António Costa, o estadista
António Costa desde há décadas que tem uma inata capacidade de simplificar e não complicar bem afinada.
Após a morte política de Marcelo Rebelo de Sousa, em “hara-kiri” cometido em directo do seu terraço para todos e por “skype” amador para a TVI, tem valido aos portugueses a intervenção séria, mas com esperança, do primeiro-ministro. E escrevo-o sabendo que não é tempo de esquerdas nem direitas, nem a elas pertenço, porque moro num centro moderado e racional que observa com distanciamento quezílias e polémicas partidárias.
Provavelmente, sou mais um da maioria silenciosa que reconhece justamente que ninguém no mundo estava preparado para enfrentar este inimigo insidioso, invisível, para o qual ainda não encontrámos antídotos os vacinas. Mas quer respostas pragmáticas, que se fale verdade, que se exponha a seriedade do momento sem se detonar o “botão de pânico” e que, com bonomia, se cultive o bom senso cívico dos portugueses.
Para lá da catástrofe sanitária e da depressão a ela associada, resta ainda saber qual a envolvente global das ondas de choque de uma nova crise económica. Certo é que a vida vai mudar, a nossa relação com o “outro” será profundamente diferente e desconhecida numa altura em que muitos sonhos estão, pelo menos, adiados.
E se é trágico o manancial de informação que consumimos, mais ainda cresce o horror ao deparar com a galeria de bizarrias das quais Donald Trump e Jair Bolsonaro (que Deus proteja os seus povos) são expoente máximo, pois a incúria e a impreparação evidentes serão responsáveis por uma chacina incalculável. Aqui mais perto de nós, os líderes europeus têm vacilado, a União Europeia é uma estrutura pesada e abúlica sem cabeça de comando nem capacidade de resposta continental. Ao pé deste cenário paupérrimo, António Costa tem sido um estadista como o provou na visita ao Curry Cabral.
Se Marcelo adormeceu nos braços de Morfeu na popularidade, Costa está nos píncaros. E se durante os fogos de Pedrógão lhe podem ser apontadas diversas falhas comunicacionais, agora tem mostrado que aprendeu com erros passados e se encontra ao leme da resolução da crise. Sobressaindo ainda mais o seu talento face à risível e hipocondríaca saída de cena desnorteada do Presidente da República.
O bom líder em crise consegue comunicar os desafios que tem pela frente, qual o rumo que seguirá para os ultrapassar, sem espalhar o medo na comunidade e Costa cumpriu estes requisitos. Acresce-se a necessidade de falar verdade, porém, explicando tudo mesmo que seja doloroso de ouvir e também o fez, sobretudo alertando para o risco de uma segunda vaga da pandemia.
Se o povo diz que mar calmo nunca fez bom marinheiro, prefiro recorrer ao general Colin Powell para reforçar a tese: «grandes líderes quase sempre são simplificadores, que conseguem passar por discussões, debates, dúvidas, para oferecer uma solução que todos possam entender». E neste momento os portugueses compreendem os sinais e narrativa de São Bento. Para quem conhece a sua carreira, não é novidade que António Costa desde há décadas que tem uma inata capacidade de simplificar e não complicar bem afinada.
Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia
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