Apostar na proposta de valor para atrair talento em Portugal

  • Bruno Gouvêa
  • 27 Outubro 2023

Num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, desenvolver uma proposta de valor que seja consistente e atrativa para os colaboradores é determinante para as empresas.

Durante muitos anos, as entidades empregadoras estiveram em vantagem no que diz respeito à contratação de novos talentos, uma vez que a oferta existente no mercado era bastante inferior à procura. O valor salarial também era determinante na escolha da empresa. Entretanto, estas tendências inverteram-se nos últimos anos, já que a oferta passou a ser maior, especialmente com a pandemia, que trouxe a oportunidade de se optar por trabalho remoto, oferecendo uma maior flexibilidade a todos os níveis. Os candidatos passaram a valorizar aspetos não tangíveis, como a estabilidade, a progressão na carreira, o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, entre outros aspetos que vão muito além do salário.

Segundo o estudo “Total Compensation 2023”, divulgado recentemente pela consultora Mercer, mais de metade das empresas em Portugal têm dificuldade em reter talentos. E isso também se deve ao aumento do turnover voluntário, que supera níveis pré-pandémicos. Por isso, num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, desenvolver uma proposta de valor que seja consistente e atrativa para os colaboradores é determinante para as empresas, pois é essa proposta que vai permitir-lhes atrair e reter o tão necessário talento para a empresa.

Mas, em que é que consiste essa proposta de valor e porque é que é tem um papel tão importante na captação e retenção de talento? Esta é a proposta de valor que a empresa apresenta aos seus colaboradores e candidatos, alinhada com os valores globais da organização, e que contribui para que se sintam orgulhos e entusiasmados por aí trabalhar.

Existem alguns elementos-chave que a proposta de valor de uma empresa deve ter em conta, como o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional que é, hoje, determinante — pois cada vez mais os colaboradores dão importância a aspetos como a flexibilidade de horários –, a possibilidade de trabalhar remotamente, a progressão na carreira, bem como a formação e a estabilidade necessárias para evoluir dentro da empresa.

A existência de uma cultura diversa e inclusiva, um bom ambiente de trabalho, o espírito de equipa, entre outros, também são bastante valorizados pelos colaboradores.

Por isso, uma proposta de valor sólida, atrativa e diferenciadora é a resposta à questão “porque é que um candidato poderá optar por trabalhar em determinada empresa?”. A proposta de valor é, por isso, o principal alicerce da estratégia de employer branding de uma empresa, na medida em que contribui para melhorar a reputação da organização no mercado onde atua, contribuindo também para a redução da rotatividade. Captar e reter os melhores talentos, dando-lhes possibilidades de evolução e proporcionando-lhes boas experiências, ajudam-nos a aumentar a competitividade da empresa, a otimizar processos de recrutamento e também a construir uma cultura corporativa forte.

Outro estudo da Consultora Mercer, “Global Talent Trends 2022-2023”, afirma que são as organizações mais autênticas e humanas, promotoras de valores cívicos e que ofereçam espaço para um maior envolvimento direto dos colaboradores, que estarão em melhor condição para atrair e reter talento.

Para conseguirem ultrapassar este desafio é importante que as empresas consigam ajustar a sua estratégia ao nível de employer branding e, consequentemente da sua proposta de valor para os colaboradores, para serem bem-sucedidas na atração e retenção de talento.

Por isso, a criação de uma área de employee experience no departamento de Recursos Humanos também pode ajudar a empresa a definir o que realmente os colaboradores valorizam numa empresa, que os leve a optar por ficarem. O objetivo primordial desta área é “ouvir” os colaboradores para que a empresa possa colocar em prática as medidas necessárias para uma maior satisfação laboral e profissional, em equilíbrio com a vida pessoal. Isto demonstra o compromisso da empresa em querer escutar os seus colaboradores e agir com base no seu feedback. O bem-estar dos colaboradores deve ser o principal foco, desenvolvendo programas que promovam um estilo de vida saudável e equilibrado, quer a nível físico quer psicológico.

Neste sentido, a experiência dos colaboradores (ou employee experience) passou a ser mais valorizada em detrimento de outros benefícios mais tangíveis que as empresas costumavam oferecer.

No entanto, a aposta em remunerações competitivas, a oferta de seguro de saúde privado e flexibilidade de horários – a juntar a outros benefícios “fora da caixa” como a assistência psicológica, legal, ou fiscal permanente, apoio no alojamento caso o colaborador esteja deslocado, entre muitos outros, também acabam por ter peso na decisão de aceitar ou continuar a colaborar com a empresa.

Tudo isto contribui para a experiência do colaborador, a qual também determina a que vai ser proporcionada aos clientes da empresa para quem trabalham. Cada vez mais há o compromisso contínuo da empresa e das suas lideranças, em criar um ambiente de trabalho excecional e promover uma cultura organizacional de alta confiança e alto desempenho. Por isso, captar e reter os melhores talentos é, sem dúvida, um desafio.

Resumindo: ter uma proposta de valor aos colaboradores forte vai permitir que a sua organização se destaque no mercado de trabalho e que os colaboradores se sintam satisfeitos e motivados por trabalharem onde trabalham, proporcionando-lhes bons momentos e boas experiências. Isto ajuda a aumentar a competitividade da empresa, uma vez que as pessoas são o maior capital para o crescimento do negócio.

É importante que as empresas continuem a apostar e a investir em employer branding para estarem no top of mind daqueles que querem construir uma carreira com potencial de evolução e para que possam atrair os melhores profissionais, pessoas empreendedoras que colocam toda a sua energia e profissionalismo ao serviço dos clientes. Ser uma referência de excelência, quer no setor onde se atua, quer como empregador, só é possível através de uma relação win-win duradoura entre a empresa, os colaboradores e os clientes.

  • Bruno Gouvêa
  • Diretor de recursos humanos da Foundever Portugal e Itália

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