As respostas do setor segurador aos riscos globais e climáticos
Helena Chaves Anjos está atenta às respostas que o setor segurador está a dar e a preparar face aos novos contornos dos riscos globais e climáticos. E indica os caminhos que estão a seguir.
O setor segurador enfrenta desafios crescentes associados a riscos globais emergentes, num contexto de fragmentação geopolítica, crises ambientais e transformações tecnológicas. O relatório mais recente do Fórum Económico Mundial, Global Risks Report 2025, destaca conflitos armados, desinformação e eventos climáticos extremos como principais ameaças de curto e médio prazo, enquanto riscos de longo prazo, como perda de biodiversidade e falhas na ação climática, reforçam a urgência de ações coordenadas.
No setor segurador, a avaliação do impacto das alterações climáticas e a integração de métricas de resiliência nas estratégias a prazo são prioritárias.
Riscos Climáticos e Geopolíticos
Em 2024, as temperaturas globais registaram um aumento de 1,54.°C acima dos níveis pré-industriais, tornando se o ano mais quente da história contemporânea. Este marco alarmante evidencia a gravidade da crise climática e os desafios imediatos que se colocam ao setor, particularmente na necessidade de integrar riscos ambientais na sua gestão de riscos e governação das empresas de seguros e demais instituições financeiras, bem como das empresas industriais.
No curto prazo, os conflitos armados entre Estados são considerados o risco global mais urgente para 2025, de acordo com principal preocupação identificada por 25% dos inquiridos. Simultaneamente, o risco de desinformação continua a minar a coesão social e a confiança nas instituições, permanecendo uma das principais ameaças de curto prazo. No horizonte de longo prazo, os riscos ambientais como eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade e colapso de ecossistemas destacam-se como as preocupações mais críticas, sublinhando a necessidade urgente de respostas coordenadas e eficazes pelos vários atores económicos.
Principais Riscos Globais:
- Risco crescente de fragmentação nas esferas geopolítica, ambiental, social, económica e tecnológica;
- Risco de conflitos armados é identificado como risco mais urgente e principal preocupação em 2025;
- Risco de desinformação é uma das ameaças de topo no curto prazo, ao nível social e dos governos;
- Eventos climáticos extremos são riscos significativos de curto e longo prazo, dado alterações climáticas;
- Ciber espionagem e risco cibernético são dos principais riscos a dois anos, face ao risco de segurança digital;
- Polarização social aparece como risco iminente, de acordo com tensões sociais e políticas à escala global;
- Riscos ambientais como perda de biodiversidade, colapso de ecossistemas e escassez de recursos;
- Impacto das tecnologias emergentes como riscos futuros associado à inteligência artificial e desinformação;
- Pessimismo crescente dado panorama de instabilidade global a dois anos e tempos de incerteza crescente;
- Necessidade de cooperação e urgência de esforços coordenados para promover a resiliência global.
Ao nível Europeu, e em particular, em Portugal, sobressaem os riscos socioeconómicos decorrentes das pressões migratórias e crescimento potencial de custos sociais associados, nomeadamente, no que respeita ao aumento da dívida pública nos países Europeus, atualmente com défices excessivos, nas economias mais avançadas, como França ou Alemanha, com crescimento contudo moderado e níveis de inflação contida em trajetória descendente.
No longo prazo, é de salientar que os principais riscos identificados estão diretamente relacionados com o clima, desde fenómenos meteorológicos extremos, perda de biodiversidade, alterações críticas nos sistemas terrestres e escassez de recursos naturais.
No longo prazo, é de salientar que os principais riscos identificados estão diretamente relacionados com o clima, desde fenómenos meteorológicos extremos, perda de biodiversidade, alterações críticas nos sistemas terrestres e escassez de recursos naturais. Estes desafios reforçam a necessidade de ações coordenadas e estratégias de adaptação para mitigar impactos climáticos e promover a resiliência do setor segurador.
O relatório adicional deste fórum, “Navigating Global Financial System Fragmentation”, analisa os desafios e riscos associados à fragmentação crescente do sistema financeiro global, destacando a importância da cooperação internacional para assegurar estabilidade e resiliência económicas num cenário marcado por tensões geopolíticas e mudanças estruturais.
Neste contexto, a de-globalização, impulsionada por tensões comerciais e pelo nacionalismo económico, ameaça encarecer o custo do capital e comprometer maior competitividade. Para mitigar estas vulnerabilidades e preservar a estabilidade dos mercados financeiros, o relatório sublinha a urgência de políticas coordenadas e de uma harmonização regulatória eficaz.
