.

Um debate com aqueles temas seria impensável em qualquer dimensão do espectro político nacional, envolvesse ele candidatos às europeias ou a primeiro-ministro. E isto representa um tremendo fosso geracional em termos de preocupações políticas. Não é só que as preocupações dos mais jovens estão tão distantes do que ocupa os mais velhos – é que estes, que dominam a classe política ativa, não são sequer capazes de entender a dimensão dos problemas em causa. Há obviamente exceções. Mas a generalidade dos elementos do nosso sistema político está a leste dos temas que mais preocupam as gerações que agora entram nos cadernos eleitorais – mas que quase não aparecem nas mesas de voto.

Ora, não é descabido pensar que a ignorância dos mais velhos seja uma causa importante para abstenção dos mais jovens. Se quem vai a votos não discute os temas que me interessam nem tem sequer opinião sobre eles, para quê escolher? A aceleração da revolução tecnológica tem efeitos profundos – e a ultrapassagem no tempo da classe política dominante pode ser um deles. Isso ajuda a explicar o surgimento de plataformas políticas novas, com um discurso apelativo a jovens. O Partido Pirata, que nasceu em 2006 na Suécia e tem hoje uma representação paneuropeia relevante, poderá também ter ganhos nas próximas eleições.

Em Portugal ainda estamos longe de tudo isto; não há partidos políticos nascidos de um olhar sobre a sociedade digital nem os temas da tecnologia ocupam as mentes dos líderes das forças mais conhecidas (mais uma vez, com honrosas exceções). Mas se queremos que o exercício da democracia continue a representar todos os cidadãos, está na altura de começar a integrar as preocupações dos mais novos. Até porque eles têm razão: as questões relacionadas com a tecnologia (e a ciência, incluindo aqui também o aquecimento global) são as mais importantes do nosso tempo.

Ler mais: Rick Falkvinge foi o fundador do primeiro Partido Pirata, na Suécia, e escreveu Swarmrise como um manifesto em defesa da ação política de bases. E o seu subtítulo bate certo: este é um manual tático de organização social com intervenção política, que se baseia no sucesso obtido com o crescimento e impacto dos partidos piratas. Para mais, está licenciado com base no pressuposto não-comercial Creative Commons, o que quer dizer que tem leitura livre.

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