As organizações e a criatividade: um aeroporto entre o pré e pós Covid-19
Uma nova revolução digital poderá traduzir-se numa mudança de paradigma. Se antes perguntávamos “será que podemos fazê-lo online?”, agora perguntamos “será que temos mesmos de nos deslocar?"
Nesta fase de grandes incertezas em que vivemos, pelo menos uma coisa é certa: raramente tivemos um prato tão cheio de mudanças. Parece que estamos num momento irreal, um não-lugar, um aeroporto entre o pré e o pós Covid-19. Sabemos de onde vimos, vamos aceitando onde estamos, mas não sabemos ao certo para onde vamos. É um momento particular na história, com muitos desafios, mas também oportunidades.
Entretanto, estamos a passar por uma nova revolução digital, forçada, que se poderá traduzir numa mudança de paradigma. Se antes perguntávamos “será que podemos fazê-lo online?”, agora perguntamos “será que temos mesmo de nos deslocar?”. Na origem, este pensamento não é meu, mas adotei-o, porque acredito nele e reconheço-lhe o impacto que poderá ter em várias dimensões.
No contexto das organizações, multiplicam-se artigos facilmente relacionáveis com esta ideia, tais como os que apontam que o teletrabalho veio para ficar e, também por isso, os que questionam como poderão as organizações repensar os seus espaços físicos. E estas não são apenas sistemas compostos por espaços físicos e digitais, fluxos de produtos e serviços. No centro da sua existência têm as pessoas, pelo que qualquer exercício de exploração de cenários deve considerá-las. Nesse sentido, encontram-se também já artigos que se debruçam sobre boas práticas para organizações em “desmaterialização”. Abordam-se questões distintas, nomeadamente: como se alimenta a criatividade neste “novo normal”?
E a criatividade foi e será uma das dimensões mais importantes da nossa existência e evolução. Pelo menos enquanto a inteligência artificial não ultrapassar o seu criador neste aspeto, é urgente garantir espaço e processos que alimentem o exercício da criatividade, porque no contexto das organizações, esta é, a prazo, sinónimo de sobrevivência.
Por força da saúde pública, a dimensão interna das organizações está na sua maioria a teste e, em muitos casos, fragilizada por estar deslocalizada. Se há meses ainda se trabalhava para quebrar silos organizacionais, os desafios que se levantam agora parecem mais radicais por via do isolamento massivo que, sem a devida atenção, poderá resultar na criação de tantos silos quanto o número de pessoas de uma determinada organização.
Mas este momento que atravessamos, precisamente por ser extremo, tem sido também descrito como um acelerador de tendências. A atitude certa será a de atenção aos sinais e abertura às mudanças, não desinvestindo na criatividade, sob pena de só nos virmos a deparar com problemas sem conseguir identificar e aproveitar as oportunidades.
E esta é uma necessidade transversal a todas as indústrias, incluindo a “minha”, que é precisamente a indústria criativa. Já passámos por outros momentos transformadores, como foi o caso da crise financeira que nos atropelou em 2012. Mas, também, foi por força desse momento que acelerámos o desenvolvimento de uma metodologia de cocriação e nos clarificámos quanto ao nosso propósito: levar criatividade para todas as organizações e indivíduos através da colaboração. Hoje, mantemos a mesma atitude e abertura para a mudança. A nossa e a dos outros. Afinal, estamos todos a atravessar um momento histórico global. Estamos no tal não-lugar, o aeroporto entre o pré e o pós Covid-19. E não sei quanto a vocês, mas eu sempre gostei de viajar.
* Pedro Alegria é founder & Innovation Ideator na TORKE CC, Professor convidado no IADE-EU e Universidade Católica Portuguesa.
**Este texto faz parte de uma parceria entre o ECO e o IES que integra artigos de opinião que ajudem dar visibilidade ao empreendedorismo social através de diversos empreendedores sociais, geridos pelo IES, dado o seu trabalho e experiência nesta área.
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