O relatório complementar do mesmo fórum, elaborado em parceria com um grupo segurador internacional, “Insuring Against Extreme Heat: Navigating Risks in a Warming World“, identifica o calor extremo como o risco climático mais letal e dispendioso. Responsável por 489.000 mortes anuais, um fenómeno que supera os impactos combinados de inundações, furacões, terramotos e incêndios florestais. Além disso, as projeções apontam para perdas anuais de 2,4 biliões de dólares em produtividade e 445 mil milhões de dólares em ativos fixos de empresas cotadas até 2035, sublinhando a urgência de estratégias robustas para mitigar os seus efeitos devastadores.
Por fim, no encerramento do Fórum Económico Mundial 2025, em Davos, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, alertava para divisões geopolíticas, desigualdades crescentes e crise climática, destacando que “indústrias e instituições financeiras que recuam nos compromissos climáticos estão do lado errado da história e da ciência”.
Por seu turno, na Europa, o Serviço de Investigação do Parlamento Europeu (EPRS) publicava, na passada semana, o seu relatório “Ten Issues to Watch in 2025”, com destaque para os principais desafios e oportunidades a definir o panorama político, económico e social da União Europeia ao longo do próximo ano:
- Equilibrar escala com inovação para produtividade em 2025;
- Definir a meta climática da União Europeia para 2040;
- Avançar na segurança económica no novo contexto global;
- Reforçar a capacidade de investimento estratégico no futuro;
- Moldar as futuras finanças da União Europeia em 2025;
- Preparar a acelerar a adoção de veículos elétricos europeus;
- Fortalecer a competitividade europeia em inteligência artificial;
- Reforçar a indústria de defesa europeia e a sua integração;
- Acelerar o retorno de migrantes irregulares, com soluções eficientes;
- Restaurar a confiança na esfera pública via iniciativas democráticas.
Impactos da Emergência Climática para o Setor Segurador
Ao nível global e Europeu a emergência climática mantém-se uma das principais preocupações na próxima década. Os fenómenos meteorológicos extremos, intensificados pelo aquecimento global, destacam-se no topo dos riscos, com o aquecimento global a atingir o recorde de 1,54 °C acima da média pré-industrial em 2024.
De acordo com o relatório do programa Copernicus e o Boletim Anual do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), de Janeiro 2025, o ano de 2024 terá sido o ano mais quente desde o período pré-industrial, com os recentes impactos dos incêndios devastadores, Los Angeles, Janeiro 2025, e os desastres naturais agravados pelas alterações climáticas.
- Globalmente, o ano de 2024 foi o ano mais quente desde 1850, com a temperatura média global em 1,54ºC superando pela primeira vez 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, do limite do Acordo de Paris;
- Na Europa, 2024 foi o ano mais quente já registado, com uma temperatura média de 10.69°C ou seja +0.28°C superior ao ano mais quente anterior, registado no ano de 2020;
- Em Portugal, o ano de 2024, foi um ano muito quente e seco, em Portugal Continental, sendo o quarto mais quente desde 1931, com uma temperatura média de 16,49°C. Em Portugal Continental, além das temperaturas elevadas, registaram-se 64 novos extremos de temperatura máxima e 177 de temperatura mínima, juntamente com oito ondas de calor. O total de precipitação anual foi o 14º mais baixo desde 2000, com períodos de seca meteorológica fraca a moderada entre maio e setembro e em dezembro.
Recentemente, o novo relatório de uma corretora internacional apontava para um valor médio anual de perdas seguradas provocadas por catástrofes naturais de 146 mil milhões de dólares, entre 2017 e 2024, prevendo um “novo normal” para perdas anuais a rondar os 143 mil milhões de euros, como noticiado pelo ECO Seguros, dia 26 Janeiro.
Prioridades de Governação e Supervisão de Riscos
No que respeita do setor segurador nacional, o plano de atividades do supervisor para o ano de 2025 salienta a necessidade de supervisão prudencial, comportamental e macro prudencial integrada para mitigar riscos emergentes e promover a sustentabilidade financeira. Destacando a redução do protection gap, especialmente decorrente de catástrofes naturais, e a integração de fatores de sustentabilidade nas políticas de subscrição e de investimento das seguradoras. Na Europa, o supervisor de seguros, no seu programa único estratégico, para 2025-2027, reforça a harmonização das práticas de supervisão na União Europeia, com foco na resiliência climática e operacional e na estabilidade financeira.
Em conclusão, é imperativo adotar uma supervisão integrada e práticas robustas de governação para reforçar a resiliência climática do setor segurador. Além disso, é crucial promover uma colaboração mais estreita entre reguladores e o mercado para abordar novos riscos globais. Tais iniciativas requerem uma coordenação eficaz entre supervisores, seguradoras e reguladores, garantindo a estabilidade e a sustentabilidade financeira, promovendo um setor segurador mais preparado para enfrentar os desafios globais do mercado e as responsabilidades por novos riscos geoeconómicos e climáticos.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
As respostas do setor segurador aos riscos globais e climáticos
{{ noCommentsLabel }}